sábado, 16 de novembro de 2013

"Acabou-se que nada se coube em nada. Esse amor pisou tão mundo em mim e a mulher mais bonita da cidade nem sequer pensa nisso. De certo, sabe apenas que houve uma pessoa pequena em quem ela, delicadamente, tropeçou e por quem ela, como fazem os mais moços, se apaixonou leve e velozmente. De certo foi apenas isso. Coisas leves são facilmente levadas, dizem. Ela seguiu se levando e eu, pisada tão mundo pelo amor dessa mulher, consegui pouco me mover. Fiquei ali, pisada, pesada, assistindo a dança dela, ouvindo o canto nela, mas escondida no meu canto e dançando apenas dentro. Que amor egoísta é esse o meu. Se diz grande mas sequer sai de mim. Eis a razão pela qual sufoco tanto, me engasgo tanto e me mexo tão pouco. Acho que se autorizasse a liberdade do que guardo comigo, eu seria a mais temida bomba da cidade. Me pergunto se haveria quem dançasse comigo, haveria de ser alguém grande demais. Talvez a mulher mais bonita da cidade seja grande demais. Talvez ela conseguisse valsa das explosões que me fugiriam. Talvez ela conseguisse, com beijos e cafunés, me manter rente ao mundo. Mas confesso que tenho medo demais pra deixar que fujam minhas explosões. Talvez guarde comigo e pra sempre meu amor tão grande. Não, isso não é medo de ser feliz. É medo de ser tão feliz que viver não me bastaria, que amar não me bastaria, que dançar não me bastaria e eu acabaria em destroços, de algum jeito, eu me acabaria em destroços, certamente. É uma imagem exagerada, mas você não tem ideia alguma da quantidade de amor que guardo por essa mulher mais bonita da cidade. Ele cabe numa guerra e, em pelos menos, três canções."


ana larousse

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