quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

me faltam palavras pra dizer do ano de trovoadas e lampejos. e faltam mesmo palavras que envolvam o tudo de dois e catarse, como diria o rafa. palavra é pedra e o ano foi sensação brotando de dentro pra fora, de fora pra dentro. isso aí. tudo. lampejos. abacates estatelados no chão. cavalos com fogo nas patas correndo em direção ao mar. ano de quedas em abismos e lá no fundo de si não estando só de si o conhecimento, transformação, refazer, amar... só soube do amor, nas suas camadas mais doces e amargas. quero agradecer ao universo, que acho que engloba tudo pelo tudo que foi, que é, que serei a partir do que já fui. passado-presente. viva a morte! viva os encontros!! viva o amor esse mais belo ato de vida que carregamos no corpo e não só no corpo. viva o olho no olho, o abraço, o afeto, o sofrimento como abertura para a transformação, a generosidade, o tudo de ruim e de bom, os monstros!!! amor, obrigada por me mostrar que só no amor podemos viajar com aventuras. você é muitx maravilhosx, é uma faca me rasgando e eu nunca sei o que vai acontecer.  

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

eu sei que eu me amo tanto eu me adoro tanto, que eu já nem me esquento com esse negócio de amor, entendeu. eu sei que eu me adoro tanto que antes de qualquer coisa eu vou me ver, entendeu. eu acordo, poxa!... hoje eu acordei tava aquele tempo meio assim aí olhei e falei: poxa são pedro  eu queria ir bem para o trabalho queria ir bem extravagante, não dá pro senhor mudar esse tempo? são Pedro não mandou o sol pra mim, entendeu. então, acho que é assim. acho que é você se olhar, você agradecer a deus, você olhar pro céu. sabe, porque tem gente que passa o dia inteiro na rua. não, eu tenho mania de perguntar pra pessoas – já olhou pro céu hoje? não? eu não acredito. não, porque tem gente que passa o dia inteiro na rua  e não olha pro céu, entendeu.

foi isso que ela disse. 

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

la vida es un carnaval

me ensinaram desde criança que não devemos acreditar nas pessoas, que não devemos depender do outro. e eu me pergunto: o que diabos estamos fazendo aqui na terra senão pra compartilhar encontros? a forma é que tá errada, não devemos é depositar nossa felicidade dependendo do outro. só na troca aprendemos alguma coisa nessa vida. o resto é tentativa frustrada e isolada. o resto é medo de amar e não mergulhar no ABISMO, NA QUEDA, NO ESPAÇO VERTICAL. 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

viajo porque preciso, volto porque te amo


“Por isso fiz esta viagem, pra me mover, voltar a caminhar...”
“Minha vontade agora é mergulhar pra vida, um mergulho cheio de coragem...”

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

"Escrevo-te com a veia aberta pulsando larga, dessa raridade que tu mesmo tem, do horizonte aberto, dessa palpitez do instante, o sufoco que desemboca no riso. A realidade do cérebro atualizada diariamente sem ter porque, burla-nos , se distrai, solidifica, comporta, realiza os repetidos enredos. Que o corpo da agora não pense na impossibilidade, que o corpo não pense, que o corpo se vá distraidamente no sendo. Se a natureza comporta essas dicas hospitalares, essa assepsia virtuosa da sobrevida, essas engrenagens que perfuram os tantos lugares de conquistas, não te baste sólido, nem muitos menos indigesto, crie na largura que existe e insiste, a entrega. E não é um pedido de morte, nem muitos menos um subterfugio da caridade momentânea e do egoísmo do sofrer. Requebra no tecido que se tem a curvatura monumental de uma nova articulação. Noturnas são as teias das entregas, o desgaste vem daquele que insiste no mesmo, é de vida que se tem- e muita- para poder morrer. Dedilho com os dedos do presente, o presente que me deu outrora. Berro de mundo que não quero, arranhando a garganta em desespero, de nada adianta, mas um canto ainda te mando em exagero. A confusão em desord.em, os cumes de apego, é de uma outra extratosfera a correspondecia cognitiva, é de um outro sentido a virtuosidade da razão. Frágil, obviamente, desconhecidos de um sistema espetacular de galáxias e sinapses em órbita do delírio. Ontem vi o encontro de duas galáxias, falo aqui em encontro porque é colisão. Ninguém se aproxima distraído, pacato e complacente, a beleza embrionária do choque cria a natureza necessária da tensão. Como dois rabos gigantes, recurvando-se sobre si mesmo, aderindo-se em espiraloso contato, convergendo a gravidade em dissipação. As galáxias, tão vagas para a nossa numerológica precisão, desatinam-se inteiras, curvam-se, recobrem-se para haver movimento, se saudam em explosão. Desse existir pleno e jogado, arremessado naquele teu largo horizonte, recoberto de nuvens, remexido inteiro em poeira, aberto ao todo momentâneo, carregamos a galáxia inteira e não notamos. E nessa suspensão dormente que, de maneira ou de outra, me encharcaria os olhos, relevo a condição necessária da vida, tão bem saudada, disposta, tratada como o inquilino sobrevivente, do avanço do verme cientifico, da cara disposta em normalidade de enredo. Sabemos que ter uma vida é diferente de se-la no infinito universo em que possa .Cria, cria com o sistema abatido, com a fragilidade exposta, no meio dessa tonalidade imposta, a obra última de partida. O medo desse ato é medo de viver, e pensamos: mas do que nos importa a vida!"

