eu estou andando pela rua num estranhamento vertiginoso, eu me
observo do auto. meu rosto cansado é puro desinteresse, meu olhar está ausente-presente.
vou e não quero chegar, chego e preciso
partir, volto e começo tudo de novo. eu ando de cabeça pra baixo porque meus
cabelos limpam o chão. meu olhar é estéreo, sem raiz profunda. eu esterilizo
quem passa por mim, e mesmo assim sou capaz observar um balançar de quadril.
observo olhares interessados na minha inquietude, eu caminho e me sinto nua. a
cidade me deixa toda nua, revela minha fragilidade. a cidade é anuncio que
aponta nas paredes no chão o que preciso ouvir. vez outro capto um instante,
uma menina acabou de ligar para amiga, a
loja de lanches chama o cliente pelo nome, Flávio pega seu hambúrguer de
frango, um telefone toca, o carro acende o farol, o chão entra em atrito e
range. e amanha começa tudo de novo.
a única defesa contra a cidade
ResponderExcluiré ficarmos nus