O começo nunca teve fim.
Busco o sofrimento como o moribundo no deserto à procura de água, rastejando, cega e surda, sem sentir nada além do cimento na barriga.
Não, eu não odeio.
Eu não amo.
Eu não amo.
Eu não esqueço.
Eu não quero.
O começo nunca teve um fim e para sempre vai ser um começo, como os contos de fadas que acabam no meio; e foram infelizes para sempre. Sem fim, sem fim. O príncipe se enforcando na ponte do castelo, tirando a corda do pescoço ao fim da cena, porque é tudo uma grande farsa, e ele não é um príncipe, apenas um menino bobo.
E todo o dia seguinte é lindo e quente e ensolarado e me atordoa porque é claro demais e eu vejo todas essas feridas e lambo todas essas feridas e elas nunca cicatrizam, toda vez que o dia chega elas estão lá, no mesmo lugar, marcas de ferro e fogo ao lado do coração burro todo sujo de tinta. Então o tempo fecha e chove, chove, granizo castigando o mundo, o céu despencando, a lama correndo aos meus pés e me afundando, sujando tudo, o olho borrado, tudo embaçado, tudo errado e fora do lugar, o vento dançando nas cortinas, jogando umas gotinhas geladas no meu rosto, perguntando porque eu não chorei. Olha, eu tentei, o sentimento estava lá, engasgado na pontinha dos meus cílios, uma lua crescendo na minha garganta, eu entre o sofrimento que me daria o que eu quero e a felicidade que me dá o que eu acho que não posso suportar porque é bom demais, porque tudo que é bom está errado, o inferno é que está certo, cutucando minhas costas com um tridente e me empurrando para frente.
O dia tem luz demais, prefiro a noite, onde meus olhos ficam muito abertos e as coisas fazem sentido. De noite é tudo como eu quero. Não tem dia no inferno. Não tem dia, não tem flor, não tem nada bonito. O inferno, querido, é meu céu. O dia não faz sentido. Sofrer faz sentido, dê cá meu chicote, já que você não tem coragem de bater.
Sem fim, sem fim. Tudo que eu tenho é um ponto final.
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