Entre mesas e cadeiras desertas, um corpo vestido de branco. Atravessa o espaço de olhos cerrados e lança-se contra a parede cinzenta. Uma e outra vez. Corpo cansado, indefeso. Encosta-se, enrola-se, abraça-a como se fosse sua a pele do muro. Não é. É a dor, consciente de si. Abandono. Cegueira. Outro olhar não será possível sobre o terrível esplendor da perda, num palco tão cheio de ausência. O corpo esguio e desaparecente percorre o lugar lentamente, ou numa súbita urgência, e desenha a vertigem: um círculo em redor do vazio. É a embriaguez sonâmbula da insone. Tão frágil o seu corpo. Fantasma. Só, no seu lamento. Mesmo estando lá o seu duplo, ergue-se à nossa frente o desencontro e a impossibilidade do abraço. Como na ária que escutamos: o violino toca desencontrado da voz da soprano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário