Brasília anda seca e os ipês amarelos florescem. É sol que queima a alma da mais profunda raiz. Seca a boca queima a pele. Sede. Umidade. Planalto. A cidade dos monumentos anda craquelada com sons do cerrado. Hoje, vi uma barriguda formosa com olhos grandes, caules imensos e folhas secas, rainha da quadra 410 norte.
Descobri que nessa quadra uma velhinha anda botando veneno nas paineiras. O que se passa nessa alma anciã? Cadê a sabedoria da idade? Matar as paineiras que fazem um falso inverno em mim. Ela acorda às seis da manhã pra botar veneno nas paineiras. A vizinhança indignada está na espreita da Cruela Devil da quadra 410 norte acordando mais cedo pra pega-la na boca da botija.
Brasília é um lugar curioso. Dizem que é uma cidade do distanciamento e da solidão. Feita de concreto, idealizada, arquitetada, planejada. Seus flamboyants, ipês, paineiras, cagaitas não são feitAs de concreto e distanciamento. Basta ver um ipê amarelo pro mais duro dos corações se encantar com a formosura do cerrado. Falando em cerrado dia 11 de setembro foi dia dele. Saudemos com louvor a nossa savana, saudemos também Ary Pára-Raios defensor do cerrado, do teatro de rua.
Chega o fim do dia minha pele tá mais seca que ontem, minha boca arde feito pimenta malagueta. Na lembrança do dia guardo na memória o ipê amarelo no eixão, a barriguda rainha e história bizarra na 410 norte. A seca que Brasília produz é amarelo ipê. Mesmo detestando o sol de rachar a pele fico feliz por poder ver tanta vida nessa seca doida. Meus olhos agradecem o amarelo que me faz esquecer a seca.
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