era seis e pouco da tarde. eu no ônibus de volta pra casa comendo biscoito de água e sal. olhava pela janela como quem procura algo que não se sabe, não se pensa. alguém solicitou o ônibus, ele para. eu paro meu olhar num menino na parada de ônibus esperando seu ônibus. como quem não quer nada ele me manda beijos tão sinceros e gratuitos, que retribuo com um sorriso. ele ri volta e me pede um biscoito de água e sal. e antes do ônibus partir, pela janela no ônibus lhe dou meu biscoito de água e sal e muito amor. ele diz obrigado e parto pelo meu itinerário.
Saturday 17th in Brasilia. Strong sun, the clouds, rain, crazy rain, lightning, thunder, and rainbow, sky gave us a lot of emotion and gift of nature...
bem leve que é pra chamar a chuva. uma dança-chuva que toca todas as minhas memórias, tudo que sou e não sou. a minha dança é beira. é um sereno no céu, é um fogo na terra, é um vento velozzzz, um sol no mar, um rio no meu corpo. é um tanto e nada. é uma última dança, é muita gota de suor. é um toque de nuvem. é amor. minha dança é amor, eu sinto amor.
obrigada aos deuses do infinito que trouxeram a chuva mais convidativa do dia de hoje, em que morremos 26 milhões de vezes. obrigada sol pelo fio que nos conectou. obrigada Carol pelo olhar mais beira e transbordo que já vi dançar. obrigada Atsushu por mostrar um caminho de flores, cerejeiras, magma, estações. obrigada Hiroko por cada som que irradiava nossa dança. obrigada Sabrina por ser o que é, e me inspirar. obrigada em especial a chuva que me fez tão feliz e solta, sorriso e pulos, abraços, beijos, cambalhotas, entrega, árvore...vento. tudo dez mil vezes por segundo.
dançar
nas estações do ano sem pensar, ser uma flor na primavera que não pensa, e já é
o bastante. receber e apreciar as flores no útero. flores. amarelas, vermelhas,
roxas, brancas... dançar suas cores e morrer, ainda que a morte não exista por
ser uma passagem tão fluida que se conecta intimamente com a vida. dançar,
dançar, dançar, dançar, não é preciso dança quando se é. um
corpo-água-flor-magma-árvore-de-cerejeira-folhas-vermelhas que caem no outono. no
verão, a fase poderosa de todo ser de luz e escuridão que dança com larvas no
seu útero. dança dos deuses: dor, morte, vida,
qualquer deus... ser um olhar de cristal que não foca e percebe o
infinito a frente, dos lados, atrás das costas tem um infinito. eu me
transformo num deus que dança, seja qual for o sentimento que irradia dentro de
mim. chega o outono, a beleza da morte. as
flores vermelhas enrugadas pedem vida e morrem. morrer sendo abraçado pelo
vento-água, lentamente até o encobrimento da terra que irradia vida. flor que
envelhece, uma beleza oculta, e mesmo envelhecendo e morrendo ela continua abrindo-se
para vida. dever ser por isso que a morte não existe. e esse é o presente da
vida: a morte. somos um presente que alimenta a vida, um presente que sente
tristeza e felicidade. ser, ser, ser, ser, ser, serestar... antes de começar a
cair no chão, qual será meu último esforço? um animal sempre é 100% até não
conseguir mais, e morre. quando se dança o tempo não existe, e isso não tem importância
alguma. logo vem o inverno e a última dança se aproxima. 26 milhões de mortes
para transformação. aprender a vida olhando a alma do outro. viver, envelhecer,
e morrer até o último segundo olhando... cada morte é diferente e possui um
olhar de cor e trilha única. a última dança é minha experiência, são minhas
memórias tristes e felizes na transparência de um rio. e não pensando faço a
minha melhor e ultima dança. qual seria a minha última forma? talvez nem seja
essa.
"Sadness gives depth. Happiness gives height. Sadness gives roots. Happiness gives branches. Happiness is like a tree going into the sky, and sadness is like the roots going down into the womb of the earth. Both are needed, and the higher a tree goes, the deeper it goes, simultaneously. The bigger the tree, the bigger will be its roots. In fact, it is always in proportion. That's its balance."
"Tristeza dá profundidade. Felicidade dá altura. A tristeza são as raízes. A felicidade são os ramos. A felicidade é como os galhos da árvore que crescem em direção ao céu, e a tristeza é como as raízes descendo no ventre da terra. Ambos são necessários, e quanto maior a árvore é, mais fundo as raízes vão, simultaneamente. Quanto mais alta a árvore, mais profundas serão suas raízes. Na verdade, é sempre proporcional. Esse é o seu equilíbrio."