carta da carol barreiro para o vô.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

“O processo de desvendar do amor requer compromisso, requer direcionamento dos vetores da vontade. A vontade é o maior poder da alma; sem ela você não consegue atravessar o mar da ilusão, pois as forças contrárias ao desvendar do amor são tremendas nesse plano. Essa força de vontade é construída com disciplina, dedicação, comprometimento e compreensão. Só faz sentido direcionar os vetores da vontade para uma direção se houver compreensão.”

sábado, 8 de novembro de 2014

eu não consigo parar de pensar em você. é tão trágico e patético essa madrugada de canção triste e choro na parede. de arrepio, chuva, janela, vento... amor... meus pensamentos... meus pensamentos... até eu conhecer outra pessoa que seja eu própria.

vida

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

"é necessário sair da ilha para ver a ilha, não nos vemos se não nos saímos de nós".

apropriações dos nós



sabe uma faca me rasgando,
um mundo se acabando, num sei,
roberto pintor, roberto o homem, a mulher
a mulher terrível, x homem lindx,
a noiva, a morta, o viúvo, a maravilha:
é muito difícil falar essas coisas,
eu não sei, o roberto sempre me trata
com choques elétricos, e eu chego pra ver
elx e me arrebento por elx e me desarrumo
por elx, não sei, é sempre surpreendente,
eu nunca sei o que vai acontecer, e cada vez
é como a vida tivesse se partindo,
se começando, se acabando...
roberto é muito maravilhoso (risos).

estirar o corpo para a mão alcançar o que ninguém vê.


paixão à primeira vista



na menina dos meus olhos



brincante


domingo, 2 de novembro de 2014

no peito dos desafinados também bate esse tambor.



"eu posso. ter a possibilidade de que? de tudo, de quase tudo. um bilhão de motivos para querer algo, aquilo, isso, isto. andar sem cabeças curvadas, sonhar duas bolas de baunilha, uma canção, um beijos, uma viagem ao espaço sideral. se eu posso, na da me impede de imaginar flores bizarras ou mistérios profanos. usar a primeira pessoa: eu. colocar em ação a primeira pessoa: eu. ter ânimo para fazer um plano de ruptura, transformar as coisas sólidas num vai e vem. bulir, mexer, estirar o corpo para a mão alcançar o que ninguém vê. se eu posso, a capacidade me vem, me toma, me move."
eduardo logullo

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

"o verdadeiro dilaceramento reside na necessidade de aceitarmos o provisório - para sobrevivermos." françois truffaut, l'express. 
gratidão pelo dia atípico de ontemhoje.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

sétimo dia: 
agradeço pela dança da vida
agradeço a minha mãe por ser um presente força e coragem na minha vida
agradeço a minha tia que me abriu mundos
agradeço meus irmãos-meus filhos
agradeço cada pessoa que passou em minha vida e que ainda vai passar
agradeço os amigos que me acolhem do jeito que sou
agradeço a dor
agradeço o vinicius meu primeiro amor
agradeço a brincadeira da infância
agradeço o brincar, o despertar, o permitir, o deixar ir, o desapegar, o morrer,
agradeço eternamente o amor
agradeço o amor que me fez ir pra são paulo sem medo e visitar um grande amor
agradeço a camila meu grande amor
agradeço a camila lua
agradeço o roberto esse amor que vai além do que posso intuir
agradeço o vento que renova a vida
agradeço o tempo
agradeço a dança meu grande amor de entrega
agradeço os livros que encontro no caminho
agradeço manoel de barros
agradeço a poderosa clarice lispector
agradeço o mar
agradeço o céu
agradeço as nuvens
agradeço a tati por essa mulher preciosa na vida
agradeço a janaína diniz por me trazer luz num momento de caos
agradeço a arte - sua poderosa transformadora de vida
agradeço a jessica por indiretamente me permitir ver
agradeço a loucura
agradeço a tristeza
agradeço a alegria
agradeço a deus
agradeço a terra
agradeço as deusas
agradeço a sued
agradeço a daniquele
agradeço a luciana hartmann
agradeço as mulheres que me habitam
agradeço os encontros
agradeço a júnia
agradeço a sabrina cunha
agradeço o improviso
agradeço a maíra oliveira
agradeço o esquadrão da vida
agradeço a dinha
agradeço o seu estrelo
agradeço as cigarras essas loucas barulhentas
agradeço a comida
agradeço a víçeras por ser essa família de afetos
agradeço os amores vividos
agradeço júlia brito me acolher sempre
agradeço o silêncio
agradeço a mia couto
agradeço a lucina genro por me fazer acreditar em utopias realizáveis
agradeço a mudança
agradeço as festas
agradeço a coragem, o amor coragem
agradeço a música
agradeço a elis regina
agradeço o perdão
agradeço a mariana aydar
agradeço o caetano
agradeço a roberta sá
agradeço o espaço
agradeço brasília por andar a pé junto comigo
agradeço as árvores
agradeço a transformação
agradeço o tudo
agradeço a dani diniz
agradeço o instante
agradeço a vida
agradeço, agradeço, agradeço
e vou passar a vida agradecendo por tudo que me vier
obrigada vida!
tenho certeza que esqueci muitos presentes, mas que eu seja perdoada
pois metade de mim é amor e a outra metade também.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

"se é pra ser solidão, que seja uma solidão como fumaça!"


com o amor, que se espanca doce.




