brasília é muito
ampla. o que mais se escuta por aqui são os carros e os pássaros. é um exagero,
eu sei. mas quando se fala de um espaço imenso onde estão as pessoas? de certo elas
estão em suas vidas. é tão óbvio na sua sutileza.
ora ou outra, ora
entre outra num amplo espaço, no entre eu e a seca de setembro avisto ao longe
uma pessoa caminhando. uma e o espaço. uma pessoa grão no espaço, ou do espaço.
me perco, pois não é preciso definir um grão de existência no infinito do
existir.
por esse mesmo
espaço seco de setembro, tortuoso e luminoso um amigo leonino passa por de trás
de mim. só percebi que era um amigo, porque eu olhei movida pela curiosidade de
saber quem habitava aquele espaço tão amplo. uma dimensão subjetiva da manhã,
um sol rasgando o meu silêncio. meu minuto de silêncio interrompido.
ele esguio passava
pelo caminho dos desejos e seguiu em frente. nada disse e passou. talvez ele
não quisesse interromper o meu espaço amplo. naquele momento eu habitava um
amplo espaço, eu era um grão de existência debaixo de uma sombra de uma árvore
do cerrado no mês da seca.
tentei assoviar
pra ele na tentativa de um contato direto, mas não surtiu efeito direto. não
insisti e voltei para o encontro imediato com espaço. espaço. espaço. tão amplo
e tão tempo essa imagem que percorre meu dia a dia pela cidade. de ir e vir.
de um extremo ao
outro comecei a ser vista por pessoas. ainda dava para contar nos dedos... as pessoas existem nos espaços amplos de brasília.
brasília é meu
castigo.
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