quinta-feira, 13 de novembro de 2014

"Escrevo-te com a veia aberta pulsando larga, dessa raridade que tu mesmo tem, do horizonte aberto, dessa palpitez do instante, o sufoco que desemboca no riso. A realidade do cérebro atualizada diariamente sem ter porque, burla-nos , se distrai, solidifica, comporta, realiza os repetidos enredos. Que o corpo da agora não pense na impossibilidade, que o corpo não pense, que o corpo se vá distraidamente no sendo. Se a natureza comporta essas dicas hospitalares, essa assepsia virtuosa da sobrevida, essas engrenagens que perfuram os tantos lugares de conquistas, não te baste sólido, nem muitos menos indigesto, crie na largura que existe e insiste, a entrega. E não é um pedido de morte, nem muitos menos um subterfugio da caridade momentânea e do egoísmo do sofrer. Requebra no tecido que se tem a curvatura monumental de uma nova articulação. Noturnas são as teias das entregas, o desgaste vem daquele que insiste no mesmo, é de vida que se tem- e muita- para poder morrer. Dedilho com os dedos do presente, o presente que me deu outrora. Berro de mundo que não quero, arranhando a garganta em desespero, de nada adianta, mas um canto ainda te mando em exagero. A confusão em desord.em, os cumes de apego, é de uma outra extratosfera a correspondecia cognitiva, é de um outro sentido a virtuosidade da razão. Frágil, obviamente, desconhecidos de um sistema espetacular de galáxias e sinapses em órbita do delírio. Ontem vi o encontro de duas galáxias, falo aqui em encontro porque é colisão. Ninguém se aproxima distraído, pacato e complacente, a beleza embrionária do choque cria a natureza necessária da tensão. Como dois rabos gigantes, recurvando-se sobre si mesmo, aderindo-se em espiraloso contato, convergendo a gravidade em dissipação. As galáxias, tão vagas para a nossa numerológica precisão, desatinam-se inteiras, curvam-se, recobrem-se para haver movimento, se saudam em explosão. Desse existir pleno e jogado, arremessado naquele teu largo horizonte, recoberto de nuvens, remexido inteiro em poeira, aberto ao todo momentâneo, carregamos a galáxia inteira e não notamos. E nessa suspensão dormente que, de maneira ou de outra, me encharcaria os olhos, relevo a condição necessária da vida, tão bem saudada, disposta, tratada como o inquilino sobrevivente, do avanço do verme cientifico, da cara disposta em normalidade de enredo. Sabemos que ter uma vida é diferente de se-la no infinito universo em que possa .Cria, cria com o sistema abatido, com a fragilidade exposta, no meio dessa tonalidade imposta, a obra última de partida. O medo desse ato é medo de viver, e pensamos: mas do que nos importa a vida!"

carta da carol barreiro para o vô.

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