"a fé corre, a razão fala, a emoção tomba, o medo se protege, a verdade late. corra! corra! corra!"

O que eu sou... eu sou... eu sou um abacate estatelado no chão. É que quando eu olho de frente pro meu elefante a gente diz adeus. Adeus! E nós jogamos no abismo da vida! Caímos juntos, numa queda livre. Damos as mãos e do alto GRITAMOS: EU TE LIBERTO! EU TE AMO, EU TE AMO! PODE CAIR PROFUNDO EM DIREÇÃO AO AMOR. CAI SEM MEDO, SE POSSÍVEL FOR DANCE ESSA DOR. ESSA LÁGRIMA PRECISA SE TRANSFORMAR! Na frente da minha janela tem pé de abacate, e ele me ensina de tempos em tempos, de caídas e caídas que a vida é assim. É assim mesmo. Só depende dos teus impulsos a queda livre. Não tem para onde fugir. A gente foge porque ainda tem medo, tem um cachorro latindo alto dentro da gente. A gente pode não ver, mas uma hora isso se fará tão presente como um abacate que caí. A gente sente muito! Muito tudo, tudo e tanto! A gente sente muito a vida rasgando a pele da gente, perfurando as camadas, a gente é ser sensitivo cara! Não tem como não ser. A gente não aguenta aí dança.  Eu danço porquê senão eu morro doente. E morrer doente estraga as raízes! Porque a vida já não é tão pequena... e lá no fundo algo te late, ou como me seria: meu elefante LATE! GRITA! LATE! GRITA! LATE! Esses dias eu disse adeus a mim. Disse a mim mesma que me libertaria de toda defesa que pudesse atravancar o amor. Não estou de acordo com sua covardia, porque o amor que correr pelas ruas, que pular catracas, quer gritar pra quem quiser ouvir, que brincar de subir em árvores, quer descansar debaixo de uma árvore fresca, que correr com fé em direção ao mar, CORRER COMO UM ELEFANTE FEROZ EM DIREÇÃO AO MAR! SER ONDA INTENSA NUMA QUEDA LIVRE! Meu deus como pude ter me silenciado tanto, me enganado tanto, me matando tanto! Doente. CHEGA! CHEGA! CHEGAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! Porque o mar é queda mais doce que pode existir. É a queda livre dos abacates do meu jardim, eles caem pra se molharem no mar! Caem porque não se aguentam mais e se libertam! Caem porque AMANHÃ RECOMEÇO! 

o vento que sopra entre nossos fios


Brasília é muito ampla. O que mais se escuta por aqui são os carros e os pássaros. Às vezes não se escuta nada, mas eu não aguento e tenho que tapar os ouvidos bem forte com os dedos. É um exagero, eu sei. Mas quando se fala de um espaço imenso, onde estão as pessoas?
Meus olhos ficam a procura de pessoas coloridas: uma pessoa azul poderia facilmente se confundir com esse céu enquanto voasse, uma amarela poderia muito bem estar empoleirada nos galhos de um ipê, e com certeza eu não conseguiria distinguir uma pessoa vermelha tirando um cochilo sobre a terra sangrenta do cerrado. Mas tem o vasto concreto, onde ninguém pode se esconder.... De certo as pessoas estão em suas vidas.
Existe tanta sutileza no óbvio...
Num amplo espaço de vazio, as árvores rompem o território de Brasília - existem árvores, pássaros, carros e eu.
Entre eu e a seca de setembro, avisto ao longe uma pessoa caminhando. Uma pessoa e o espaço. Uma pessoa grão no espaço, ou do espaço.
Não é preciso definir um grão de existência no infinito do existir. Apenas se é e isso já é tudo. Me perdi e começo a sentir a cidade falando pelo corpo.
De surpresa, o acaso desembrulha um leão caminhando na savana de setembro. Um amigo leonino passa por trás de mim. Só percebi que era um amigo, porque olhei movida pela curiosidade de saber quem habitava aquele espaço tão amplo. Uma dimensão subjetiva da manhã, um sol rasgando o meu silêncio. Meu minuto de silêncio interrompido.
Ele, esguio e magro, passava pelo caminho dos desejos com sua juba invisível e seguiu em frente. Nada disse e passou. Passante. Talvez ele não quisesse interromper o meu espaço amplo. Naquele momento eu habitava um amplo espaço, eu era um grão de existência debaixo da sombra de uma árvore do cerrado no mês da seca. Ele era o passante a romper o vazio de Brasília.
Brasília é espaçosa. Em todo canto as aranhas constroem condomínios de luxo. E o vento que sopra entre seus fios, corre por Brasília com oito pernas de saudade em direção ao mar. Aos mares. A mim. Ás vezes, eu mesma estou seca e o vento morre na praia. Então eu passo a língua nos lábios e uma onda transforma esse corpo de vento em som.
Tentei assoviar para o leão, na tentativa de um contato direto, mas não surtiu efeito direito. Não insisti e voltei para o encontro imediato com espaço. Espaço. Espaço. Tão amplo e tão tempo... é essa a imagem que percorre meu dia a dia pela cidade. Eu ando a pé para acalmar as ondas. Eu ando a pé para desbotar a minha cor de concreto, pra alimentar outros desejos, pra descobrir novos caminhos.
As pessoas existem nos espaços amplos de Brasília.
Brasília é meu castigo.

