A Menina Banhada de Arco-Íris
Passeava pelas ruas num dia de chuva, uma menina banhada de arco-íris.
Caminhava sem direção quando desceu as escadarias que davam na beira do rio e sentou-se no chão. Esperava alguém passar. Algo acontecer. Algo extraordinário.
Todos os dias andava por aí. Se arrumava, ficava horas se aprontando. Batom vermelho, rímel nos longos cílios, ora prendia os cabelos...ora os deixava soltos ao vento. Usava vestidos floridos, saias rodadas. Tinha certeza de que algo aconteceria. Ele chegaria. Ele viria à ela, e ela não cansava de esperar. A cada dia que passava, mais ela se embelezava e se preparava. Fazia discursos na frente do espelho. Treinava cada frase, as risadas. Não poderia estragar o momento. Sentava nos cafés, sempre num lugar onde pudesse ser vista.
Cantarolava a trilha sonora escolhida para a hora tão esperada. Ah, se fosse um filme...
E ele demorou muito e ela ficou tão triste. Seu arco-íris virou chuva. Uma nuvem negra sobre sua cabeça. Ficou tudo cinza. Ela perdeu suas flores e doía. Doía mais do que se pode imaginar, era lancinante. Era como se lhe tivessem arrancado o coração com mãos calejadas e grosseiras.
Continuava a andar por aí, a pobre. Triste, muito triste. Já não se cuidava. Só vagava, divagava, devagar...
Numa tarde de um dia ensolarado, o vento mudou de direção.
Seu luto se transformou em raiva que virou força e acendeu o desejo.
Deixava bilhetes por toda a cidade. Escrevia em papéis coloridos e perfumados, e foi sendo tomada por uma espécie de esperança novamente. O vento levaria suas palavras e traria de volta sua felicidade.
Uma música ecoava pela cidade:
Isabelle, Isabelle? Isabelle, mon amour.
E ela repetia:
Je cherche pour toi, tous les jours. Mon coeur est presque nu. Vien voir, bon apetit!
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