quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Carta 3


Meu amado,
Esta manhã recebi sua carta, após muitos dias de espera. Senti tamanha alegria que comecei a chorar antes mesmo de lê-la. Meu menino, eu realmente não deveria reclamar de nada do que me acontece na vida, desde que você me ame e eu o ame. Este amor é tão real e belo que me faz esquecer todas as minhas lamurias; faz-me esquecer até á distancia. Através de suas palavras, sinto-me tão perto de você que chego a sentir seu sorriso, tão limpo e franco, que só você tem. Estou contando os dias para sua volta. Mais um mês! Então, estaremos juntos de novo...
Perdi peso por causa de meu descuido. Quando você voltar, você vai soprar uma vez e... lá irei eu voando para a rua! Escute, minha criança, não beije ninguém enquanto estiver por ai. Não leve ninguém mais a sua cama. Ela pertence exclusivamente a você e a mim. Não beije ninguém no sofá do seu escritório. Não faça amor com ninguém, se puder evitar. Só o faça se encontrar a “Merlin Monroe”, mas não se apaixone.
Seu pescoço tem incomodado muito? Estou mandando milhões de beijos para seu pescoço, para que ele se sinta melhor, e toda a ternura e todas as minha caricias para seu corpo, da cabeça aos pés. Beijo cada centímetro seu á distancia

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Clara

Meus sapatinhos de criança já não fazem o mesmo efeito nos meus pés grandes.
Meu vestido vermelho de rendas já não me veste da mesma maneira.
A casa pequena já não me suporta.
Os choros!
Esses são poucos.
Aperto.
Mas, não saem como rios.
Não olho mais para as nuvens.
Elas não formam...
Formas.
Cadê a Clara?
Dei para uma criança de olhos arregalados.
Bicicleta!
Roubaram minhas voltas no mundo.
Tardes longas.
Cadê você que era pequena?

domingo, 27 de dezembro de 2009

(Des)tempero


Ontem eu merecia todos aqueles gritos e sua raiva. Abrirão meus olhos. Não posso ser mais uma criança chorando por tudo que sai do meu controle. Ficar me fazendo de vitima me lamentando quando tudo dá errado. Ontem foi um dia de querer morrer pelo meu destempero. Ás vezes não consigo me controlar. Engraçado que antes de conhecer você eu fazia isso muito bem. Era extremamente dura com as pessoas e com os meus sentimentos pouco demonstrava fraqueza. Aprendi muito com você, aprendi a olhar a vida de outras maneiras mais objetivas. – “Sofrer menos! Seja mais objetiva, você não é mais uma criança de quinze anos de idade! Você é uma mulher de vinte, então, comporte-se com tal.” Não vou ser mais medíocre... A única coisa que peço a você é que não me trate com indiferença, por ontem, me comportei como uma descontrolada e idiota que sou. Foi tão difícil me aproximar de você, agora não sei se vou ter outra oportunidade de ficar perto de você.
Perdoe-me?

Enquanto

Olho cada rosto que passa por mim, cada cheiro que se aproxima antes mesmo de um alguém. Está tão frio. A chuva é tão serena e essa goteira do meu lado que insiste em cair cada vez mais. Parece um relógio marcando o tempo. Tempo que não sei. Tempo que chega a mim cada vez mais devagar. Passos apressados, sapatos, sandálias, pessoas baixas, altas num vai e vem. Muitas delas passaram por mim hoje e deixou um pouquinho do seu jeito de andar, o jeito de esperar bem ali perto do vagão. Uns tranqüilos, uns com um sorriso, outros batem os pés se remexem com descontrole que me pergunto por que tanta presa se aqui é um lugar de espera. Uns simplesmente dormem em cima de malas, em cima do ombro amigo como aquele que esta bem ali provavelmente sonhando. Gosto de esperar. Gosto de ficar aqui e observar, as coisas, as pessoas, seus olhares de alegria, de tédio, de ódio de esperar. Fico feliz que não estou parada no lugar errado. Estou parada agora no lugar certo de esperar. Eu deixo que as coisas simplesmente aconteçam. Até mesmo essa moça que passa por mim agora carregando esse pão doce. Parece ser tão bom daqui de longe. O cheiro é agradável. Procuro, espero, pergunto e não consigo encontrar um pão doce igual da mulher que passou por mim... Olha só que pés bonitos. Me chama atenção esse andar pra lá e pra cá quase que frenético. Eu acho que ele esta procurando algo. Que beleza peculiar. É porque seu nariz grande me chama a atenção. Não que eu ache feio, mas cabe tão bem com o formato quadrado de seu rosto. É bom olhar para ele, apesar da sua procura frenética. Mas, vai ser agora. Vou perguntar agora. – Você sabe que horas são? – Não tenho horas, mas você viu uma moça de vestido azul passar por aqui? – Não, eu não vi. (sai sem ouvir a resposta).

