segunda-feira, 30 de julho de 2012

sábado, 28 de julho de 2012

trajetórias, percursos, caminhadas, deslocamentos... memórias, pedacinhos de memórias.

lindos de viver :*


Gonçalo M. Tavares, O homem ou é tonto ou é mulher


Às vezes tenho medo, muito medo.
Às vezes sofro.
Às vezes, penso nas pessoas que amo e penso na
possibilidade de as perder.
Às vezes vejo alguém doente e fico incomodado.
Pode não ser um amigo ou familiar.
Posso estar a vê-lo pela primeira vez.
Mas fico incomodado.
Aquela doença pertence-me.

Todas as doenças pertencem a toda a gente.
Todos os sofrimentos pertencem a toda a gente.
Todas as mortes pertencem um pouco a toda a gente.
Às vezes sinto isso muito,
outras vezes sinto menos.
Quando sinto menos posso preocupar-me com o mundo,
brincar com a poesia,
com a filosofia e com as palavras.
Mas quando sinto, deixo de conseguir pensar.
Quando sofro ou sinto o que alguém sofre, deixo mesmo
de querer ser inteligente.
Se estivermos cheios a sentir, não temos espaço para pensar.
Não fazem sentido as lógicas, as filosofias, as discussões.
Todo o nosso corpo sente.
E o que resta? Nada.
Só existe aquela morte, aquela doença, aquela velhice.
Só aquele pai que amo e está a envelhecer. Só aquela mãe
que amo e está a envelhecer.
Só aquele amigo que morreu num estúpido acidente.
Só aquele amigo que se tornou amargo
porque a mulher o deixou.
Só o amor e a falta de amor.
As mulheres que nos enganam e as mulheres que são enganadas,
as mulheres e os homens que enganam.
Os amigos que deixam de o ser,
alguns inimigos que morrem, e temos pena.
Que importa o resto?
Onde está o livro importante?
O filme que resolve?
Podemos chorar à frente de um quadro, mas não resolve nada.
Podemos pintar um quadro, escrever um poema, mostrar às
mulheres bonitas como somos bonitos, exibir o nosso corpo, mas que adianta?
Estamos sozinhos.
Se não estamos, vamos estar.
Os amigos vão-nos deixando, vão-nos deixar.
Vão morrer ou nós vamos morrer.
Ou então deixam de nos telefonar, ou então deixamos de lhes querer telefonar.
Estamos sozinhos. As pessoas que amo vão morrer.
Os livros não resolvem nada. A poesia é bonita e por vezes
descansa, acalma, mas não resolve nada, não resolve nada.
Somos artistas ou não somos, e qualquer coisa que seja não
adianta nada e nada impede.
Escrevemos poemas, mas não ajudam ninguém.
Escrevemos peças de teatro, sorrimos, tentamos pensar,
tentamos ter ideias, tentamos distrair as pessoas, tentamos
fazer pensar as pessoas, tentamos fazer chorar as pessoas, e
isso é bom, e até pode ser bonito, mas não adianta nada,
não resolve nada,
não adianta nada.

