terça-feira, 27 de abril de 2010
segunda-feira, 26 de abril de 2010
C.L
domingo, 25 de abril de 2010
Alice
Hoje, acordei umas das mil mulheres que há em mim!
Seu Braz
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Posso até olhar pela janela e recitar "une petit chanson"
Tiê
Esquadrão da vida apresenta O filhote do filhote de elefante
Já estão marcadas 40 apresentações nas ruas da cidade a nova peça do Esquadrão da vida. Desde que conheci o grupo em 2007 fui a praticamente todas as apresentações. Não perco uma. Como diz Maira: - Será que você vai agüentar ir a todas 40 apresentações? A vontade é de ir a todas. E confesso que vai ser tentador não ir, mas espero conseguir ver grande parte.
A peça é nova, uma adaptação, feita por Ary Pára-Raios, a partir de um texto de Bertolt Brecht. “Vai chamar O filhote do filhote de elefante, na verdade um trecho de Um homem é um homem, que fala do teatro, da arte e do artista. Uma oportunidade para refletir sobre nossas vivências, opções e ideais”, esclarece Maíra Oliveira.
Começa nessa quarta se não me engano na Praça Ary Pára-Raios no Conic. Maira me falou à hora do espetáculo, mas como estava tão eufórica, pois tinha acabado de assistir mais uma apresentação do grupo acabei esquecendo. Irei me informar direito e coloco o serviço do espetáculo aqui no blog.
Acorda, Maria Bonita
Acorda Maria Bonita / Levanta vai fazer o café
Que o dia já vem raiando / E a polícia já está de pé
Se eu soubesse que chorando / Empato a tua viagem
Meus olhos eram dois rios / Que não te davam passagem
Cabelos pretos anelados / Olhos castanhos delicados
Quem não ama a cor morena / Morre cego e não vê nada
quinta-feira, 22 de abril de 2010
Frejat
"Eu procuro um amor que ainda não encontrei diferente de todos que amei... Nos seus olhos quero descobrir uma razão para viver e as feridas dessa vida eu quero esquecer... Pode ser que eu a encontre numa fila de cinema numa esquina, ou numa mesa de bar... Procuro um amor que seja bom prá mim vou procurar eu vou até o fim... E eu vou tratá-la bem prá que ela não tenha medo quando começar a conhecer os meus segredos... Eu procuro um amor
uma razão para viver e as feridas dessa vida eu quero esquecer... Pode ser que eu gagueje
sem saber o que falar, mas eu disfarço e não saio sem ela de lá... Procuro um amor que seja bom prá mim vou procurar eu vou até o fim... E eu vou tratá-la bem prá que ela não tenha medo quando começar a conhecer os meus segredos..."
C.L (minha alma irmã)
"No fundo sou sozinha. Há verdades que nem a Deus eu contei. E nem a mim mesma. Sou um segredo fechado a sete chaves. Por favor, me poupe. Estou tão só. Eu e meus rituais. O telefone não toca. Dói. Mas é Deus que me poupa."
C.F.A
quarta-feira, 21 de abril de 2010
O amor é isso
Ai, que desassossego. Ai, que desvontade...
Perdi o que nunca foi meu... Como lindo sonho ela apareceu pra mim. De repente com um susto carregaram meu presente, carregaram minha alegria das manhãs...
A última vez que a via seus cabelos estavam banhados em águas cristalinas. Cheiro bom de dia amanhecendo sol invadindo a fresta da minha janela. Não dei por mim e já estava em seus braços sentindo aquele frescor da manhã em seu corpo. E foi pouco tempo. Se é que existiu um tempo para nós...
O amor é isso tem cara de que? O amor é aquilo serve pra que? O amor é... Não sei. Ás vezes ele vem e passa. Outras ele vem e passa e deixa um pouco de tudo o que foi bom de tudo que foi ruim. Ás vezes é só paixão. Apaixonei-me pela Lua. O amor é paixão ele dá e passa? Muda de estação e vem outro bem querer...
A manhã já vem surgindo e quem sabe eu não me apaixono pelo sol de cada dia.
"Pouco tenho dimensão do simples, tudo é difícil. Não é fácil 'simples assim', Ou não, sei lá."
Roberto Cardoso
"É um cantinho do coração em que me tranco que me faz assim pequeno, assim fraco, assim simples... Bate uma vez o coração em poesia e eu soluço: "simples assim", lembrando de mim e do meu cantinho."
“Acho que nossas almas são parentes distantes” -
"Que sentido nós devemos fazer, minha alma irmã?