Marcia e Roberto

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

pelo direito de ser monstro


Era uma roda, eu de frente pra ela. Ela de frente pra mim. Na verdade só existia eu e ela. Meu olhar já não tão meu. Quando vi, eu estava apaixonada por ela. E nunca tinha pensado sobre isso, e por um olhar profundo me entreguei pela primeira vez.
...
Esses dias eu lembrei que o primeiro beijo que eu dei foi de baixo de uma árvore. Eu e ela que não mais me recordo, o nome, a data, fizemos uma casa de pano debaixo dessa árvore, era um dia de ensaio de chuva. Estava frio, mas me recordo pela sensação e memória do corpo que boca dela era quente. Meu deus como eu pude ter esquecido isso.
...
Eu fui a São Paulo visitar um amor e comprar meias. Passeando pela avenida Paulista, ou Augusta. Minha memória me escapa a avenida, mas me lembro de te visto uma mulher com mini short e um tope, ela dançava sua sensualidade pura nas ruas da cidade. Foi o olhar mais convidativo e sensual que uma mulher me lançou.
...

Eu sempre me achei um corpo masculino. Olha esses braços... esse tronco é muito masculino. É por isso que na infância as crianças me chamavam de Maria, Maria Machão! Eu tinha um ódio disso. Eu sentia que tinha algo errado com aquelas crianças. Eu não entendia e chorava, comecei a bater em todo mundo que me caçoava.  Olha só que brutalidade que truculência que eles nos fizeram. 

receita para arrancar poemas presos

A maioria das doenças que as pessoas têm
São poemas presos.
Abscessos, tumores, nódulos, pedras são palavras
calcificadas,
Poemas sem vazão.
Mesmo cravos pretos, espinhas, cabelo encravado.
Prisão de ventre poderia um dia ter sido poema.
Mas não.
Pessoas às vezes adoecem da razão
De gostar de palavra presa.
Palavra boa é palavra líquida
Escorrendo em estado de lágrima
Lágrima é dor derretida.
Dor endurecida é tumor.
Lágrima é alegria derretida.
Alegria endurecida é tumor.
Lágrima é raiva derretida.
Raiva endurecida é tumor.
Lágrima é pessoa derretida.
Pessoa endurecida é tumor.
Tempo endurecido é tumor.
Tempo derretido é poema
Você pode arrancar poemas com pinças,
Buchas vegetais, óleos medicinais.
Com as pontas dos dedos, com as unhas.
Você pode arrancar poemas com banhos
De imersão, com o pente, com uma agulha.
Com pomada basilicão.
Alicate de cutículas.
Com massagens e hidratação.
Mas não use bisturi quase nunca.
Em caso de poemas difíceis use a dança.
A dança é uma forma de amolecer os poemas,
Endurecidos do corpo.
Uma forma de soltá-los,
Das dobras dos dedos dos pés, das vértebras.
Dos punhos, das axilas, do quadril.
São os poema cóccix, os poemas virilha.
Os poema olho, os poema peito.
Os poema sexo, os poema cílio.
Atualmente ando gostando de pensamento chão.
Pensamento chão é poema que nasce do pé.
É poema de pé no chão.
Poema de pé no chão é poema de gente normal,
Gente simples,
Gente de espírito santo.
Eu venho do espírito santo
Eu sou do espírito santo
Trago a Vitória do espírito santo
Santo é um espírito capaz de operar milagres
Sobre si mesmo.

Viviane Mosé

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

galope rasante

e surge o entendimento do não pertencimento. o desajuste. o desencaixe. eu não pertenço a nada que não seja a mim. me pertenço e já não sei se me pertenço. cansada disso que mora em mim e que  não tem nome. é uma dor que carrego, que nasce todos os dias. que transformo em alegria, que só sei que tá aqui dentro como um elefante a andar pela cidade. cansada dessa dor que também é meu alimento pra vida, que é a cor da minha alegria. cansada sim, mas não me desisto. me curo das setes quedas. quero me levantar. cansaço de entender a lógica. eu quero só ser. mas não. eu sou um gerúndio. uma criança que guarda na profundeza do seu abismo uma esperança. esperança é um nome bonito, mas preciso ter cuidado com ela. ás vezes acho que tenho esperança demais. sonho demais. me aguardo demais nas profundezas de mim. não sei se isso me faz tão bem. não faz, não fez. esperar um amor que sempre parte sem silêncio não faz tão bem. estou confusa com esse amor que me rasgou inteira, que me faz acordar pela manhã tendo esperança de viver, de olhar pro céu e morrer de amor. me rouba o pensamento por alguns segundos em parte do dia. eu tento controlar e já estou falando desse amor que preciso dizer adeus. e nem sei se tenho, ou sim tenho. se me envergonho desse sentir. essa vontade de mandar mais um carta dizendo estou partindo, estou rompendo de amor, estou indo a teu encontro em cumuruxatiba. 

