Domingo cinzento de uma data sem importância. Fevereiro parecia um clarão em sua memória. Ela sabia o porquê de tamanha inquietação. Fevereiro lhe causa uma saudade jamais sentida.
Como de costume acordou cedo. Ouviu suas canções favoritas como se fosse um disco arranhado. Arrumou com detalhes sua cama velha. Olhou-se no espelho e viu o que uma vida podia causar em uma pessoa. Não quis pensar muito, enfiou seu rosto na pia cheia d’água. Queria por instante não pensar em nada que lhe causasse desconforto matinal.
Em detalhes pequenos ela tinha olhos pretos como jabuticabas. Um sorriso largo com lábios tão vermelhos que parecia passar batom todos os dias. Seu cabelo curto lhe causa uma estranha beleza. Falo de uma estranha beleza que aos meus olhos é mais bonito do que uma beleza comum. Suas mãos eram pequenas e desajeitadas. Não tinha domínio do que segurava em suas pequenas mãos. Nos seu lábio inferior podia se avistar uma pequena pinta. Só podia ser vista de perto.
Morava numa casa pequena a sombra de uma árvore grande. Sua casa era um labirinto onde escondia seus mistérios. Ela gostava de uma solidão de ilha. Nas suas noites, sempre em companhia de uma música, comia o silêncio e escrevi uns versos. Quando criança sonhava em ser escritora. Mas todos os versos soltos que escrevi rasgava com nenhum sentimento de culpa. Ela era ao oposto do que se espera. Habitava um mundo paralelo.
Antes de continua essa história, se é que isso vai se tornar uma, advirto que não levarei a serio essa escrita absurda. Falo porque não estou levando isso com uma responsabilidade digna. Não me responsabilizo pelo risco do que está sendo escrito aqui. Pensei em começar contando sobre uma personagem, como fiz, mas estou achando um saco e muito precário. Inventar uma história do nada, um texto que talvez seja batido. Não sei se vou continuar inventando essa menina de lábios vermelhos. Talvez nas próximas linhas eu mude na tentativa de lhe dar uma vida mais agitada ou outra coisa mais interessante. Tudo aqui é precário e sem intenção. Um ensaio monótono. Dado essas notas, ainda advirto, que as próximas linhas que se seguirão, desse surto, não serão de modo algum arquitetado, planejado. Se algum dia alguém ler isso a culpa não será minha.
Pensando nessa menina não quero que ela se chame (...). Ainda não sei se quero esse nome, por motivo que não preciso escrever aqui, e que não terá a mínima relevância nesse momento. Vou começar de novo.
Seus dias de trabalho eram como uma morte diária – talvez ela seja funcionária pública de merda, vou pensar nessa possibilidade...
Ler era sua urgência diária. No trem lotado lia seus livros. Bebia Clarice Lispector em viagens metropolitanas. Não sentia vertigem, com o tempo adquiriu uma técnica de leitura para metros, ônibus, até para carros. Ganhava experiência em eixos.
Foi no metro que conheceu Virginia Woolf. Umas das suas escritoras preferidas. Nos intervalos do almoço do trabalho ela comia contos, versos, poemas de Vinicius de Moraes.
Sinto informar que não sou uma escritora. Isso é absurdo. Não estou aqui para desenvolver nada. Não tenho compromisso.
Eu estou sentindo que devo mudar essa história enquanto tenho tempo. Os primeiros parágrafos são mais interessantes, eu acho, tirando os que eu apareço justificando a minha incapacidade. Queria desenvolver melhor essa ideia de beleza estranha. Não sei por que estou fazendo isso.
Eu estou sentindo que devo mudar essa história enquanto tenho tempo. Os primeiros parágrafos são mais interessantes, eu acho, tirando os que eu apareço justificando a minha incapacidade. Queria desenvolver melhor essa ideia de beleza estranha. Não sei por que estou fazendo isso.
Escrevendo eu posso ser maior do que sou. Ela que ainda não tem nome, identidade, história, pode ser maior do que eu. Vamos lá em mais uma tentativa esquizofrênica.
Ela olhava uma noite enluarada de um dia qualquer “sem importância” e pensava silenciosamente – quando olho pela janela do meu quarto eu vejo um retrato perdido...
É melhor eu parar por aqui em quanto possuo dignidade e sanidade...
Lindo post. A escrita polida apesar de começar com esse personagem sem "eu", que facilita uum pouco as coisas (atualmente). O lance da construção da identidade que passa pelo físico e alcança o intelectual - ótimo! A discussão "meta" e o aviso de até onde vai sua responsabilidade enquanto escrevia isso é tão boa para o impacto do texto quanto o desenvolvimento do personagem.
ResponderExcluirTirando o antepenultimo parágrafo que tem um final clichê (mas tipo, quem não curte um afinal?), é um lindo texto.