Lu diz:
é difícil sim
te entendo
de vez em quando tenho minhas crises
mas olha essa frase de do Caio Fernando;
Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim: que seja doce.
é assim que tem que ser: doce. Não importa se certo ou errado, fácil ou difícil.. mas que seja ao menos doce.
"...o bom mesmo é o céu parecendo oceano"
Anyone Else But You- Juno
Anyone Else But You | |
You're a part time lover and a full time friend | |
The monkey on you're back is the latest trend | |
I don't see what anyone can see, in anyone else | |
But you | |
I kiss you on the brain in the shadow of a train | |
I kiss you all starry eyed, my body's swinging from | |
side to side | |
I don't see what anyone can see, in anyone else | |
But you | |
Here is the church and here is the steeple | |
We sure are cute for two ugly people | |
I don't see what anyone can see, in anyone else | |
But you | |
The pebbles forgive me, the trees forgive me | |
So why can't, you forgive me? | |
I don't see what anyone can see, in anyone else | |
But you | |
I will find my nitch in your car | |
With my mp3 DVD rumple-packed guitar | |
I don't see what anyone can see, in anyone else | |
But you | |
Du du du du du du dudu | |
Du du du du du du dudu | |
Du du du du du du dudu du | |
Up up down down left right left right B A start | |
Just because we use cheats doesn't mean we're not | |
smart | |
I don't see what anyone can see, in anyone else | |
But you | |
You are always trying to keep it real | |
I'm in love with how you feel | |
I don't see what anyone can see, in anyone else | |
But you | |
We both have shiny happy fits of rage | |
I want more fans, you want more stage | |
I don't see what anyone can see, in anyone else | |
But you | |
Don Quijote was a steel driving man | |
My name is Adam I'm your biggest fan | |
I don't see what anyone can see, in anyone else | |
But you | |
Squinched up your face and did a dance | |
You shook a little turd out of the bottom of your | |
pants | |
I don't see what anyone can see, in anyone else | |
But you | |
Du du du du du du dudu | |
Du du du du du du dudu | |
Du du du du du du dudu du | |
But you |
terça-feira, 20 de abril de 2010
Clarice Lispector
domingo, 18 de abril de 2010
Dieguiano
"São Pedro deu trégua às nuvens, mas esqueceu de fechar a torneira de alguns olhos. Já se chorou mais em poucos dias do que a média de lágrimas prevista para o período."
"Viver é bom, mas precisa ser todo dia?"
"Tento disfarçar mas não dá: meu peito tá vazio. Ouço o coração chacoalhando, batendo nas costelas. Queria beber a Argentina inteira num trago de Quilmes! Joder!"
"Tá decidido: na dúvida da precisão de se viver, me jogo ao mar! Estando em Brasília, me jogo ao céu."
"Tento disfarçar mas não dá: meu peito tá vazio. Ouço o coração chacoalhando, batendo nas costelas. Queria beber a Argentina inteira num trago de Quilmes! Joder!"
(de Diego- Rivera)
EQV
O certo pra gente séria é nunca ficar parado na rua. Lugar de louco e vadio. Lugar de cadela no cio. Bichos de nervos de aço. Palhaço não é ministro, mas tem ministro palhaço. O parlamento tá cheio de paletó e gravata cabelo bem penteado sapato bem engraxado. Tem nobreza e tem espaço. Palhaço não é deputado, mas tem deputado palhaço. Mestres têm na escola que nos ensinam a contar. Tem mestre pra todo lado. Tem mestre pra quase tudo. Tem pós-graduação em abraço. Palhaço não é professor, mas tem professor palhaço. Glauber Rocha foi ao céu foi ao inferno com Dante virou o inferno ao avesso. Glauber, moleque travesso cineastra do cangaço. Palhaço nem sempre é artista. Artista nem sempre é palhaço. Cervantes foi Dom Quixote. Cervantes foi Sancho Pança foi autor foi personagem. Viajou no lombo de um jegue. Foi homem, não foi bagaço. Palhaço sem sempre é artista. Artista nem sempre é palhaço.
J' suis tombé amoureux
“... quando chegar à hora de sair com o vento vai ficar uma jubona com fios separados...”
“... exclui meu Orkut vei. Preciso eliminar tudo que é desnecessário que perde tempo mais que nos dá coisas. Tem coisas desnecessárias que perde tempo, mas que dá mais que o tempo perdido, Orkut não era uma delas.”
L.U. (A)
Clarice Lispector
sábado, 17 de abril de 2010
As Coisas
As coisas têm peso, massa, volume, tamanho, tempo, forma, cor, posição, textura, du-ração, densidade, cheiro, valor, consistência, pro-fundi-dade, contorno, temperatura, função, aparência, preço, des-tino, idade, sentido. As coisas não têm paz.
