terça-feira, 28 de agosto de 2012


Não quero que você me coma
Não quero que você me engula
Não quero que você me acorde
Não quero que você me durma
Não quero que você me assista
Não quero que você me assuma
Não quero que você me corte
Não quero que você me inclua

Eu só quero um segundo teu
E um segundo meu
Um instante de dois
Sem mais, nem pra depois eu te dizer
Que eu te amo não
Te amo demais para ser prisão
De dois
Amor

domingo, 26 de agosto de 2012

“Esta noite tudo pode acontecer... inclusive nada.”

(Pichação em muro de São José do Rio Preto (SP), 2002)
(Trecho retirado da tese de doutorado de Jardel Sander da Silva "Camelos também dançam. Movimento corporal e processos de subjetivação contemporâneos: um olhar através da dança").

sábado, 25 de agosto de 2012


um lenço verde sobre a grama
uma menina passou correndo com um ratinho na mão
outra passa toda colorida com um cachecol vermelho
do meu lado o lago e o por do sol laranja
e o silêncio da tarde cinza que é Brasília
na ponte de concreto passos largos de pessoas distantes
sábado sisudo varreu meu entardecer
cultivei alguns silêncios cinzas
até aparecer balões e um sapo
uma menina sem nome passou e plantou o mesmo sapo numa árvore
que parecia chegar nas nuvens dos seus olhos
outra moça morena fotografava e escondia o tempo no seu bolso
seu nome era Júlia
ela não disse, mas eu suspeitei
e tão delicada que era me emprestou sua máquina captadora de tempo
no lenço verde sobre a grama
enquadrei uma moça rosa que esperava sorridente
a moça que havia corrido com seu ratinho
o sol cansou-se da tarde e foi embora para outro pais
não deixou remetente, não disse adeus
mas deixou um amor flutuando no lago
era um balão amarelo que flutuava sobre água serena
depois apareceu outro balão rosa claro
e outros de outras tantas cores
que cabiam dentro dos meus olhos
e enfim a noite me acolheu


sexta-feira, 24 de agosto de 2012

o toque dela é água
um sutil  vento de água que passou pelo meu cabelo, rosto
inverteu o tempo-espaço
despertou um lugar invisível em mim
trouxe luz e cor
o abraço dela é rio que quando sinto me perco
o silêncio dela é uma dança
o toque dela é água
e eu viro peixe. 

terça-feira, 21 de agosto de 2012

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

corazón batiendo fuerte. sentimiento de viajen.


chegô gogô dagô



o pêssego e o chá verde


o amor é um abraço. o amor é uma chegada. ás vezes chega de perto, outras de lisboa. o amor  é muito e quando muito transborda. ameixas. amoras. amarelas. amarelos. o amor é quando uma alegria bate na boca do estômago. o amor é quando cores caem numa folha branca. o amor tem muitos nomes, nasceu pra ser gente, e gente tem muitas cores. o roberto, por exemplo, tem cor azul que é pra ficar no sol o dia inteiro. 

sábado, 18 de agosto de 2012

regina... regina...


quem de dentro de si não sai
vai morrer sem amar ninguém.
vinicius de moraes

pois, pois, pois bem, você vai escutar as contas que eu vou lhe fazer. está mais que certo que estou me abrindo toda. quando digo  toda, falo de todos os tecidos, os ossos, veias, músculos, artérias, do coração novo que acaba de nascer, de todos os dentes, a língua, a boca, o céu da boca. me abro inteira. estou fácil para quem me queira. é assim, não é? sem medo e com risco. estoy fácim, estoy aqui de carne e osso e algumas cicatrizes pelo corpo. desabrocho-me, desatarraxo-me, desapego-me... eu achava que tinha algo errado comigo. e tinha mesmo. é que eu sou toda pra dentro. e não quero ser tão bobinha e deixar os amores passarem por entre o tempo. o tempo já me roubou muitos amores, muitos desejos e sonhos. não vou deixar o tempo me devorar sem nada dizer. você pode até me devorar, mas prometo te devorar com a mesma intensidade e o mesmo carinho. 
despir-me do que aprendi
esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram
e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos
desencaixotar minhas emoções verdadeiras e ser eu,
não Alberto Caeiro

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

jogar-me toda para fora. revirar o de dentro para fora. mostrar o cru de dentro. abrir o baú da minha casa, derrubar todas as paredes, bases e edifícios. tudo. esvaziasse-se de mim para novos instantes. vinte e três anos e a casa ainda continua em construção.

maria, maria, maria assim três
vezes pois equivale toda beleza.


que dia de tempo diferente. e
tudo parecia sonho de nuvens.
o abraço longo, o murmurinho
que ecoou nos meus ouvidos,
a agitação da pele, da derme,
dos micro-músculos, dos sentires.
e foi tão pequeno e tão grande
ao mesmo tempo. tempo, você
me surpreende a cada curva, a
cada passar de tempo.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012


pra começar a semana bem, meow!

de tão precioso pra transbordar no mundo. vaiq dá mais flores do que espinhos dentro e fora de mim. tenho plantado uma semente por dia. amor pequeno. amor grande. amor silêncio. amor de todo gosto. é muito amor vaiq... sei não, mas somente com muito amor plantado na minha correte sanguínea pode aflorar de vez uma alegria elefante. gran elefantè.    

