dançar
nas estações do ano sem pensar, ser uma flor na primavera que não pensa, e já é
o bastante. receber e apreciar as flores no útero. flores. amarelas, vermelhas,
roxas, brancas... dançar suas cores e morrer, ainda que a morte não exista por
ser uma passagem tão fluida que se conecta intimamente com a vida. dançar,
dançar, dançar, dançar, não é preciso dança quando se é. um
corpo-água-flor-magma-árvore-de-cerejeira-folhas-vermelhas que caem no outono. no
verão, a fase poderosa de todo ser de luz e escuridão que dança com larvas no
seu útero. dança dos deuses: dor, morte, vida,
qualquer deus... ser um olhar de cristal que não foca e percebe o
infinito a frente, dos lados, atrás das costas tem um infinito. eu me
transformo num deus que dança, seja qual for o sentimento que irradia dentro de
mim. chega o outono, a beleza da morte. as
flores vermelhas enrugadas pedem vida e morrem. morrer sendo abraçado pelo
vento-água, lentamente até o encobrimento da terra que irradia vida. flor que
envelhece, uma beleza oculta, e mesmo envelhecendo e morrendo ela continua abrindo-se
para vida. dever ser por isso que a morte não existe. e esse é o presente da
vida: a morte. somos um presente que alimenta a vida, um presente que sente
tristeza e felicidade. ser, ser, ser, ser, ser, serestar... antes de começar a
cair no chão, qual será meu último esforço? um animal sempre é 100% até não
conseguir mais, e morre. quando se dança o tempo não existe, e isso não tem importância
alguma. logo vem o inverno e a última dança se aproxima. 26 milhões de mortes
para transformação. aprender a vida olhando a alma do outro. viver, envelhecer,
e morrer até o último segundo olhando... cada morte é diferente e possui um
olhar de cor e trilha única. a última dança é minha experiência, são minhas
memórias tristes e felizes na transparência de um rio. e não pensando faço a
minha melhor e ultima dança. qual seria a minha última forma? talvez nem seja
essa.
ai marcinha, marcinha
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