primeiro encontro
atravessando esse tempo de avalanches onde cada passo é um lampejo e um relampo no corpo. daqueles que o corpo já bambo quase cai, quase desaba, quase quebra. eu preciso me perguntar o que estou procurando entender. daí inicio. não tem como saber do passo seguinte, pois também procuro entender o ciclo da borboleta. disseram que escrever é um passo pra estar mais próximo de si, de olhar pra si e ver o semblante transparente, poroso, venoso, cardíaco e sombroso. o que me trás até aqui é o assombro que caminha de mãos dadas comigo. vejo o corpo igual e feito da mesma matéria humana a deriva a navegar num mar ás vezes calma e outros revolto. quando revolto o cachorro que habita em mim pede colo e eu dou. faço carinho até a tremedeira do corpo se acalmar com o novo respiro nos pulmões. e eu repito internamente: vai ficar tudo bem. são só tiros. jogos de artificio. fiquei sabendo que tem um pais desses de primeiro mundo que fogos de artifício são feitos sem barulho para que os cachorros não tenham medo. acho muito pertinente ao coração dos cachorros. nesse exato momento tem uma cadela tremendo em minhas pernas. eu passo a mão em seus medos na tentativa de acalma-lá. isso me faz lembrar das minhas noites de medo e paralisia do corpo. quando algo metafisico me toma pelo invisível e me faz física toda de medo. por minutos transformados em horas sou tomada pelo peso do medo, até que aos poucos o medo que chegou sem avisar parta me deixando cansada derramada na cama e com o coração saindo pela boca seca. dai o batimentos vão ficando cada vez mais naturais, lentos e calmos. ás vezes volto a dormir. outras demoro na cama vasculhando cada território que a cama pode me oferecer até que não se tenha chão para pisar. nessas horas prefiro já ter pego no sono.
outro paragrafo. e eu achando que iria começar pela borboleta nova que entrou pelo meu quarto ontem novamente. ano passado foi a mesma borboleta que estava de passagem. talvez seja ela a reencarnação da anterior. fiz umas pesquisas e descobri que se trata de uma mariposa que assim como as borboletas representam mudanças e a morte para o risco. o novo. uma amiga me perguntou qual era meu animal de poder e não soube responder. daí descobri que o animal de poder é que te escolhe. pela recorrência dos fatos e das mortes a mariposa me escolheu. a cada fim de ano e isso não é conto de fadas uma mariposa preta entra na minha casa. ela sedenta por luz morre de paixão para que o novo corpo renasça. daí começo a entender das mortes que passo a cada ciclo de avalanches. a mariposa que entrou pela minha janela e passou a noite comigo me trouxe a morte. hoje sou outra.