quinta-feira, 26 de julho de 2012


Ela ainda não sabe quem é… Ela se ocupa com seus barquinhos e com as suas desimportâncias. Talvez ela seja as coisas tão gratuitas que a distrai… Esses barquinhos um dia foi um lindo caderno que um amigo lhe deu. Ela não tinha coragem de escrever no caderno por achar que não tinha capacidade de escrever algo tão importante, foi então que resolveu fazer barquinhos de papel com o caderno. Assim ela viajou pra lugares bem distantes…
Um certo autismo a salva, eu e ela constatamos isso. Ela é salva por coisas tão gratuitas quanto à carta mais bonita que já recebeu sem ter sido escrito pra ela.  Assim como Santiago e Estamira quem sabe eles puderam suportar a melancolia de quem suspeita que as coisas aqui não fazem mesmo muito sentido.
Quem sabe ela veio de uma placenta de um morro verde amarelo do vento sul, ou quem sabe ela veio de todos os lados.
A cidade dela seria Bráxilia se não fosse Brasília. Mas ela a dama de concreto (Brasília) também é cidade… é ela que traz toda essa rica seca, esse cerrado absurdo, essas folhas das quais ela inventa e venta. Sutileza. Generosidade. Gratidão. Afeto.
A mãe dela reside nela, o pai dela reside nele.
Ela chegou naquele navio que navega e se perde a cada onda, a cada vento, a cada descuido, a cada destraimento, a cada momento, a cada instante...
Os marinheiros a puxaram pelo percurso louco da vida. Ela recebeu uma carta do acaso sem remetente dizendo que certos marujos iriam se reunir na grande odisséia do centro oeste. Lá foi ela brincar… se perder. 


já é um pedacinho de memória.





quarta-feira, 25 de julho de 2012


Estou numa odisséia há três dias com marinheiros desconhecidos que se tornaram conhecidos. Estamos (re)construindo pedacinhos de memórias, tecendo juntos uma odisséia... sendo generosos. 

segunda-feira, 23 de julho de 2012

só pra constar nos registros por aí

banana por quatro motivos:
primeiro, descobri recentemente que gosto da sensação do amarelo.
segundo, porque amarelo é a cor mais bonita que existe nem que seja só um pouquinho no canto de uma folha branca.
terceiro, descobri que banana é bom para curar cãibras, e eu tenho muitas delas.
quarto, o tempo da banana é diferente das outras frutas. tem um preparo antes, um desvelar, um descascar em estrelas. um tempo diferente, talvez as outras frutas tenham outros tempos diferentes. quero pensar depois no tempo da pitangueira,   deve ser tempo...

domingo, 22 de julho de 2012


tem um menino que eu não sei
o nome que diz que me conhece
que vem aqui em casa toda vez
que eu não estou. Tem um menino
mistério que bate na minha porta
toda vez que eu não me encontro.
ontem ele apareceu de novo.
ouvi minha mãe dizendo pra ele
que eu estava no banho.

Quando você é Tudo e quanto você é Tanto?

Tudo
Tanto
É.
Com sete reais no bolso se faz um samba solitário. E dos bons neguinho. Com direito a pastel de queijo e amendoim torrado. Essa coisa de ter e esperar não faz sentido, não do mesmo jeito de antes de não ter e esperar. Agora é só ir sem ficar. Partir e talvez olhar pra trás mandando um beijo da estação. Me permite bailar essa canção que faz muito bem ao coração. Que nessa vida se vive bem com as desimportâncias.   E como é encantador a pele de um jovem senhor invadir seu espaço para uma conversa sobre a vida. E como é rico o encontro com o um jovem de cênicas. O nome dele é simpatia e o sobrenome dele é sorriso. Conversas instantes. Momentos instantes que se vão. E aquela parte que perco o tempo na escada lendo um livro esperando o enotraparte acontecer. E aquela outra hora que me apaixono por uma bela hermosa guapa de cabelos negros de dança forte, que roubou meus pensamentos. Ai... É um momentinho imenso de além. Ou aquele outro encontro com a Márcia. Pensei que coisa mais gostosa abraçar uma alma tão imensa. O cabelo dela é tão grande e enrolado que me envolveu.  Com sete reais no bolso pode-se ganhar o mundo sozinho. Até a volta pra casa ter morrido sete vezes e ter ressuscitado outras setes, foi um transbordo neguinho. Sambinha bom. 
vontade de abraço de elefante com duração de uma gest(a)ção.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

quinta-feira, 19 de julho de 2012


Pensei em fugir pra onde não conheço e não sinto nada. Peguei o ônibus e fui sabe se lá pra onde. L2 à frente... aquela reta toda me matou... Não cheguei muito longe. A estação final foi o mais o além que consegui ir hoje. Andei nas superquadras sem destino pra ver se supera o vazio que senti nessa tarde escura, pra ver se superava a invisibilidade que sou. Talvez eu seja boba demais e preciso ser mais forte. Preciso pedir ao vento  mais sorte e aprender a ventar. 


