quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

2.3


primeira vez que começo um texto com título. 2.3 pra quem não imaginava chegar nessa idade. não. eu não achava que morreria antes de chegar na década dos vinte. só achava distante se tornar uma mulher com peitos fartos, se bem, que sempre tive peitos grandes. que me causavam um certo desconforto na infância. eu era a única que tinha peito grandes na escola. isso me roía a alma de ódio. hoje nem me importo mais, joguei muitos pensamentos no lixo. daqui a pouco terei mais um somado aos 2.2 que já possuo. ás vezes penso que não mudei nada, outras nem me reconheço. mas basta eu me olhar no espelho, sou eu. não me trocaram na vida. o cabelo não é mais o mesmo, o rosto não é mais tão redondo, já não enxergo tão bem, a barriga cresceu levemente, mas sou. aprendi ser gente que vive na selva. e eu, morria de medo de gente. ainda morro, mas mato um leão por dia. a vaca da tristeza me chega do mesmo jeito como na infância. ela chega sem motivo, faz algazarra, e vai embora sem deixar uma resposta do seu porque. eu ainda não sei o motivo de muitas coisas, mas certas coisas parecem mais fáceis agora. ás vezes a tristeza chega sem motivo, e ponto. e só um choro resolve. não há motivos astronômicos. ela chega e passa com a cara mais deslavada que existe... ai, me rôo o estômago quando alguém me pergunta quantos anos eu tenho. tenho a idade que tenho, mas não me caibo nela. sempre me achei velha. eu queria ter nascido na década de 90. as poucas amigas da minha infância tinham nascido nessa década. achava que seria mais jovem se tivesse nascido nesse ano. quantos pensamentos bobos eu tinha, ou não. não vou me julgar pelos pensamentos da infância. se não quando eu chegar na menopausa serei má comigo. não quero me julgar por pensamentos do passado. uma coisa nunca mudou. a solidão. sou muito lésbica mesmo, vou ter que me namorar pra dá um pé na bunda da solidão. qual é, eu me amo. chega de solidão. tenho fases de me encantar comigo, e me querer por debaixo da blusa solta. tenho que agradecer o universo. muitas coisas boas me aconteceram, apesar do dobro a mais de coisas ruins. nessa altura da escrita e nem me lembro mais o que iria dizer, mas tô bem aqui. hoje conversando como minha tia, ela me disse que meu sonho era ser escritora. não fiz nada pra isso acontecer, e hoje sou atriz. primeira vez que digo que sou atriz. e sou mesmo, quem vai dizer que não, vá me ver nos palcos e jogue um tomate na minha cara se não gostar. sou atriz e já fiz umas das melhores atriz que conheço chorar com uma apresentação minha. chorei ao saber. quer saber, sou grata ao universo pelo que tenho. braços, pernas, olhos míopes, cabelos encaracolados, uma cama quebrada, um violão sem cordas... eu não me rendo ao funcionalismo público como minha tia quer. ou talvez sim, eu preciso de dinheiro pra sair de casa. se tornar uma mulher de 2.3 com autonomia e dinheiro no bolso pra bancar os sonhos que tem. e tanto faz, pode me chegar mais idades. tenho tendência a não desistir de mim. 

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