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Carta 2

Faz séculos que venho querendo lhe escrever, mas, como sempre, não sei por que fico tão confusa, por que não respondo ás cartas e não me porto como as pessoas decentes. Em sua última carta, notei que você já não gosta de mim como antes e, apesar de a culpa ser minha, não sabe como isso me deixa triste, porque, mesmo que eu não lhe escreva nada, continuo a amá-lo como sempre. Bem, criança, deixe-me agradecer-lhe por sua carta e por ser tão gentil e me perguntar como ando com nosso afastamento nada natural. Lamento não poder dar-lhe beijos calorosos ao amanhecer... Escute, menino, não me esqueço de sua pessoa que respeito profundamente. Mal posso enfrentar essa redação desta carta para você. Prefiro não dizer nada nem lhe dar nenhum tipo de desculpa, já que você não acreditaria mesmo e nenhuma de nós duas tiraria nada disso. O fato é que não lhe escrevi, portei-me como uma perfeita vaca, uma idiota avarenta e infame, etc. etc., e todas as coisas ruins que você possa pensar de mim são muito pouco pelo que mereço. Mas, se puder esquecer tudo por um momento, poderei lhe dizer-lhe nesta carta o que não lhe disse em nenhumas das outras. Se você quiser saber alguma coisa de minha vida peculiar, aqui vai: desde que você foi embora, tenho tido problemas com a falta de dinheiro. Além de minha falta de dinheiro, que infelizmente é o centro de meu infortúnio, algumas outras coisas mais ou menos desagradáveis têm-me acontecido. Dessas não vou lhe falar, já que são insignificantes. O resto, minha vida cotidiana etc., está exatamente do jeito que você já sabe, com exceção de todas as mudanças naturais decorrentes da lamentável situação atual do mundo. Que filosófico, que compreensão profunda! Bem, amor, espero que, por causa desta carta excepcional, você me queira pelo menos um pouquinho, e depois, pouco a pouco, possa me amar tanto quanto antes. Por que eu sou a mesma pessoa, apesar de ser má e idiota com você. Sou avoada quando se trata de responder cartas. Quero muito bem a você, como antes. Também te amo muito, portanto, não seja malvado comigo e retribua meu amor, escrevendo uma poderosa cartinha para encher de alegria meu já entristecido coração, que bate por você aqui com uma força maior do que você é capaz de imaginar. Escute só: TIQUE-TOQUE, tique-toque, tique-toque, tique-toque!!! A literatura é muito limitada quando se trata de representar plenamente os ruídos internos. Portanto, não é minha culpa se ele parece um relógio quebrado. Uma porção de beijos, abraços e todo o meu coração para você, e, se sobrar alguma coisa, guarde para quando eu estiver muito ausente. Sua amorosa e apatetada, (...)

Carta 1




Meu amado,
Por acaso vi uma certa carta, num certo casaco, pertencente a um certo homem, vinda de uma certa dama. Acho que deve ser a dama que te ronda pelas esquinas... que me deixou zangada e, para lhe dizer a verdade, enciumada.
Por que tenho que ser tão teimosa e obstinada, aponto de não compreender que os problemas com as saias, as modelos e as mulheres de passagens, são simplesmente piadas para você, e que, lá no fundo, você e eu nos amamos muito? Mesmo que vivenciamos aventuras intermináveis, rachaduras nas portas, a caso não estamos sempre sabendo que amamos um ao outro? Acho que o que está acontecendo é que sou meio estúpida e uma tola, porque todas essas coisas aconteceram e se repetiram nos sete anos que vivemos juntos. Toda essa raiva simplesmente me fez compreender melhor que eu o amo mais do que a minha própria pele, e que, embora você não me ame tanto assim, pelo menos me ama um pouquinho- não é? Se isto não for verdade, sempre terei a esperança de que possa ser, e isto me basta...
Ame-me um pouco.

momentos


Eu sorria. Nada mais. De repente, porém eu soube
Na profundeza de meu silencio
Que ele me seguia. Como minha sombra, leve sem culpa.
Na noite uma canção soluçou...
Ao fundo, o rio cintilava e escurecia, como
os momentos de minha.
Ele me seguia.
Acabei chorando, isolada,
Protegida por meu xale, encharcada por minhas lágrimas.