mania qu’eu tenho
que escorre pela sonbracelha
toca a boca seca
se estende aos olhos
ao corpo inteiro
das pontas dos pés ao céu-além
mania qu’eu tenho
de amor, de abraço
mania qu’eu tenho
de fugir e nunca mais voltar
mania qu’eu tenho
de ficar triste
mania qu’eu tenho
de ser repetitiva e monótona
mania qu’eu tenho
de escrever em pausas
falar em pausas, pensar em pausas
amar em pausas
amar nos silêncios
mania qu’eu tenho
de colecionar silêncios na irritabilidade dos músculos
mania qu’eu tenho
de contração muscular e tônus exagerado
mania qu’eu tenho
e não quero deixar de amar
mania qu’eu tenho
mas hoje não vou replicar
mania qu’eu tenho
de crises que se conectam as outras crises
um acumulado de sensações uma atrás da outra
uma atrás da outra, dos lados
em múltiplas dimensões
mania qu’eu tenho
que eu disse que eu tinha
e que agora não sei se eu tenho
ou disse apenas para sanar uma lacuna
existente no ponto nevrálgico do não sei o que
que estou sentindo nesse instante que a lua
se encontra vermelha e escondida por entre nuvens
mania qu’eu tenho
de sentir saudade, de acumular saudade
de esquecer que eu tenho saudade
até das mais tenras memórias perdidas
nos confins dos meu inconsciente
mania qu’eu tenho
mania qu’eu tenho
mania qu’eu tenho
que não me deixa parar
e mesmo se eu quisesse agora
eu não poderia, eu ainda não sei de nada
mania qu’eu tenho
e que se alastra pela fáscia
mania qu’eu tenho
e eu sou assim, assim, assim
corpos que vou deixando pelos caminhos
pele morta, sangue...
como se eu fosse soltando excrementos a fora
como se eu fosse me acabando
e me salvando ao mesmo tempo
mania qu’eu tenho
do tempo
agora do processo
dos meus processos
e como são inúmeros
mania qu’eu tenho
e volto sempre para o mesmo lugar
mania qu’eu tenho
do espaço
parece que o ponto nevrálgico seja o tempo-espaço.