Vale muita pena assistir esse espetaculo que fala de muitas "coisas". "- A língua nasce do cérebro..." "Como chama o nome disso?"
As Coisas é um espetáculo que mistura teatro de animação, música e artes visuais. No palco, coisas, coisas, muitas coisas. Uma divertida banda de rock, uma boneca falante e uma professorinha nariguda apresentam poemas de Arnaldo Antunes, musicados, narrados e encenados com o suporte de diferentes técnicas de animação, pela Cia Teatro Portátil. Direção Alexandre Boccanera, figurino Ronaldo Fraga, iluminação Aurélio de Simoni, cenário Aurora dos Campos, com os atores Flávia Reis, Julia Schaeffer e Guilherme Miranda.
SERVIÇO
Data: 16 de abril a 2 de maio Horário: Sextas, às 16h | Sábados e domingos, às 16h e 18h (domingo, dia 25, às 15h e 16h30) Local: Teatro I | SCES, Trecho 2, lote 22 Bilheteria/Informações: Terça a domingo, das 9h às 21h | Telefone: (61) 3310-7087 Ingressos: R$ 15 (inteira) | R$ 7,50 (meia entrada para estudantes, professores, funcionários e correntistas do Banco do Brasil e maiores de 60 anos) Classificação indicativa: livre Duração: 50 min.
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Música antes de dormir- Chá verde
Supressão de ruídos
Apreciar o silêncio não é fácil, mas o que não é fácil? Na verdade tudo é fácil. Será? Não sei. Vai saber. Nossas mentes que condicionam as coisas a serem difíceis... Foda é silenciar nossas mentes e não ficar louca com isso.
Uma porta aberta
É aconteceu mesmo.
É foi mais simples do que se imaginava. Ela abriu a boca e gesticulou palavras antes despercebidas. Bebeu ansiedade e medo num mesmo gole. Divertiu-se.
As coisas são mais simples. A vida é simples. É só uma questão de aprisionamento. Seja livre e se permita sair gritando por ai.
- Eu não consigo.
- Consegue sim.
Abriu a boca e saiu pela rua. E não doía. Ali ela realmente respirou profundamente. Boca para mundo.
E realmente aconteceu.
Libertou-se. E tudo começou com um grito.
Viu? Não disse que era mais simples do que se pensava.
Tentei chorar e não consegui
- Então, é melhor que você parta logo de uma vez.
Suas palavras me calam fundo...
Estou cansada, cansada do seu destempero da falta de afeto. Destruída. Se ousar te desafiar você me lança uma faca e me enche de medos. Vazia, uma cara só de carne. Carne morena. Eu que só quero um pouco de respeito, atenção, compreensão, afeto... Como eu te valorizo. Se eu pudesse mostrar o que você me deu mandaria construir um monumento te chamaria de meu. Se eu ousar te contar o que se passa aqui pode até engasgar pagaria pra ver. Espero que entenda. Mas, estou cansada já não tenho a mesma vitalidade de antes para seus rompantes. Não sei mais diferenciar as lacunas de suas palavras. A impressão é de que você está apagando meus traços: vazia, calada, imóvel... Não quero mais ser atacada por você. Tento chorar e não consigo. Até isso você tirou de mim. Minha individualidade. O que eu tentei provar durante esse tempo é que eu te valorizo te presto atenção. E isso importa pra você? Não. Quero procurar um lugar mais calmo longe dessa confusão. Antes que você me beba por inteira.
Palavras repetidas
Como um sonho ele apareceu pra mim
Tão brilhante como Sol
Chamuscando fogo e cinzas pelo chão
Poderia lhe entregar meu coração e até minha atenção
De repente como um susto roubaram meu presente
Como se ele fosse uma santo
Desse dia até agora procuro por todo o canto
Sol diz pra mim cadê você
Bailarina não consegue mais viver
segunda-feira, 12 de abril de 2010
Como eu te valorizo
domingo, 11 de abril de 2010
Eu gosto de meninas e meninos
Eu amo meninas e meninos. Amo gente que é viva e que me faz ficar mais viva a cada dia. Sou difícil de me apaixonar por pessoas. Isso está muito relacionado à admiração. É como se eu necessitasse de uma pessoa intensa do meu lado. É por isso que amo pessoas com vida para viver! Apaixono-me por gestos, meninas, meninos, musicas, cachorros exceto gatos que é um animal que não confio... É isso que você quer saber? Se eu gosto mais de meninas do que de meninos. Porra eu amo pessoas. Estou apaixonada por um sorriso. Pode isso? Um sorriso. Isso é muito pra mim. É um sorriso de uma menina. Nunca vi um sorriso tão verdadeiro como o dela. É incrível. Ela ilumina tudo que a rodeia. E é magnífico ficar apaixonada por um sorriso. Experimente pra você ver. Estou apaixonada pela simplicidade de um menino. Ele é lindo fisicamente é principalmente internamente. E isso é bom... Não tem como escolher o que eu prefiro mais. Eu amo pessoas negras, brancas, pobres, lésbicas, gays, fudidas em dinheiro como eu, velhos, crianças e outros tantos por ai. O que eu sou? Não me rotulo. Eu sou quem sou e gosto de meninas e meninos, mas não gosto de gatos.... Acho que vou tentar amar um gatinho e evoluir um pouco...
