sábado, 11 de agosto de 2018

Aprender a te deixar ir é morrer um tanto por dentro. A seca na sua glória de transmutação. A poeira que alça vôos sobre meus olhos de lágrimas e esperança. Será que terei que matar a Dona Esperança? A vida é muito perigosa. Ela dança sobre as águas. Ou você acredita ou você morre afogada por não ter tentado fazer o seu melhor. Eu não vou desistir de mim. Do silêncio que chega eu solto os pontos da ferida. Daqui a pouco terei uma bela cicatriz para contar histórias de que eu vivi intensamente, que lutei por ti com todas as forças do amor que habita em mim. Logo mais as chuvas varreram todas as poeiras sobre meu corpo. Meus olhos já estarão submersos em outras águas mais cristalinas. E de certo já não serei a mesma.

Quem estou sendo? A morte se faz presente. Já não sou a mesma. E é preciso acolher todas as minhas dores e sombras. Deixá-las partirem com responsabilidade, fluir. Fluir vento que vai sem culpas.  Plantar sementes novas que brotam com águas que chegam. Porque já não sou mais a mesma de ontem. Hoje sou o agora. Um pouco mais leve. Entendendo a morte necessária para que a vida ganhe outros sorrisos em mim. Me vejo lúcida agora. Eterno transmutar de mim. Um doce agosto de deixar ir. Chove em mim.

domingo, 5 de agosto de 2018


... E eis que depois de uma tarde de quem sou eu E de acordar a uma hora da madrugada em desespero Eis que as três horas da madrugada, acordei e me encontrei Fui ao encontro de mim, calma, alegre, plenitude sem fulminação Simplesmente eu sou eu, e você é você É lindo, é vasto, vai durar Eu não sei muito bem o que vou fazer em seguida Mas, por enquanto, olha pra mim e me ama Não, tu olhas pra ti e te amas É o que está certo ...

autora: clarice lispector