domingo, 12 de agosto de 2012

sábado, 11 de agosto de 2012

o corpo (habitação estranha):


apesar de viver no meu corpo,
tenho como hábito não o habitar
estranho este corpo, evito-o
(na verdade, maltrato-o como tudo que amo)
(por isso e por si só o poema
toma corpo e incorpora o medo de si mesmo)
confesso, constrangido,
que, às vezes, habito este corpo sim
mas moro num apartamento
(quatro paredes sem pele)
às vezes nos encontramos – eu e meu corpo –
e nos estranhamos
corpo – este objeto móvel, falante, tubo digestivo –
que me acompanha e que não ouço
a quem interessar possa, informo que
a partir da semana que vem
não morarei mais em mim
me mudarei para taguatinga

BEHR, Peregrino do estranho, p. 74.

mais para amar


Ryan McGinley e seu olhar poético. é muito amor. 

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

com um pensando de agora vai. um tantinho confiante, com uma sensação céu na boca. saborzinho de que é mais possível. e tudo nessa vida é possível. atravessar um mar de folhas secas, voar por entre flores e estrelas, por entre quadras e super quadras, bem no alto vendo um cerrado sobrenatural. eis aqui minha cara. tem cor, tem sangue, tem muita vida. ás vezes da muito medo sim senhor, mas sou filha do vento. e vou. eu vento. e quando vi, já me perdi, já me achei, já me perdi dez mil vezes por segundo. é um tanto de tudo todo dia. é uma pedra no sapato, é um beijo no estômago, é sopro entre os dentes, é suor de tanto correr, é febre, é grito, é gente. é muita gente. é muita gente por dia. é canto. é água. é conta. é silêncio. é choro. é tristeza. é alegria. é vida turbulenta. é medo... é eu, sou eu, somos nós. é respiro. é inspir a ç ã o. opa, um zilhão de batimentos por segundo.  e logo logo bate outro vento, e outro, e outro, e mais outro... não pára, nunca pára. se pára não existe. morte é movimento pra vida... hoje descobri um caminho lento nas barbatanas de um visionário. ele é cabra sabido e astuto. me disse assim no cantinho do pé do ouvido que não tem resposta não. não tem jeito não menina. tem que viver mesmo. tem que se arriscar, botar o bloco na rua. seja como for eu estou de partida. estou indo ventar porque meu corpo batuca, dança... se alegra mais do que se entristece. 

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

um tanto incrível, um tanto mulher, um tanto tudo.

se deus existe no mais íntimo de mim, ele esqueceu de mim e de bilhões. esqueceu de avisar que a vida aqui é concreto no asfalto vulcânico. uma roda viva gigante. se ele existe, foi o primeiro a jogar a pedra. se ele existe, é o primeiro esperto ao contrario. maldito mundo de espertos ao contrario. maldito sistema que gira e atropela um bilhão de gente por dia. maldito dia em que nem se distrair faz alguma diferença. maldito mês sem dinheiro no bolso, sem expectativa. maldito dinheiro que sou obrigada a ter pra viver. onde se ganha oportunidade de ter uma vida mais digna e menos miserável? em que lugar a miséria não existe? em que lugar dentro de mim ainda é esperança de que um dia tudo vai mudar? em que lugar nessa vida posso ter uma passagem livre para igualdade? em que lugar eu posso transitar sem ter que pagar? em que lugar não existem taxas, abusos, estupros, violências, espertezas? deus não avisa te lança na roda viva... e pra quem eu posso endereçar essa carta de indignação? aos meus pais pelo descuido de ter me feito?... eu preciso dizer... dizer que quero rescindir esse contrato de vida absurda severina.  não aceito mais tanta miséria ao meu redor. não aceito tanta ignorância engendrada em nossas entranhas. não aceito mais ser usada e vendida. não aceito mais tanta dureza... eu não casei com o diabo. 

carta para Ofélia endereçada com atraso colossal.
tal carta se encontra na sua caixa de entrada.

moi aussi

quinta-feira, 2 de agosto de 2012


"entra pra ver, mas tira o sapato pra entrar. cuidado que eu mudei de lugar." 
estava eu sentada de baixo de uma escada lendo um texto e pensando como eu iria fazer um presente precioso pra você. pensando nessa sua ideia de vinte e um dias de comemoração. foi ai que eu olhei para alto e na parede de concreto  vi um bote salva vidas. me deu gelo na barriga. fiquei pensando horas se eu teria coragem de pegar o bote laranja. arquitetei algumas estratégias pra não ser pega. e se fosse pega também já tinha algumas estratégias na manga. fiquei com muito medo. muito. e a consciência? ela não dá pra enganar. 
"Tem que correr, correr
Tem que se adaptar
Tem tanta conta e não tem grana pra pagar
Tem tanta gente sem saber como é que vai
Priorizar
Se comportar
Ter que manter a vida mesmo sem ter um lugar
Daqui pra frente o tempo vai poder dizer
Se é na cidade que você tem que viver
Para inventar família, inventar um lar
Ter ou não ter
Ter ou não ter
Ter ou não ter
O tempo todo livre pra você..."