(risos)
Humana
Me perguntaram isso e tentei responder. Não sei se consegui, mas tentei.
Vou começar pelos defeitos que sei é o que você quer ouvir. Admito três é pouco. Tenho tantos que fica até difícil escolher. Mas, vamos lá apesar de você saber quais são os meus defeitos. Não é? Então, sou autodestrutiva quando eu erro. É uma briga interna me sentencio ao fracasso quando erro principalmente no teatro. Quando não alcanço o meu objetivo quero me destruir. Isso é ego... não sei... Outro, minha mente é cheia de elucubrações, então, devaneio demais sempre achando que tem algo errado comigo em relação às pessoas. Isso é não se aceitar... Sou fechada para pessoas. Termos como: você é fria, dura, não demonstra sentimentos, misteriosa, carão e por ai vai. Sou fechada porque tenho medo de gente... Só faço me proteger delas. Isso é egoísmo. Não sei. É uma forma que encontrei pra não sofrer tanto. E nem adianta muito porque é só você me conhecer que me desarmo. Eu tenho coração ele bate aqui dentro ele tem vida. Tenho defeitos porque sou ser humana. Devo ficar por aqui com três defeitos. Até nisso sou destrutiva. Deveria estar falando bem de mim... E vai ser agora. Quando quero uma coisa vou até o final para conseguir. Ás vezes eu consigo ás vezes não, mas quando não dá me rendo não tenho mais o que fazer. Eu sei quando as coisas não vão dar certo... Uma das minhas maiores qualidades é ter atenção por quem amo. Penso mais nos outros do que em mim. Mas, essa fase está bem controlada no momento. Falta uma qualidade? É. Deixa-me pensar... É querer o bem do próximo que não conheço. É sou sentimental. Vire e meche estou chorando por que não conheço pela dor dos outros. Fome, pobreza, descaso, catástrofes, desamor... Isso me faz morrer um pouco a cada dia. Queria poder acabar com o sofrimento dos oprimidos... Desculpe-me. Sou prolixa deveria ter colocado isso como defeito. Tenho que ser mais objetiva. É, isso? Mas, só isso não me define. Seis coisas não me definem.
Ele me bebeu - Clarice Lispector
É. Aconteceu mesmo.
Serjoca era maquilador de mulheres. Mas não queria nada com mulheres. Queria homens.
E maquilava Aurélia Nascimento. Aurélia era bonita e, maquilada, ficava deslumbrante. Era loura, usava peruca e cílios postiços. Ficaram amigos. Saíam juntos, essa coisa de ir jantar em boates.
Todas as vezes que Aurélia queria ficar linda ligava para Serjoca. Serjoca também era bonito. Era magro e alto.
E assim corriam as coisas. Um telefonema e marcavam encontro. Ela se vestia bem, era caprichada. Usava lentes de contato. E seios postiços. Mas os seus mesmos era lindos, pontudos. Só usava os postiços porque tinha pouco busto. Sua boca era um botão de vermelha rosa. E os dentes grandes, brancos.
Um dia, às seis horas da tarde, na hora do pior trânsito, Aurélia e Serjoca estavam em pé junto do Copacabana Palace e esperavam inutilmente um táxi. Serjoca, de cansaço, encostara-se numa árvore. Aurélia impaciente. Sugeriu que dessem ao porteiro dez cruzeiros para que ele lhes arranjasse uma condução. Serjoca negou: era duro para soltar dinheiro.
Eram quase sete horas. Escurecia. O que fazer?
Perto deles estava Affonso Carvalho. Industrial de metalurgia. Esperava o seu Mercedes com chofer. Fazia calor, o carro era refrigerado, tinha telefone e geladeira. Affonso fizera quarenta anos no dia anterior.