Geometria inflexível,
determina o espaço.
E o estrago está contido,
noves fora eu não sou nada não.

Passarinho colorido
bateu asa e foi embora.
Se eu pudesse ia contigo,
mas eu sei que não é por bem
deixar quem se tem.

Um certo autismo me salva.

Um certo autismo me salva.

Vindo de longe,
descendo bem alto.
De peito aberto,
consciente da missão.
Eu tô num processo
que precede a vida.
No infinito o mar,
brilhos na escuridão.
Arte: Renato Moll
Texto: Mombojó

Talvez eu seja pequena
Lhe cause tanto problema,
Que já não lhe cabe me cuidar.
Talvez eu deva ser forte,
Pedir ao mar por mais sorte
E aprender a navegar.

ela é um transbordo
transborda a liberté
do corpo, do corpo
deixa cair o véu
que cobre a pele
revela a superfície
profunda do mar
encanto de menina
sereia que encandeia
amizade que acolhe
abraça em liberté.
gratidão y carinho
amor!

Divinare


"A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um
sabiá
Mas não pode medir seus encantos.
A ciência não pode calcular quantos cavalos de força
Existem
Nos encantos de um sabiá.
Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar: divinare.
Os sabiás divinam".

quarta-feira, 18 de julho de 2012



Tem o eterno, tem o infinito, tem o além, tem o além dos aléns. O além dos aléns vocês ainda não viram. Cientista nenhum ainda viu o além dos aléns.
O além dos além é um transbordo. Você sabe o que é um transbordo?
Bem... tudo que enche transborda...
Estamira é beira, é o além do além do além dos aléns. É muito em transbordo, verdade, revelação. Esta aqui está ali está no céu está no inferno está cá está em tudo está em você. O trocadilho esconde, mas Estamira revela, mostra. AHHHHHHHHHHHHHH!

Com gratidão a Estamira por transbordar a verdade.
Com gratidão a Dani Barros por transbordar essa mulher no palco.

terça-feira, 17 de julho de 2012


enquanto ainda experimentação. 
só ás vezes e quando muito quase sempre. eu diria eternamente a ela, mas não. passou. clareou um tantinho de vento em mim. um sopro daqueles que samba dentro e faz muito. uma sutil natureza que permeia a pele. brota beleza, leveza, sorrisos, sonhos, o além. eu diria que sereia é ela com o canto do mar. me conta um segredo? eu tenho vários escondidos lá no céu onde costumo me perder toda vez que danço um vento. eu diria que não, mas quem disse que não? sou apaixonada, sou transpassada, sou trespassada, tripartida, sou vento. quem disse que não? se havia lua não me lembro. mil estrelas despertadas abrocham agora. dor. prazer. fuga. medo. amor. sim. não. partida. chegada. alegria. abandono. palavras. tempo. dança. goiaba. vento. vida. morte. rima. ritmo. música. amarelo. samba. vermelho. azul. todas as cores que houver nessa vida. grito.... sou assim, sou nada. em minha pele os sentimentos faíscam rompendo outros mundos... meu deus o orvalho das flores tecelãs. frestas. eu diria: o cerrado acolhe. e quando muito eu diria a ela que a dança margeia o rio em queda. que jardim imenso a vida pode ser. tantas flores... tantos caminhos escuros... espalhados entre espinhos... que canteiro! eu diria a ela que meu umbigo mora na placenta verde de vários morros. 

sábado, 14 de julho de 2012

sábado, 7 de julho de 2012

ela é acibálissonom.

buriti, tu
parece tatu.
amarelo doce
na minha boca.
tierra bendita,
tierra linda!

