quinta-feira, 30 de outubro de 2014

"o verdadeiro dilaceramento reside na necessidade de aceitarmos o provisório - para sobrevivermos." françois truffaut, l'express. 
gratidão pelo dia atípico de ontemhoje.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

sétimo dia: 
agradeço pela dança da vida
agradeço a minha mãe por ser um presente força e coragem na minha vida
agradeço a minha tia que me abriu mundos
agradeço meus irmãos-meus filhos
agradeço cada pessoa que passou em minha vida e que ainda vai passar
agradeço os amigos que me acolhem do jeito que sou
agradeço a dor
agradeço o vinicius meu primeiro amor
agradeço a brincadeira da infância
agradeço o brincar, o despertar, o permitir, o deixar ir, o desapegar, o morrer,
agradeço eternamente o amor
agradeço o amor que me fez ir pra são paulo sem medo e visitar um grande amor
agradeço a camila meu grande amor
agradeço a camila lua
agradeço o roberto esse amor que vai além do que posso intuir
agradeço o vento que renova a vida
agradeço o tempo
agradeço a dança meu grande amor de entrega
agradeço os livros que encontro no caminho
agradeço manoel de barros
agradeço a poderosa clarice lispector
agradeço o mar
agradeço o céu
agradeço as nuvens
agradeço a tati por essa mulher preciosa na vida
agradeço a janaína diniz por me trazer luz num momento de caos
agradeço a arte - sua poderosa transformadora de vida
agradeço a jessica por indiretamente me permitir ver
agradeço a loucura
agradeço a tristeza
agradeço a alegria
agradeço a deus
agradeço a terra
agradeço as deusas
agradeço a sued
agradeço a daniquele
agradeço a luciana hartmann
agradeço as mulheres que me habitam
agradeço os encontros
agradeço a júnia
agradeço a sabrina cunha
agradeço o improviso
agradeço a maíra oliveira
agradeço o esquadrão da vida
agradeço a dinha
agradeço o seu estrelo
agradeço as cigarras essas loucas barulhentas
agradeço a comida
agradeço a víçeras por ser essa família de afetos
agradeço os amores vividos
agradeço júlia brito me acolher sempre
agradeço o silêncio
agradeço a mia couto
agradeço a lucina genro por me fazer acreditar em utopias realizáveis
agradeço a mudança
agradeço as festas
agradeço a coragem, o amor coragem
agradeço a música
agradeço a elis regina
agradeço o perdão
agradeço a mariana aydar
agradeço o caetano
agradeço a roberta sá
agradeço o espaço
agradeço brasília por andar a pé junto comigo
agradeço as árvores
agradeço a transformação
agradeço o tudo
agradeço a dani diniz
agradeço o instante
agradeço a vida
agradeço, agradeço, agradeço
e vou passar a vida agradecendo por tudo que me vier
obrigada vida!
tenho certeza que esqueci muitos presentes, mas que eu seja perdoada
pois metade de mim é amor e a outra metade também.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

"se é pra ser solidão, que seja uma solidão como fumaça!"


com o amor, que se espanca doce.




"a fé corre, a razão fala, a emoção tomba, o medo se protege, a verdade late. corra! corra! corra!"

O que eu sou... eu sou... eu sou um abacate estatelado no chão. É que quando eu olho de frente pro meu elefante a gente diz adeus. Adeus! E nós jogamos no abismo da vida! Caímos juntos, numa queda livre. Damos as mãos e do alto GRITAMOS: EU TE LIBERTO! EU TE AMO, EU TE AMO! PODE CAIR PROFUNDO EM DIREÇÃO AO AMOR. CAI SEM MEDO, SE POSSÍVEL FOR DANCE ESSA DOR. ESSA LÁGRIMA PRECISA SE TRANSFORMAR! Na frente da minha janela tem pé de abacate, e ele me ensina de tempos em tempos, de caídas e caídas que a vida é assim. É assim mesmo. Só depende dos teus impulsos a queda livre. Não tem para onde fugir. A gente foge porque ainda tem medo, tem um cachorro latindo alto dentro da gente. A gente pode não ver, mas uma hora isso se fará tão presente como um abacate que caí. A gente sente muito! Muito tudo, tudo e tanto! A gente sente muito a vida rasgando a pele da gente, perfurando as camadas, a gente é ser sensitivo cara! Não tem como não ser. A gente não aguenta aí dança.  Eu danço porquê senão eu morro doente. E morrer doente estraga as raízes! Porque a vida já não é tão pequena... e lá no fundo algo te late, ou como me seria: meu elefante LATE! GRITA! LATE! GRITA! LATE! Esses dias eu disse adeus a mim. Disse a mim mesma que me libertaria de toda defesa que pudesse atravancar o amor. Não estou de acordo com sua covardia, porque o amor que correr pelas ruas, que pular catracas, quer gritar pra quem quiser ouvir, que brincar de subir em árvores, quer descansar debaixo de uma árvore fresca, que correr com fé em direção ao mar, CORRER COMO UM ELEFANTE FEROZ EM DIREÇÃO AO MAR! SER ONDA INTENSA NUMA QUEDA LIVRE! Meu deus como pude ter me silenciado tanto, me enganado tanto, me matando tanto! Doente. CHEGA! CHEGA! CHEGAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! Porque o mar é queda mais doce que pode existir. É a queda livre dos abacates do meu jardim, eles caem pra se molharem no mar! Caem porque não se aguentam mais e se libertam! Caem porque AMANHÃ RECOMEÇO! 

