Foi tão estranho compartilhar a sua presença com outro. Não senti ciúmes, mas vazio... Não tinha ninguém do meu lado. Só os meus pensamentos em você... Olhava para o céu, árvores pra ver se distraia meus pensamentos. Até consegui dormir e encarar o vazio como amigo constante... Acordei entediada com vontade de ir embora daquele espaço que não me pertencia. Mas a chuva que tanto amo me traiu. E não tive outra saída a encarar aquilo tudo com leveza... Sozinhas. Silêncio. Silêncio de mim silêncio de você. E isso durou por algum tempo enquanto olhávamos para o caos da chuva fora do picadeiro. Não sei de você, mas faço do silêncio meu companheiro. Dei tempo pra eu encontrar a melhor forma de quebrar aquele silêncio ensurdecedor. Ouvíamos minhas músicas que sei não te agradava muito. O picadeiro estava escuro, encharcado de água, fazia muito frio. Você me cedeu seu xale verde com pequenos fios brancos para me proteger do frio. Estávamos tão próximas e podia até sentir o calor que vinha do seu corpo... E não demorou muito começamos a conversar espontâneamente de nossos medos, egos, desejos, objetivos. Agora eu acreditava que aquele espaço poderia ser meu, ou, nosso. Acho que nunca fui tão verdadeira com uma pessoa como sou com você que mal conheço. Hoje fui impetuosa e disse o que sentia sem puder mesmo sem saber o que isso significa ainda. – E, ok. E não peço nada a você, só desabafei. Se vai entender pouco sei prever. Nem eu estou me entendo nesse momento. Foi bom aquele breve momento nosso, conversas, confissões... O sentimento era de permanecer ali não sei por quanto tempo, mas decidi partir. A chuva continua a cair, mas encarei ela de frente, como presente levei comigo seu xale verde com pequenos fios brancos. Olhei ao meu redor olhei pro céu abri os abraços para sentir o vento, mas na verdade queria olhar para trás... e assim segui em frente, peguei o ônibus encharcada, mas feliz. Durante a viagem cochilei e não pensei em você. Acordei com burburinhos no ônibus que havia quebrado. Tive que encarar a chuva novamente na esperança de pegar outro ônibus. E, não demorou muito ele apareceu. Fui espremida, amontoada na porta do ônibus que estava lotado de pobres trabalhadores cansados e com o único intuito de chegar logo em casa. Desci no meu destino acompanhada pela chuva, cheguei em casa e banhei em espécie de imersão. Lembrei de Clarice Lispector e da sua crônica “Ele me bebeu” e pensei: ela está me bebendo daqui a pouco me tira até a razão...
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