Noite I


a noite devorou o tempo
a lua embaraçada sem tino
se escondeu atrás do pé de jatobá
hoje quem é cheia é a noite que se
encontra dentro dos  meus sonhos.



das impermanências


quem amassa o pão não é o diabo, meu caro amigo.
quem põe o pão na mesa não é o diabo, meu tenro amigo.
quem dá o preço e colhe mentiras não é o diabo, meu doce amigo.
quem escolhe e se nutre de ilusões não é o diabo, meu sofrível amigo.
quem julga, mente, mata, tortura e contradiz não é o diabo.
e não por fim meu caro amigo, bebemos em brinde a nossa vã existência.
um brinde ao que se amassa e não se percebe, meu tenro amigo!

Ya la sabe, no?

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Voa, voa, voa, voa


Não não não, sim sim sim sim, mas porém contudo todavia no entanto outrossim.



Retificando a proeminência:
A Lua estava cheia.
E quer saber?
Eu também.
E tudo e nada tem seu fim
Foi preciso ser assim
Tudo tem que ter um fim
Em doses homeopáticas
Ou em doses letais
E que saber?
O efeito complexou
Ainda mais o complexo
O invisível, o não-dito, o não-lugar
C’est La vie
Revelação, transmutação, nudez
Nudez é toque tátil de si
Sem compromisso, sem espera
Bastou no fim me cumprir
Renasci em mim
 “Toda eixosa
Cheia de L2”
Naquela noite
Sonhei três mil vezes
Dentro de muitos sonhos
Desejos
E quer saber?
A Lua naquela noite
Mostrou-se ínfima
E muito pouco generosa
Já dizia Ranieri
Inspirado em Leminski:
“Alguém tem que fazer alguma
Coisa com a Lua
Aquela coisa imensa, redonda
Aquela coisa branca enorme
Donde vem todo o frio
Que faz a madeira das casas estalarem,
Malassobradas
Então os cachorros latem mais”
Retificando a evidência:
Eu sou cachorra
Mas não sou burra
E apesar da obviedade
Repetitiva e monótona
Tudo é muito aparente
C’est La vie





quinta-feira, 5 de julho de 2012

é vida que se vive e morre um tanto por dia.


Um brinde à revelação
Um brinde à nudez de si
Um brinde à nossa coragem
Um brinde à mudança
Um brinde à morte
Um brinde ao que já sou
Depois da grande tormenta.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Transcrito, Pós-escrito e Edificante.



Ao fim da história a filha caçula pergunta.
- A vida não é uma decepção?
Sua cunhada responde com um sorriso franco e generoso. 
- Sim, ela é. 
Acho que é uma resposta que Santiago compreenderia. Enquanto viveu ele se ocupou com seus nobres e suas castanholas. Foi salvo por coisas tão gratuitas quanto à dança no parque de que gostava tanto. Com elas quem sabe pode suportar a melancolia de quem suspeita que as coisas não fazem mesmo muito sentido. 

terça-feira, 3 de julho de 2012


"...Gaivota, te amo e gaivotaria sempre em ti
Gaivotar seria poder te eleger para mim
Eu te quero, e se fosse o caso, quereria mais ainda
Ser, eu mesmo, gaivota sobre mim
Sobrevoar meus temores, meus amores
E alcançar o alto, alto, o mais alto dos teus sonhos
Dos teus sonhos de subir..."

C1, T2 e L5


segunda-feira, 2 de julho de 2012

coloquei o corpo no sol para ver se queimava as lembranças. e não é que funcionou por um leve instante. durou a passagem de uma concentração matinal. e no fundo, em vez de queimar as lembranças hospedas na memória, as danadas saíram todas douradinhas e bronzeadas.


a lua num mar azul de sutiliza
abre a noite serena.


se puder sem culpa
se puder sem medo.