minha casa não tem meu jeito, minha parede conta
outras histórias que não são minhas. minha casa mostra um tempo
passado-presente que não foram tecidos pelos os meus dedos. da parede que tomei
para mim, cobri de retalhos na tentativa de abrir espaços, na tentativa de um
vento inverso que me leve a habitar uma casa nova. mudar-me-ei agora de mim,
onde eu habite outro eu que ainda seja eu em uma nova casa. quero poder mudar a
cada instante, errar a casa instante e não dever uma perfeição que eu não sou. nunca
disse que eu era perfeita, minha nova casa está uma bagunça, e insistem em me
cobrar uma perfeição preciosa que não sou. essa
mudança me provou da certeza do risco, do cisco, da complexidade das relações
humanas tortuosas, e da necessidade de pintar uma parede, habitar um espaço e deixá-lo
ir ao mesmo tempo. deve ser por isso que deixei muita memória na casa de lá, da
casa de cá vou praticar com mais rebeldia o desapego. fazer doutorada no tempo
presente, enviar cartas que sempre penso em mandar. dizer mais eu te amo não
com a afirmação da distância, mas com a afirmação do amor que tudo envolve e
quer respirar. pretendo me dedicar e não me obrigar a ser feliz, pretendo me
revisitar toda vez que o processo necessitar, pretendo praticar o amor com mais
afeto e sinuosidade de uma árvore de porte grande e longas raízes. pretendo e
não me obrigo a me apaixonar. me pretendo dançar mais com minhas manifestações,
inquietações, com as minhas frustrações pretendo
a sagacidade de um rio, o percurso torto
em vez de toda dureza que ainda possa existir. pretendo viver, e já me é o
bastante.
Mudar e errar não rima com casa que não seja caracol. E tenha pedras e telha.
ResponderExcluirJá respirar como quem vive, a gente faz em qualquer lugar e de qualquer maneira.