um lenço verde sobre a grama
uma menina passou correndo com um ratinho na mão
outra passa toda colorida com um cachecol vermelho
do meu lado o lago e o por do sol laranja
e o silêncio da tarde cinza que é Brasília
na ponte de concreto passos largos de pessoas distantes
sábado sisudo varreu meu entardecer
cultivei alguns silêncios cinzas
até aparecer balões e um sapo
uma menina sem nome passou e plantou o mesmo sapo numa árvore
que parecia chegar nas nuvens dos seus olhos
outra moça morena fotografava e escondia o tempo no seu bolso
seu nome era Júlia
ela não disse, mas eu suspeitei
e tão delicada que era me emprestou sua máquina captadora de tempo
no lenço verde sobre a grama
enquadrei uma moça rosa que esperava sorridente
a moça que havia corrido com seu ratinho
o sol cansou-se da tarde e foi embora para outro pais
não deixou remetente, não disse adeus
mas deixou um amor flutuando no lago
era um balão amarelo que flutuava sobre água serena
depois apareceu outro balão rosa claro
e outros de outras tantas cores
que cabiam dentro dos meus olhos
e enfim a noite me acolheu