Viu a impaciência de Aurélia que batia com os pés na calçada. Interessante essa mulher, pensou Affonso. E quer carro. Dirigiu-se a ela:
- A senhorita está achando dificuldade de condução?
- Estou aqui desde as seis horas e nada de um táxi passar e nos pegar! Já não agüento mais.
- Meu chofer vem daqui a pouco, disse Affonso. Posso levá-los a alguma parte?
- Eu lhe agradeceria muito, inclusive porque estou com dor no pé.
Mas não disse que tinha calos. Escondeu o defeito. Estava maquiladíssima e olhou com desejo o homem. Serjoca muito calado.
Afinal veio o chofer, desceu, abriu a porta do carro. Entraram os três. Ela na frente, ao lado do chofer, os dois atrás. Tirou discretamente o sapato e suspirou de alívio.
- Para onde vocês querem ir?
- Não temos propriamente destino, disse Aurélia cada vez mais acesa pela cara máscula de Affonso.
Ele disse:
- E se fôssemos ao Number One tomar um drinque?
- Eu adoraria, disse Aurélia. Você não gostaria, Serjoca?
- É claro, preciso de uma bebida forte.
Então foram para a boate, a essa hora quase vazia. E conversaram. Affonso falou de metalurgia. Os outros dois não entendiam nada. Mas fingiam entender. Era tedioso. Mas Affonso estava entusiasmado e, embaixo da mesa, encostou o pé no pé de Aurélia. Justo no pé que tinha calo. Ela correspondeu, excitada. Aí Affonso disse:
- E se fôssemos jantar na minha casa? Tenho hoje escargots e frango com trufas. Que tal?
- Estou esfaimada.
E Serjoca mudo. Estava também aceso por Affonso.
O apartamento era atapetado de branco e lá havia escultura de Bruno Giorgi. Sentaram-se, tomaram outro drinque e foram para a sala de jantar. Mesa de jacarandá. Garçom servindo à esquerda. Serjoca não sabia comer escargots e atrapalhou-se todo com os talheres especiais. Não gostou. Mas Aurélia gostou muito, se bem que tivesse medo de ter hálito de alho. Mas beberam champanha francesa durante o jantar todo. Ninguém quis sobremesa, queriam apenas café.
E foram para a sala. Aí Serjoca se animou. E começou a falar que não acabava mais. Lançava olhos lânguidos para o industrial. Este ficou espantado com a eloqüência do rapaz bonito. No dia seguinte telefonaria para Aurélia para lhe dizer: o Serjoca é um amor de pessoa.
E marcaram novo encontro. Destava vez num restaurante, o Albamar. Comeram ostras para comerçar. De novo Serjoca teve dificuldade de comer as ostras. Sou um errado, pensou.
mas antes de se encontrarem, Aurélia telefonou para Serjoca: precisava de maquilagem urgente. Ele foi à sua casa.
Então, enquanto era maquilada, pensou: Serjoca está me tirando o rosto.
A impressão era que ele apagava os seus traços: vazia, uma cara só de carne. Carne morena.
Sentiu mal-estar. Pediu licença e foi ao banheiro para se olhar ao espelho. Era isso mesmo que ela imaginara: Serjoca tinha anulado o seu rosto. Mesmo os ossos - e tinha uma ossatura espetacular - mesmo os ossos tinham desaparecido. Ele está me bebendo, pensou, ele vai me destruir. E é por causa do Affonso.
Voltou sem graça. No restaurante quase não falou. Affonso falava mais com Serjoca, mal olhava para Aurélia: estava interessado no rapaz.
Enfim, enfim acabou o almoço.
Serjoca marcou encontro com Affonso para de noite, Aurélia disse que não podia ir, estava cansada. Era mentira: não ia porque não tinha cara para mostrar.
Chegou em casa, tomou um banho de imersão com espuma, ficou pensando: daqui a pouco ele me tira o corpo também. O que fazer para recuperar o que fora seu? A sua individualidade?
Saiu da banheira pensativa. Enxugou-se com uma toalha enorme, vermelha. Sempre pensativa. Pesou-se na balança: estava com bom peso. Daí a pouco ele me tira também o peso, pensou.
Foi ao espelho. Olhou-se profundamente. Mas ela não era mais nada.
- Então - então de súbito deu uma bruta bofetada no lado esquerdo do rosto. Para se acordar. Ficou parada olhando-se. E, como se não bastasse, deu mais duas bofetadas na cara. Para encontrar-se.
E realmente aconteceu.
No espelho viu enfim um rosto humano, triste, delicado. Ela era Aurélia Nascimento. Acabara de nascer. Nas-ci-men-to.