Escrever é como se sentir nu, com o corpo entregue a um desejo fulminante de pertencer. E, pertencendo, sou eu o objeto da escrita e não o contrário. É ela quem me cria, não sou eu o criador.
Me vejo ameaçado pelo papel, mas meu desejo é chamado pelas palavras do meu eu guardado.
O papel que me ameaça é também o cofre de mim mesmo, e a ponta da caneta é o segredo capaz de revelar-me, de soltar os vários eus que consomem meu corpo.
Escrever, ao mesmo tempo, é como trancar-se, prender-se no papel e abandonar ao vento uma parte de si. É também pertencer, é ser, conhecer a si mesmo através das palavras extraídas do seu eu inconsciente.
Talvez, então, a folha de papel não seja mais do que um espelho que ora se parte e quebra me expondo como realmente sou: fragmentos, cacos.
E apesar de todas as minhas urgências no final do papel ou da minha vidinha, eu sou nada.
Luiz e Regina
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