ainda tenho esperança

domingo, 5 de outubro de 2014

embaraçados feito nós


vai


mas "óh", não é papo de luz no fim do túnel
e o caralho.
nem atalho pra felicidade.
é só o chiclete da dor que masco até perder o gosto
e então cuspir e dizer:
- já vai tarde!
de peito vazio caminhando pela cidade te encontrei
a chuva revelou seu cheiro absurdo doce
sua estranheza me chamou o desconhecido.

a menina-menino adormecida acordando
comendo a fruto do lobo
a fruta mais intensa que já lambiscou.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

"não há universo quando não há verso
quando não há uni
une quando verso
não há quando
meu desamor
meu amor
meu grande amor
meu ódio
meu ótio
outra palavra mesmo
porque é outra coisa."

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Elegia 1938

o elefante

Fabrico um elefante
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira
tirado a velhos móveis
talvez lhe dê apoio.
E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
é a parte mais feliz
de sua arquitetura.
Mas há também as presas,
dessa matéria pura
que não sei figurar.
Tão alva essa riqueza
a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção.
E há por fim os olhos,
onde se deposita
a parte do elefante
mais fluida e permanente,
alheia a toda fraude.
Eis o meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê em bichos
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa
as formas naturais.
Vai o meu elefante
pela rua povoada,
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho.
É todo graça, embora
as pernas não ajudem
e seu ventre balofo
se arrisque a desabar
ao mais leve empurrão.
Mostra com elegância
sua mínima vida,
e não há cidade
alma que se disponha
a recolher em si
desse corpo sensível
a fugitiva imagem,
o passo desastrado
mas faminto e tocante.
Mas faminto de seres
e situações patéticas,
de encontros ao luar
no mais profundo oceano,
sob a raiz das árvores
ou no seio das conchas,
de luzes que não cegam
e brilham através
dos troncos mais espessos.
Esse passo que vai
sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe,
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.
E já tarde da noite
volta meu elefante,
mas volta fatigado,
as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo o seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual mito desmontado.
Amanhã recomeço.


Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

chegança tropical magica apetitosa




"...idealmente, as pessoas deveriam se unir já se sentindo preenchidas por si mesmas e ficarem juntas apenas para apreciar isso no outro, em vez de esperar que outro supra essa sensação de bem estar que elas não têm sozinhas".

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

gerúndio absoluto

acordei balançando às cinco da manhã...
a boca babando com fome de vida
a língua molhada
coração pulsando
acordei ao som de pássaros
inúmeros vizinhos cantando a cidade invisível
o silêncio absoluto dos pássaros
a cidade ainda escura
os abacates compartilhando  o divino absoluto comigo.
“A gula está relacionada à repressão sexual. Existe um fino canal que liga a ponta da língua ao sexo. Você não pode realizar a meta da vida sem passar pelo sexo. Quando puder se libertar da repressão, todo o seu sistema vai relaxar, e um espaço interno se abrirá. Então, sua consciência te ajudará a se alinhar com os hábitos alimentares.”

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

identificação absoluta

o mar termina onde?

pressentindo sua presença resolvi sair de casa com uma sacola de plástica pra proteger meu fone de ouvido. e você veio como meu instinto pressentiu. você sabe que sou apaixonada por músicas, que quando corro pela cidade meus ouvidos viram uma discoteca ambulante. o plástico salvou a tecnologia. enquanto eu, livre, corria como um cavalo com água nos pés. dessa vez foram águas nos meus pés que me lançaram no abismo da vida. de gotas pequenas até trovoadas intensas da chuva tanto esperada por mim. você veio. corri, corri, corri, corri... senti você em mim. me rasgando, me invadindo, me amando, me querendo por todos os lados. eu te tive em pressentimento e presença. e acalma do fim do arrebatamento trouxe o caminhar. caminhei com você e o vento que nos levou além de nós. sopramos, chovemos, dançamos numa quarta de impulsos. dessa vez resolvi voltar pra trás, você já tinha cessado, mas a presença havia mudando todo espaço, o cheiro das coisas. voltei e tudo não era a mesma coisa que tinha sido da corrida inicial. era tudo assim novo novamente. as cores estavam azuis, o amarelo no azul, o verde no azul... o azul no caminho se fez de volta pra casa. aí pensei nessa vontade louca que estar me dando de dar um tempo com brasília. eu a amo, mas precisamos dar um tempo. preciso disso pra viver. ela me entende.
te contei que peguei no caminho cagaita? que a primeira mordida que dei senti a vida em mim? te contei que catei no caminho uma fruta desconhecida? não sei do que se trata. ela tá na cozinha agora me esperando.
ela me chama nesse momento. 
“O aprofundamento em uma relação amorosa não pode ser forçado. Às vezes a entidade precisa de variedade, até como um remédio para curar a repressão, e porque talvez ela ainda não esteja pronta para olhar para certas páginas do livro da sua vida. Mas não há nada de errado com isso, são apenas momentos na jornada. Não caia na armadilha do eu idealizado que faz você se cobrar o que não tem para dar. Ele é um tirano cruel que exige que você seja uma coisa que não é. Ele pede que você se entregue para uma relação, mas talvez você não esteja pronto para isso.”