o vento que sopra entre nossos fios


Brasília é muito ampla. O que mais se escuta por aqui são os carros e os pássaros. Às vezes não se escuta nada, mas eu não aguento e tenho que tapar os ouvidos bem forte com os dedos. É um exagero, eu sei. Mas quando se fala de um espaço imenso, onde estão as pessoas?
Meus olhos ficam a procura de pessoas coloridas: uma pessoa azul poderia facilmente se confundir com esse céu enquanto voasse, uma amarela poderia muito bem estar empoleirada nos galhos de um ipê, e com certeza eu não conseguiria distinguir uma pessoa vermelha tirando um cochilo sobre a terra sangrenta do cerrado. Mas tem o vasto concreto, onde ninguém pode se esconder.... De certo as pessoas estão em suas vidas.
Existe tanta sutileza no óbvio...
Num amplo espaço de vazio, as árvores rompem o território de Brasília - existem árvores, pássaros, carros e eu.
Entre eu e a seca de setembro, avisto ao longe uma pessoa caminhando. Uma pessoa e o espaço. Uma pessoa grão no espaço, ou do espaço.
Não é preciso definir um grão de existência no infinito do existir. Apenas se é e isso já é tudo. Me perdi e começo a sentir a cidade falando pelo corpo.
De surpresa, o acaso desembrulha um leão caminhando na savana de setembro. Um amigo leonino passa por trás de mim. Só percebi que era um amigo, porque olhei movida pela curiosidade de saber quem habitava aquele espaço tão amplo. Uma dimensão subjetiva da manhã, um sol rasgando o meu silêncio. Meu minuto de silêncio interrompido.
Ele, esguio e magro, passava pelo caminho dos desejos com sua juba invisível e seguiu em frente. Nada disse e passou. Passante. Talvez ele não quisesse interromper o meu espaço amplo. Naquele momento eu habitava um amplo espaço, eu era um grão de existência debaixo da sombra de uma árvore do cerrado no mês da seca. Ele era o passante a romper o vazio de Brasília.
Brasília é espaçosa. Em todo canto as aranhas constroem condomínios de luxo. E o vento que sopra entre seus fios, corre por Brasília com oito pernas de saudade em direção ao mar. Aos mares. A mim. Ás vezes, eu mesma estou seca e o vento morre na praia. Então eu passo a língua nos lábios e uma onda transforma esse corpo de vento em som.
Tentei assoviar para o leão, na tentativa de um contato direto, mas não surtiu efeito direito. Não insisti e voltei para o encontro imediato com espaço. Espaço. Espaço. Tão amplo e tão tempo... é essa a imagem que percorre meu dia a dia pela cidade. Eu ando a pé para acalmar as ondas. Eu ando a pé para desbotar a minha cor de concreto, pra alimentar outros desejos, pra descobrir novos caminhos.
As pessoas existem nos espaços amplos de Brasília.
Brasília é meu castigo.

Marcia e Roberto

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

pelo direito de ser monstro


Era uma roda, eu de frente pra ela. Ela de frente pra mim. Na verdade só existia eu e ela. Meu olhar já não tão meu. Quando vi, eu estava apaixonada por ela. E nunca tinha pensado sobre isso, e por um olhar profundo me entreguei pela primeira vez.
...
Esses dias eu lembrei que o primeiro beijo que eu dei foi de baixo de uma árvore. Eu e ela que não mais me recordo, o nome, a data, fizemos uma casa de pano debaixo dessa árvore, era um dia de ensaio de chuva. Estava frio, mas me recordo pela sensação e memória do corpo que boca dela era quente. Meu deus como eu pude ter esquecido isso.
...
Eu fui a São Paulo visitar um amor e comprar meias. Passeando pela avenida Paulista, ou Augusta. Minha memória me escapa a avenida, mas me lembro de te visto uma mulher com mini short e um tope, ela dançava sua sensualidade pura nas ruas da cidade. Foi o olhar mais convidativo e sensual que uma mulher me lançou.
...

