domingo, 28 de abril de 2013

viver é ir morrendo todos os dias.


domingo tem sido um dia daqueles, do qual eu não sei porque e há algo estranho. a cidade também é estranha num dia de domingo, cada pessoa caminha solitária de si.
eu percebo como as pessoas necessitam de alguém estranho para soltar qualquer assunto no vento... algumas... como aquela mulher de andar cambaleante que ao atravessar o eixão começa a falar comigo do outro lado antes mesmo de terminar a travessia.
ela passou por mim num instante e se perdeu nos braços da cidade.
tem sido um ensaio esses últimos dias do mês. ensaio...  pois o percurso é cheio de pedras pequenas que cobre o rio, e a gente quase não ver por ficar no quase.
domingo tem sido um dia de voltar pra casa e perceber que a partida é sempre necessária, que a volta me  reconecta com minhas raízes mais profundas. minha terra sempre foi vermelha, pois meu corpo sempre sangrou. me vejo como uma terra misturada nunca pura e fina, me vejo terra no cerrado. me sinto sendo cidade num dia de domingo.
me sinto com antenas afiadas, coração aberto, exposto, com muitos remendos.
eu gosto de ser domingo e caminhar perdida pela cidade. e tudo faz sentido até não fazer mais durante a semana. 

eu estou andando pela rua num estranhamento vertiginoso, eu me observo do auto. meu rosto cansado é puro desinteresse, meu olhar está ausente-presente.  vou e não quero chegar, chego e preciso partir, volto e começo tudo de novo. eu ando de cabeça pra baixo porque meus cabelos limpam o chão. meu olhar é estéreo, sem raiz profunda. eu esterilizo quem passa por mim, e mesmo assim sou capaz observar um balançar de quadril. observo olhares interessados na minha inquietude, eu caminho e me sinto nua. a cidade me deixa toda nua, revela minha fragilidade. a cidade é anuncio que aponta nas paredes no chão o que preciso ouvir. vez outro capto um instante, uma menina acabou de ligar para amiga,  a loja de lanches chama o cliente pelo nome, Flávio pega seu hambúrguer de frango, um telefone toca, o carro acende o farol, o chão entra em atrito e range. e amanha começa tudo de novo.  

eu estou sozinha, ela me observa como
quem procura um motivo para aproximar-se
eu não foco, eu não ouço
eu toco e calo, me silêncio
ela foge uma, duas, três, quatro, doze vezes
não há toque, há fúria
fúria de uma última dança
foi nossa última dança, ilusão
ela me abraça, eu nada faço
e assim choramos. 

domingo, 21 de abril de 2013


aqui, bem aqui a seca se anuncia debaixo da sombra
o sol aquece a cidade por fora
por dentro aquele frio que envolve os prédios as casas
as folhas balançam, o vento se faz presente.  

eu sei que é coisa da minha cabeça... eu sei que é coisa da minha cabeça, do contrario minha cabeça não estaria caindo da minha cabeça, e meus olhos findando em mim. do contrario não seria o amor platônico, e ele tivesse admitido um amor. do contrario não estaria ouvindo o burburinho dela por cima do telhado, de certo ela teria me amando uma vez de baixo do bloco ou tivesse me amado na 508 sul. talvez eu teria morrido ao beijá-lo de bigode de barba e peito na boca. eu seu tivesse contado não teria escrito teatro. de certo é coisa da minha cabeça botar tudo em ordem alfabética e acertar o acento da minha tecla. ouvindo a batida do quarto dela. minha cabeçada teria findado por estatística, eu gosto de botar padrão nas coisas, mas sonho é tudo que eu quero. a pobreza, e tudo mundo vai ser feliz. é tudo coisa da minha cabeça, e estou muito feliz. eu teria amado e não teria nenhum dinheiro. porque essa coisa de ter paixão... essa coisa de ter um amor, e querer fazer e conseguir fazer. é coisa da minha cabeça e outras coisas. é tudo em são paulo, riacho profundo 2. vamos tentar fazer algo normal? vozes, tá escuro, tá concreto, é  biblioteca do concreto. é aquelas caixinhas que tem eternamente. os de brasília estarão de fora, enquanto ele abre a porta. passou rapidamente e falei filosófico, complexo, sistêmico, sem lembrar o dito e o não entendido. ele passou aqui, eu disse pouco, economizei nas letras a conta gota. é coisa da minha cabeça e a estagiária está uma merda. dessa vez foi suave, o rio passou lento e quase não percebi. caramba, essa maldita rima não sai da minha cabeça, que merda... eu ouço cadência rítmica na minha cabeça. parou, eu vou no banheiro. 
da perda de si
do desviar o olhar
do olhar outras coisas, o entre
do perder de si por um instante
do esquecer de si
do fazer nascer o si mesmo. 

sábado, 13 de abril de 2013

el tiempo


“Eu sempre senti que as crianças e adolescentes não são crianças, eles são pessoas pequenas. Eu os olho como pessoas pequenas, e como qualquer outa pessoa, eu gosto deles ou não. Eu também tenho uma obsessão com a doença mental e as pessoas estranhas que estão fora das fronteiras da sociedade.”

acabo de falar pra uma amiga a importância de chamar o erro pra dançar. e me sinto uma farsante ao dizer isso, pois o que mais faço é desistir de chamar o erro pra uma dança. eu sei sobre as pedras no caminho, tem muitas pedras no caminho. mas desisto de catá-las pra fazer uma montanha. eu tenho que aprender com as ostras o que é viver, tenho que transformar areia fina em pérola. tenho que sair do controle, perder o tônus, sair da perfeição, ser tosca, ser qualquer coisa sem importância, ser nada por um dia que seja. 

sexta-feira, 5 de abril de 2013


conhecendo minha casa e descubro novamente que gosto de ficar sozinha. gosto da companhia das paredes, do barulho da cidade e do grito das crianças da escola em frente. gosto do silêncio interrompido pelo barulho da máquina de lavar nova, pelo barulho da panela de pressão que minha mãe não queria me dar, pois achava que eu deixaria ela explodir pelo meu distraimento.  
me arrisquei na cozinha hoje, me arrisquei com a cebola e o alho que deixa cheiro de um mês nas minhas mãos. confundi a lentilha com a ervilha e fiz um arroz com as duas sementes. será que são sementes? espero que erro faça o arroz brotar.
o que me confudi é a medida, minha medida é o exagero. às vezes dar certo outras não, e tudo bem. faz parte dançar com o erro, com o desacerto. pode ser que abra um sinal e um imprevisto pontue minha solidão. 

segunda-feira, 1 de abril de 2013

movimento urbanorgânico.















foto: Izaura Cruz
improvisação/performance/intervenção/dança/vídeo-dança: urbanorgânico
local: praça dos cristais
performes: flávia cruz, rachel bertazzi, marcia regina, roberto cardoso e gregório benevides