"o que vemos só vale - só vive em nossos olhos pelo que nos olha".

o caminho é longo e a vida é breve. a vida é breve e surge uma coragem desmedida em mim. um cavalo no meu peito correndo em direção ao mar. olha a vida e quer molhar o corpo inteiro no mar das incertezas. um paradoxo, uma coragem de viver na intensidade do amor que me rouba do tempo. que me rouba de mim e me perco.
o tempo que cura a dor e transforma em pulso a vida. batimentos cardíacos sem categorias.
descobri que a caminhada se faz a pé mesmo, passando por todos os tipos de terrenos. e quanto mais me encaminho a mim mais posso sair dos meus castelos. sair pra passear, ver, olhar, sentir, respirar, silenciar. 
os tijolos eu vou derrubando pra construir outros caminhos. caminho de árvores me parecem mais vivos que tijolos e muros de pele. 
nunca fui covarde em andar pela vida. se tive medo fui com ele. a entrega talvez não tenha sido tão plena, mas talvez não fosse o momento naquele processo.
e não é à toa que se tem uma vida pra viver. se bem que não acredito em apenas em uma. a vida é um dos mistérios mais divinos que pode existir. é lindo isso. não tenho palavras, mas tenho sentimentos pulsando em mim. se eu pudesse dançar isso por meio dessas palavras, talvez alguém enxergaria.
a minha jornada foi feita de encontros e de fugas. agora nesse tempo de mudanças e trovoadas vindo da vida  não preciso mais fugir. me tornei pra mim um encontro vasto. um risco de querer me conhecer a cada em encontro. de me abandonar e voltar a mim. de ir no outro mesmo com avalanches e redemoinhos internas. tenho aprendido a ter mais calma. calma de um bebê recém-nascido conhecendo a vida.
curioso que nessa busca de liberdade tive que conquistar minha  solidão primeiro. conquistar minha solitude dançando e tendo medo. o medo que me impulsionou para o abismo. eu sempre me joguei em abismos, vou fundo. quando vejo já estou estatelada no chão como um abacate que cai na seca. abacates se lançam do alto como quem se lançam na morte querendo nascer. eles se jogam pra se perder na terra. "... tem força suficiente para admitir que quando não mais se aguenta... tomba... quando não suporta cai, desapega, desgruda, em queda livre, ponto em risco até a semente..."
o bom da vida é se perder. abraçar seus monstros e anjos. olhar pra vida com olhos de criança. porque a realidade é uma das piores ditaduras que pode existir.
quero antes de tudo agradecer a vida pelos sinais de amor que sempre existiu. pela delicadeza que sou agora pra ter calma de viver. agradecer pelo engajamento de vida que sempre existiu e que agora e percebido com mais intensidade. obrigada pela abertura para outro. e não é fácil. nunca foi.
melhor que a solitude de se ser é caminhar a pé com outros. somos. não estou mais sozinha, pois percebo que a coragem e a covardia é um jogo que se joga a cada instante do viver.  

sábado, 20 de setembro de 2014

é sonho-segredo, não é segredo.

pra iluminar meus monstros e anjos, pra encontrar a paz pelo espaço

cada um descobre o seu anjo tendo um caso com o demônio.
m.c


https://soundcloud.com/leticiafialho/let-cia-fialho-passeio
manoel de barros-me diz, nesse sábado tão quente. 
(...)não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
perdoai. mas eu
preciso ser outros.
eu penso
renovar o homem
usando borboletas.
tens medo de fazer amor comigo?
- tenho - respondeu ele.
- por eu ser preta?
- não, não é por seres preta que eu tenho medo.
- tens medo que eu esteja doente...
- sei prevenir-me.
- é porquê, então?
- tenho medo de não regressar. Não regressar de ti.
m.c
cozinhar é um modo de amar os outros.
m.c
“Eu estou te convidando para ir além do medo, além do controle. Estou te convidando para viver a experiência de estar vulnerável, deixando Deus te levar. Simplesmente relaxe e esteja atento a sua intuição, à sincronicidade. O seu coração sabe o caminho.”

