sábado, 15 de maio de 2010

Filhos de Brasília



















Nunca escrevi nada no meu blog contando como foi meu dia, mas é que eu preciso fazer isso hoje. Não tem nada de sobrenatural. Olha, meu dia foi magnífico. E por incrível que pareça foi, mas não vou contar essa parte. Essa é só pra mim. Mas vamos lá. Acordei 04h20min da manhã quer dizer da madrugada. É. Porque tenho que acordar pra fazer um lanchinho antes de sair e isso requer 30 minutos. Depois fui pro banho. Dependendo do dia varia minutos gasto pra isso, contudo quando tenho que lavar o cabelo aumenta o tempo pra isso. O que quase sempre é um motivo pra tá me atrasando pra coisas. É um saco. Logo eu que detesto chegar atrasada nos lugares. Tenho que sair de casa com no mínimo duas horas de antecedência se eu quiser chegar ao Plano Piloto na hora certa. Sou dependente. Dependente de transporte público logo sou uma cidadã fudida. Desculpe a palavra, mas pra quem mora no fim do mundo com eu (cidade satélite) e tem que pegar todos os dias um ônibus amarrotado de gente e que, além disso, pega transito e como se não bastasse o sofrimento ás vezes pego morte pelo caminho. Tenho que sair de casa 05h40min pra tá lá na capital federal. Mas é que ultimamente o cansaço tá me bebendo em goles lentos e acabo me atrasando. Bom, o motivo desse post não é pra contar como é meu dia, mas sim pra contar a minha realidade como cidadãzinha que depende do transporte público de merda de Brasília. Hoje peguei o ônibus atrasada. Fiquei na frente espremida com mais gente que todo dia se espreme com mais gente. Não consegui passar da catraca. Me perdoem os velhos, mas conheci uma idosa hoje que me tirou do serio. Era só eu encostar que ela soltava fogo pela boca. Eu juro que tentei não triscar nela, mas não dava era só aperto naquele inferno. Teve uma hora que pensei em mandar-la calar a boca e parar de reclamar. Até que me segurei. A final de contas era uma idosa e por mais que fosse ignorante tinha que respeitá-la. Foda. Isso nem foi o ápices. O caos se instalou com uma gritaria: “Fogo. Fogo. O ônibus tá pegando fogo.” De repente a velhinha ensandecida deu uma voadora pra cima de mim. Pronto o a multidão bateu pé em cima de mim. Era puxões de cabelo, braços na cara. Pânico. Pânico coçou o juízo das pessoas. Depois ter sido pisoteada consegui sair do ônibus. E nem era fogo era fumaça. Talvez por contar da super lotação deu pane no ônibus. Fora o caos já estava instalado há muito tempo. Um transito que na acabava mais. Normal. Agora era uma luta pra pegar mais um ônibus amarrotado de gente. Foi difícil. Cada um que passava levava um pouco de carga. Era aquele tumulto pra entrar. Simplesmente o ônibus andava com as pessoas do lado de fora. Porra. É gente. Pode não parecer. Mas somos gente. Falta de respeito com as pessoas. Depois de um tempo cedo arrastada pelos ônibus consegui pegar um vazio quando eu achei que tava tudo resolvido tirando o transito que ainda persistia, mais a frente outro ônibus quebrado por circunstâncias que desconheço. Meu ônibus parou de repente uma manada de abutres descontrolados começou a subir fui parar no colo de não sei quem. Cara. Me senti um saco de batatas. Pode isso? Brasília não dá conta de seus filhos. Acho que ela tá pedindo socorro. O saldo final: cheguei atrasada no teatro e pisoteada. O dia que se seguiu graças aos girassóis foi divino. Mas como no inicio disse que não iria contar isso. Só eu e mais uma pessoa sabe e assim será. Vou ter que dormir agora porque amanhã é “mais um dia, espremida, amontoada nesse mundo de gente que se agarra com força e pisa o pé no chão para não ser jogado em cada curva da estrada. Para não cair em cada freada que pega mais gente a se espremer no meio da gente. Feito bicho que se esfrega na carroceria do caminhão que carrega boi pros donos da minha terra... Saudade da minha terra.”

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