terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Existirmos: a que será que se destina?


- que diferença faria 
se em vez de continuar 
tomasse a melhor saída: 
a de saltar, numa noite, 
fora da ponte e da vida? 
(Melo Neto, 1995, p. 195)


(...)


– Severino retirante, 
deixe agora que lhe diga: 
eu não sei bem a resposta 
da pergunta que fazia, 
se não vale mais saltar 
fora da ponte e da vida; 
nem conheço essa resposta, 
se quer mesmo que lhe diga; 
é difícil defender, 
só com palavras, a vida, 
ainda mais quando ela é 
esta que vê, severina; 
mas se responder não pude 
à pergunta que fazia, 
ela, a vida, a respondeu 
com sua presença viva. 
E não há melhor resposta 
que o espetáculo da vida: 
vê-la desfiar seu fio, 
que também se chama vida, 
ver a fábrica que ela mesma, 
teimosamente, se fabrica, 
vê-la brotar como há pouco 
em nova vida explodida; 
mesmo quando é assim pequena 
a explosão, como a ocorrida; 
mesmo quando é uma explosão 
como a de há pouco, franzina; 
mesmo quando é a explosão 
de uma vida severina. 
(Melo Neto, 1995, p. 201-2)

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