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

terça-feira, 16 de setembro de 2014

será que eu suplico e fico a sua espera, ou me despedaço e faço esse amor morrer

pra dizer adeus a toda defesa que pode existir

sonhei com você
novamente uma visita efêmera
tentei te dizer abafada pelos teus beijos
quase não resisti
o sonho acabou, toda dor de perdas
toda magoa viajou pra lugar nenhum
não tem mais endereço em mim
sonhei contigo pra dizer adeus
meu grande amor
se o amor ainda quiser a gente
ele vai nos dizer
hoje digo adeus pelo direito de ir e vir
e eu não sei onde isso vai dar
pois não mando no querer

adeus

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

domingo


vou andando pela cidade. esbarro aqui, esbarro ali. e chego nos encontros. eu e ela, a cidade. brasília.
e você pode andas por brasília? por onde andou e levou um pouca da cidade no corpo, no pulso da memória? e se eu te pedir pra compartilhar uma (mais que uma) memória, você me empresta sua história com a cidade de brasília?
é simples, bem simples... você me envia uma foto de um lugar de brasília que te causa afeto, seja lá qual for esse afeto. amarelo, rosa, azul, vermelho, preto... água...nuvens... cachorro... carrinho de picolé...tá valendo. se quiser também compartilhar sua história com o espaço, também é bem vindo. é mais que bem vindo.
sei que eu não disse muita coisa sobre essa relação entre eu e brasília, mas vou dizer duas palavras que norteiam essa dança: solitude e encontro.
pros que toparem embarcar nesse barco, peço que enviem um email pra marcinha com sua foto e história. quem sabe uma carta... ela adora receber cartas.
ps: se puderem compartilhar esse convite, vai ajudar a redear o chamamento ;)

quando pego na sua mão





sábado, 13 de setembro de 2014

brasília não é mais a mesma



brasília é muito ampla. o que mais se escuta por aqui são os carros e os pássaros. é um exagero, eu sei. mas quando se fala de um espaço imenso onde estão as pessoas? de certo elas estão em suas vidas. é tão óbvio na sua sutileza.
ora ou outra, ora entre outra num amplo espaço, no entre eu e a seca de setembro avisto ao longe uma pessoa caminhando. uma e o espaço. uma pessoa grão no espaço, ou do espaço. me perco, pois não é preciso definir um grão de existência no infinito do existir.
por esse mesmo espaço seco de setembro, tortuoso e luminoso um amigo leonino passa por de trás de mim. só percebi que era um amigo, porque eu olhei movida pela curiosidade de saber quem habitava aquele espaço tão amplo. uma dimensão subjetiva da manhã, um sol rasgando o meu silêncio. meu minuto de silêncio interrompido.
ele esguio passava pelo caminho dos desejos e seguiu em frente. nada disse e passou. talvez ele não quisesse interromper o meu espaço amplo. naquele momento eu habitava um amplo espaço, eu era um grão de existência debaixo de uma sombra de uma árvore do cerrado no mês da seca.
tentei assoviar pra ele na tentativa de um contato direto, mas não surtiu efeito direto. não insisti e voltei para o encontro imediato com espaço. espaço. espaço. tão amplo e tão tempo essa imagem que percorre meu dia a dia pela cidade. de ir e vir.
de um extremo ao outro comecei a ser vista por pessoas. ainda dava para contar nos dedos...  as pessoas existem nos espaços amplos de brasília.

brasília é meu castigo. 

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

empoderamento



como eu amo a vida. é uma espécie de mágica. é uma dança que me desloca pra dentro e fora de mim. é um instante pequeno e gentil de entrega. e só basta eu ficar atenta, forte, com um olhar amplo, generoso e vivo. é preciso viver com coragem a cada instante único que se pode ser pleno. é preciso se entregar. hoje tenho dimensão desse amor, das oportunidades que ela me oferece. e como são tantos os sinais no caminho. antes eu tinha medo, era cega e não via seu emaranhado do todo que nos une. um elo. eu só quero agradecer a ela, pelo inúmeros presentes no caminho, que vão desde encontros com pessoas preciosas e abacates estatelados no chão, ipês amarelos feito algodão doce, nuvens no céu, eu indo ao encontro de um grande amor. um grande amor que nunca morre. e se morre é pra nascer diferente. transformado.  re-curso de um rio. vivo. obrigado por tudo, vida!obrigado pelo entendimento do desatar nós, do desatar defesas do meu coração, essa dureza imposta que agora posso transformar. amo você vida! amo tudo isso e tô aqui com coragem pra viver. pra ficar descabelada e assanhada de querendo toda em mim. 

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

reconhecendo o amor



me perdi na escrita por querer te encontrar
e me encontrei
me encontrei sentada sozinha num pé de cupinzeiro
lá estava eu a meditar,
a escutar a música que a vida quer me presentear
escrevi sem vaidades pra entender, pra não entender
pra rir e chorar esse amor que tanto me transformou
que raiou um amor adormecido pelo sofrimento
que fez nascer um novo amor coragem
coragem pra combater o medo.  

