domingo tem sido um dia daqueles, do qual eu não sei porque e há
algo estranho. a cidade também é estranha num dia de domingo, cada pessoa
caminha solitária de si.
eu percebo como as pessoas necessitam de alguém estranho para soltar
qualquer assunto no vento... algumas... como aquela mulher de andar cambaleante
que ao atravessar o eixão começa a falar comigo do outro lado antes mesmo de
terminar a travessia.
ela passou por mim num instante e se perdeu nos braços da
cidade.
tem sido um ensaio esses últimos dias do mês. ensaio... pois o percurso é cheio de pedras pequenas que
cobre o rio, e a gente quase não ver por ficar no quase.
domingo tem sido um dia de voltar pra casa e perceber que a
partida é sempre necessária, que a volta me
reconecta com minhas raízes mais profundas. minha terra sempre foi
vermelha, pois meu corpo sempre sangrou. me vejo como uma terra misturada nunca
pura e fina, me vejo terra no cerrado. me sinto sendo cidade num dia de
domingo.
me sinto com antenas afiadas, coração aberto, exposto, com
muitos remendos.
eu gosto de ser domingo e caminhar perdida pela cidade. e tudo
faz sentido até não fazer mais durante a semana.