Eu sempre me achei um corpo masculino. Olha esses braços... esse tronco é muito masculino. É por isso que na infância as crianças me chamavam de Maria, Maria Machão! Eu tinha um ódio disso. Eu sentia que tinha algo errado com aquelas crianças. Eu não entendia e chorava, comecei a bater em todo mundo que me caçoava.  Olha só que brutalidade que truculência que eles nos fizeram. 

receita para arrancar poemas presos

A maioria das doenças que as pessoas têm
São poemas presos.
Abscessos, tumores, nódulos, pedras são palavras
calcificadas,
Poemas sem vazão.
Mesmo cravos pretos, espinhas, cabelo encravado.
Prisão de ventre poderia um dia ter sido poema.
Mas não.
Pessoas às vezes adoecem da razão
De gostar de palavra presa.
Palavra boa é palavra líquida
Escorrendo em estado de lágrima
Lágrima é dor derretida.
Dor endurecida é tumor.
Lágrima é alegria derretida.
Alegria endurecida é tumor.
Lágrima é raiva derretida.
Raiva endurecida é tumor.
Lágrima é pessoa derretida.
Pessoa endurecida é tumor.
Tempo endurecido é tumor.
Tempo derretido é poema
Você pode arrancar poemas com pinças,
Buchas vegetais, óleos medicinais.
Com as pontas dos dedos, com as unhas.
Você pode arrancar poemas com banhos
De imersão, com o pente, com uma agulha.
Com pomada basilicão.
Alicate de cutículas.
Com massagens e hidratação.
Mas não use bisturi quase nunca.
Em caso de poemas difíceis use a dança.
A dança é uma forma de amolecer os poemas,
Endurecidos do corpo.
Uma forma de soltá-los,
Das dobras dos dedos dos pés, das vértebras.
Dos punhos, das axilas, do quadril.
São os poema cóccix, os poemas virilha.
Os poema olho, os poema peito.
Os poema sexo, os poema cílio.
Atualmente ando gostando de pensamento chão.
Pensamento chão é poema que nasce do pé.
É poema de pé no chão.
Poema de pé no chão é poema de gente normal,
Gente simples,
Gente de espírito santo.
Eu venho do espírito santo
Eu sou do espírito santo
Trago a Vitória do espírito santo
Santo é um espírito capaz de operar milagres
Sobre si mesmo.

Viviane Mosé

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

galope rasante

e surge o entendimento do não pertencimento. o desajuste. o desencaixe. eu não pertenço a nada que não seja a mim. me pertenço e já não sei se me pertenço. cansada disso que mora em mim e que  não tem nome. é uma dor que carrego, que nasce todos os dias. que transformo em alegria, que só sei que tá aqui dentro como um elefante a andar pela cidade. cansada dessa dor que também é meu alimento pra vida, que é a cor da minha alegria. cansada sim, mas não me desisto. me curo das setes quedas. quero me levantar. cansaço de entender a lógica. eu quero só ser. mas não. eu sou um gerúndio. uma criança que guarda na profundeza do seu abismo uma esperança. esperança é um nome bonito, mas preciso ter cuidado com ela. ás vezes acho que tenho esperança demais. sonho demais. me aguardo demais nas profundezas de mim. não sei se isso me faz tão bem. não faz, não fez. esperar um amor que sempre parte sem silêncio não faz tão bem. estou confusa com esse amor que me rasgou inteira, que me faz acordar pela manhã tendo esperança de viver, de olhar pro céu e morrer de amor. me rouba o pensamento por alguns segundos em parte do dia. eu tento controlar e já estou falando desse amor que preciso dizer adeus. e nem sei se tenho, ou sim tenho. se me envergonho desse sentir. essa vontade de mandar mais um carta dizendo estou partindo, estou rompendo de amor, estou indo a teu encontro em cumuruxatiba. 

ainda tenho esperança

domingo, 5 de outubro de 2014

embaraçados feito nós


vai


mas "óh", não é papo de luz no fim do túnel
e o caralho.
nem atalho pra felicidade.
é só o chiclete da dor que masco até perder o gosto
e então cuspir e dizer:
- já vai tarde!
de peito vazio caminhando pela cidade te encontrei
a chuva revelou seu cheiro absurdo doce
sua estranheza me chamou o desconhecido.

a menina-menino adormecida acordando
comendo a fruto do lobo
a fruta mais intensa que já lambiscou.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

"não há universo quando não há verso
quando não há uni
une quando verso
não há quando
meu desamor
meu amor
meu grande amor
meu ódio
meu ótio
outra palavra mesmo
porque é outra coisa."

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Elegia 1938

o elefante

Fabrico um elefante
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira
tirado a velhos móveis
talvez lhe dê apoio.
E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
é a parte mais feliz
de sua arquitetura.
Mas há também as presas,
dessa matéria pura
que não sei figurar.
Tão alva essa riqueza
a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção.
E há por fim os olhos,
onde se deposita
a parte do elefante
mais fluida e permanente,
alheia a toda fraude.
Eis o meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê em bichos
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa
as formas naturais.
Vai o meu elefante
pela rua povoada,
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho.
É todo graça, embora
as pernas não ajudem
e seu ventre balofo
se arrisque a desabar
ao mais leve empurrão.
Mostra com elegância
sua mínima vida,
e não há cidade
alma que se disponha
a recolher em si
desse corpo sensível
a fugitiva imagem,
o passo desastrado
mas faminto e tocante.
Mas faminto de seres
e situações patéticas,
de encontros ao luar
no mais profundo oceano,
sob a raiz das árvores
ou no seio das conchas,
de luzes que não cegam
e brilham através
dos troncos mais espessos.
Esse passo que vai
sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe,
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.
E já tarde da noite
volta meu elefante,
mas volta fatigado,
as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo o seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual mito desmontado.
Amanhã recomeço.


Carlos Drummond de Andrade