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

catapimba

"É que assim, do nada 
Não me preparei para receber amor, só me preparei para fugir 
Talvez dessa vez eu fique"

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Manifesto pela ocupação amorosa dos corações vazios

"E de agora em diante, fica estabelecido que todos os corações vazios, mal amados, partidos, abandonados ou tão somente subutilizados serão pacífica e amorosamente invadidos e ocupados pelo amor em todas as suas formas.
Sem paus e pedras e enxadas, mas com flores e música e presentes e simples declarações de apreço e cuidado, o amor tomará posse irrevogável de todo e qualquer coração devoluto. Banqueiros e bancários, construtores e operários, empresários, professores, artistas de rua, profissionais de toda sorte, adultos e crianças e velhinhos, todas as almas solitárias deste mundo! Preparem-se para ceder sem luta à chegada implacável do amor às terras férteis de seus corações.
Abram seus portões, escancarem as portas, liberem as janelas, prendam os cachorros e preparem a casa à visita permanente do amor operário, trabalhador, corajoso e simples. Ele vai chegar sem slogans ou passeatas, sem discursos, gritos de guerra ou enfrentamentos com a polícia. Vai surgir na hora mais silenciosa da noite, deitar ao seu lado e acordar com você na hora de ir ao trabalho, como se ali estivesse desde sempre.
O amor vai chegar assim, de manso, mas com o passo forte e a potência de um jato varrendo a craca dos rancores, a sujeira grossa dos maus pensamentos, a gordura acumulada das chateações diárias, da burrice, da inveja, da grosseria. Virá com a força mesma da vida, desobstruindo os canais da memória entupidos de morte. Virá alegre como o cão que reencontra o dono depois da eternidade de um dia inteiro sozinho em casa, à espera.
E então as preocupações ordinárias e mesquinhas farão as malas e deixarão os corações livres para viver em absoluto estado de ocupação plena pelas intenções e ações de um amor generoso, diário e vital.
Esse amor que acorda cedo e faz ginástica, que parece tão mais jovem do que de fato é, esse amor vai pintar as paredes da casa, mudar a posição dos móveis, vai matar a sede e a fome que restam, soltar os passarinhos de suas gaiolas ridículas, vai cuidar da horta no quintal e presentear os vizinhos com as verduras frescas. Esse amor vai florescer e perdurar e se esparramar pelas redondezas. Vai levar ao passeio diário os cachorros que vivem dentro de cada um de nós. Esse amor vai invadir em paz a nossa vida tão talhada para a guerra.
E quando as forças armadas de um coração já machucado se levantarem em defesa natural de sua estrutura, em puro e simples movimento de autopreservação, o amor estenderá sua mão pequena e linda, de unhas roídas e sem nenhum esmalte, e todas as armas cairão em silêncio. Então esse coração abrirá suas fronteiras à chegada irrefreável do encantamento amoroso e total, explosão de energia que nos leva ao encontro de quem somos, nos resgata da morte e nos devolve, sãos e salvos, à vida que é hoje, amanhã e depois um longo e eterno agora."

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

domingo, 31 de agosto de 2014

cura-me


uma noite qualquer e toda a sua impermanência dos encontros. um paradoxo de se permitir e esquecer. perdoar. um olhar sem medo o que o corpo tem a dizer. o poder do corpo. uma noite vermelha. intensa. uma cozinha desenhada com muitas flores bocetas.
mil mulheres podemos ser na fila do supermercado, na pia da cozinha. na minha cama que meu sexo me conecta com a vida. em qualquer lugar.
instinto.
corpo fera desatando nós. desatando o medo querendo ser coragem. coragem amor pra combater a covardia a cada instante do viver, do desejar algo que é além do que posso imaginar.
perceber no distrair e não no fugir que a intensidade nos aproximou, e também, nos afastou. me corrói a ausência, o não dito, o incompreendido, a fuga que não foi só minha. me dói no peito e me fortalece. me faz romper as jaulas que não são só minhas. transformando o não , desatando o não.
movendo os moveis do lugar, removendo minhas memórias das paredes.
relembrando que num primeiro encontro parangolé a pureza foi um mito. o que existe,  tem e é, é a imperfeição e um aceitar o outro em todas as suas potencialidades. ter concessões pelo amor, ter coragem pra combater a apatia, o peso e a defesa que ainda pode existir.
que a alegria também se constrói. ela existe em mim também.
tudo é construção.
é um invento que posso intuir.
é contradição. é momento. é nada.
te vejo no meu presente, no meu futuro, no meu passado. no meu destino.
isso parece que existe. é um perfume em mim.
é um palco vazio trazendo a nostalgia do encontro impermanente.
é a fragilidade do amontoado de palavras que me levam a nada, ou sim, me levam ao meu encontro.
do descobrir solitude.
janelas com luzes  que me causam uma grande saudade nostálgica da sua presença passional. fugitiva. la fugitiva. aventureira.
pela infâmia do destino pode ser que seja só melancolia. outro ensaio melancólico de mais uma perda.
escrevo pra entender e pra esquecer. perdoar, assim com toda prolixidade e repetição das palavras. e quando não lembrar com tanta precisão, voltar aqui. não sei. não sei.
porque é natural que seja assim você aí. e eu exatamente aqui. e isso é lindo. vai durar.
estou te amando no gerúndio
é serio
é possível o passageiro
me lasquei
não sustento nada
não me cobre
não me infâmia
não me castigue
.
.
.
dar vontade de ser outra pessoa
diferente inconstância
bandoleira
o si mesma fiel a mim
a ti
.
.
.

e que seja mágico.