quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

só é grande quem chama o erro para dançar...

ERRA UMA VEZ

nunca cometo o mesmo erro
duas vezes
já cometo duas três
quatro cinco seis
até esse erro aprender
que só o erro tem vez.


Paulo Leminski

domingo, 17 de fevereiro de 2013

dois mil e treze tem sido um ano de muitos atravessamentos, mudanças, sofrimentos e também alegria. eu posso dizer o quer que seja, alguma neblina habita a minha órbita na terra, habita minha casa, habita minha família.

sim, eu estou cansada hà muito tempo, mas cultivo uma melancolia poética que me sustenta, me faz escrever, entender o vivido e o não-vivido. muita coisa eu não digo, e sinto que o melhor é assim, quando a falência dos sentidos é cada vez mais constante que até me esqueço de por um  ponto final aqui e começar outro parágrafo.

e o que importa se é ponto ou virgulo, vivemos num vício que nos come em prantos.
estou cansada do eterno mistério, do eterno vazio, do eterno vício da solidão, dos silêncios. muito de mim já não quer mais. vida sem sonhos, sem utopia, sem imaginação é uma guerra.

mudei de casa e mesmo assim me sinto cada vez mais vazia, muita mais cansada. sai de casa, mas um sentimento de que algo aconteça é iminente. medo de voltar pra casa e ver que não tenho mais irmãos. medo de que alguma bala furiosa os mate por engano, por descuido do acaso. tenho medo de não conseguir, tenho medo da impotência.

mas o que eu mais odeio nessa vida é a falta. é a falta em toda sua ganância que destrói a gente. é a expectativa, é a ilusão, é um monte de coisa que destrói, é a coisa comedores de homens.

pode até ser uma melancolia sem fim, mas é mais que isso. é o que nunca poderei dizer, é o que nunca vai sair de mim. e ponto e saber lidar com isso, pois é o vício é o nada que nos come todos os dias. minha mãe não sabe, mas eu sei que é melhor não se lamentar tanto. é melhor cultivar uma beleza nos caos.

minha mãe não sabe, mas eu sei. ela é cabeça dura. ela nunca entenderia as bobagem que eu escrevo. é forma de entendimento de mundo que me afasta da minha família, é ela também que me fez o que sou. por isso eu não desisto apesar da falência.

dois mil e treze também trouxe uma ruptura que mudou a minha família, eu não preciso dizer muito sobre isso. só dizer que a ruptura muda o olhar da gente.
detesto escrever com uma dor que parece ser a maior dos quatros cantos do mundo, detesto tudo isso, mas aqui é meu divã gratuito. minha dose de reflexão pra não morrer de tristeza. foda-se a escrotidão humana, o mau nos olhos. 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

conversa de botas batidas





Veja você, onde é que o barco foi desaguar
A gente só queria um amor
Deus parece às vezes se esquecer
Ai, não fala isso, por favor
Esse é só o começo do fim da nossa vida
Deixa chegar o sonho, prepara uma avenida
Que a gente vai passar

Veja você, quando é que tudo foi desabar
A gente corre pra se esconder
E se amar, se amar até o fim
Sem saber que o fim já vai chegar
Deixa o moço bater
Que eu cansei da nossa fuga
Já não vejo motivos
Pra um amor de tantas rugas
Não ter o seu lugar

Abre a janela agora
Deixa que o sol te veja
É só lembrar que o amor é tão maior
Que estamos sós no céu
Abre as cortinas pra mim
Que eu não me escondo de ninguém
O amor já desvendou nosso lugar
E agora está de bem

"Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão."

Deixa o moço bater
Que eu cansei da nossa fuga
Já não vejo motivos
Pra um amor de tantas rugas
Não ter o seu lugar

Diz, quem é maior que o amor?
Me abraça forte agora, que é chegada a nossa hora
Vem, vamos além
Vão dizer, que a vida é passageira
Sem lembrar que a nossa estrela vai cair


se tu não vir
pra cá amanhã
vai ter, meu bem.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

se eu não te conhecesse tanto me apaixonaria por você de novo. 
a teoria dos lados do menino maluquinho
de ventos nos pés, pernas grandes que
abraça o mundo de tão grande que é seu
coração de menino maluquinho.

"todo lado tem seu lado
eu sou o meu próprio lado
e posso viver ao lado
do seu lado, que era meu."

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013


disse alguém que há bem no coração
um salão onde o amor descansa
ai de mim, eu tão sozinho
vivo assim, sem esperança
a implorar alguém que não me quis
e feliz, bem feliz seria
coração meu, convém descansar
soluça, mas devagar

disse alguém, disse que há bem no coração
um salão, um salão dourado onde o amor sempre dança
ai de mim que só vivo tão sozinho
vivo assim, vivo sem ter um terno carinho
a implorar alguém que não me quis
e feliz então eu sei, bem sei que não mais seria
meu, meu coração tem esperança
e vive a chorar, soluçar
como quem tem medo de reclamar

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

os ninguéns

as pulgas sonham com comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico a sorte chova de repente, que chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chove ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.
os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada.
os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:
que não são, embora sejam.
que não falam idiomas, falam dialetos.
que não praticam religiões praticam superstições.
que não fazem arte, fazem artesanato.
que não são seres humanos, são recursos humanos.
que não tem cultura, têm folclore.
que não tem cara, têm braços. 
que não têm nome, têm números.
que não aparece na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local. 
os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.

os ninguéns, Eduardo Galeano / o livro dos abraços.