quinta-feira, 28 de março de 2013


vou escrever agora, se não vou esquecer a sensação. estou escrevendo agora, pois na minha cabeça pulsa um entendimento de mim agora. estou sob efeito irreversível da vida, sobre mim. curioso, eu percebo e caio em areia fina, morro e dou-me volta, entendo com clareza assustadora, percebo cada contradição, cada relação com o mundo que me devora, ou seria eu que me devoro? de certo sou eu, eu tenho uma mulher dentro de mim que me devora como um abutre. devora os meus medos, ela me chama e eu sempre recuo. eu tenho uma mulher dentro de mim que se alimenta pelo meu sexo, pelo gozo reprimido da vida. essa mulher sou eu, todos os batons que uso são feitos da minha pele. sei que isso faz sentido agora, pois estou sob efeito irreversível da vida. estou no precipício da vida, no principio e no fim. é um desmundo, é desvida, é deseu, é além do compreensível. é incerteza da contraditoriedade. é o que eu escrevo e não sei entender com profundidade. é medo, é impetuosidade, é querer comer-se toda, até as últimas vísceras com sal grosso. sou eu que me doo ao amor. cansei, é muito, minha cabeça lateja como um mar revolto. eu me abrando nesse caos todo. são puras contradições, eu estou pronta para o abismo da vida. 

se der ame, se der me ame, se der me beije. derrame um rio em mim. hoje necessito de um amor, hoje eu anunciei em voz alta, que é pro acaso escutar que estou de poros abertos para o amor. qualquer amor que seja, seja de um dia de passagem de muito sol, um de três dias, ou um que mexa nas minha moléculas por mais dias, até nesses dias de muita chuva.
eu quero um amor correspondido (sem resposta). recuso os amores mal-vividos, nunca-ditos, escondidos em mim, mortos como um feto dentro de mim. estou aberto para o movimento, que venha as dores e suas danças. quero errar, não sei lá o que sentir e morrer de amor. e de repente é uma coisa importante, da maior importância.
deve haver uma amor de transito livre, de colo quente, que faça samba a noite inteira. deve haver amor pra maria, pra clarice, pra marcinha, pra marília.
que venha o tempo
que venha o mar
que venha o amor
que venha
pois estou aqui, e se preciso for eu saio da beira
e “pode avisar que hoje eu não vou dar não, eu vou é distribuir.”

sexta-feira, 22 de março de 2013

de tão pequeno, mas vai e vem e envenena.



"...cai o nível
e eu me sinto uma imbecil
repetindo, repetindo, repetindo
como num disco riscado
o velho texto batido..."

domingo, 17 de março de 2013

um brinde aos parimentos diários
as dores de amores que nos criam
aos copos de água que mata nossa sede
um brinde ao que é belo e transforma
ao que é feio e também transforma
um brinde aos que são da beira
dos que sofrem e ainda sambam
que ainda riem, sobretudo de si mesmos
e acham um pouco de graça de tudo isso
um brinde ao amor, pois ainda eu acredito nele.

segunda-feira, 11 de março de 2013

de não ser quase ninguém


parar de pensar para dormir
preferir pegar a caneta azul
o caderno branco sem pauta
aumentar mais um pouco o volume do som
alargar Caetano dentro de mim
feito adivinhação sobre a lua
clarice, clarice... porque se guardar assim tão firme, no coração?
seu mistério desdobra em mim
que mistério tenho eu para me guardar assim tão firme, no coração?
assistindo a solidão alimentar meu corpo
lentamente perco a doçura
o rio solicita o tempo
me solicita para seus braços
no dia que eu for embora
não quero levar nada
é hora de apagar o que não precisa de luz
desligo, Caetano. 

ser, ser, ser, ser e que me vejo.


sábado, 2 de março de 2013


parece que o meu mundo da escrita tá gasto, só parece. 
o que é na verdade a correr no rio, é que a minha escrita do pensamento ganhou forma, movimento, virou dança. virou desapego, é um ser estar, e já é o bastante.
mas eu gosto de brincar com as palavras, mesmo não tendo a sagacidade de um poeta que faz a festa acontecer. o tempo me ensinou a escrever no mundo, na parede, no meu corpo, onde se precisa ocupar. 

sonhos, sonhos, sonhos