segunda-feira, 31 de dezembro de 2012


O seu amor
Ame-o e deixe-o livre para amar
Livre para amar
Livre para amar

O seu amor
Ame-o e deixe-o ir aonde quiser
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser

O seu amor
Ame-o e deixe-o brincar
Ame-o e deixe-o correr
Ame-o e deixe-o cansar
Ame-o e deixe-o dormir em paz

O seu amor
Ame-o e deixe-o ser o que ele é
Ser o que ele é

domingo, 30 de dezembro de 2012

"Acho que gosto mesmo de ser capricorniana, filha do tempo, diz a lenda que o tempo é gentil com a gente. Nasce velha e rejuvenesce  Cada ano que passa me sinto com mais talento pra alegria e paz de espírito. Talvez um pouco menos eufórica do que aos 20, mas também com angústias menos intensas, menos capazes de destruir o mundo."

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

run, boy, run


Run Boy Run
Run, boy, run
This world is not made for you
Run, boy, run
They're trying to catch you
Run, boy, run
Running is a victory
Run, boy, run
Beauty lies behind the hills

Run, boy, run
The sun will be guiding you
Run, boy, run
They're dying to stop you
Run, boy, run
This race is a prophecy
Run, boy, run
Break out from society

Tomorrow is another day
And you won't have to hide away
You'll be a man, boy !
But for now it's time to run,
it's time to run

Run, boy, run
This ride is a journey to
Run, boy, run
The secret inside of you
Run, boy, run
This race is a prophecy
Run, boy, run
And disappear in the trees

Tomorrow is another day
And when he night fades away
You'll be a Man, boy
But for now it's time to run,
It's time to run

Tomorrow is another day
And when he night fades away
You'll be a Man, boy
But for now it's time to run,
It's time to run

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

garatuja

sem exercício sonístico, uma dor de cabeça globo ocular solstício. um espaço dentro do tempo, pessoas aleatórias, algumas crianças. duas crianças, quatro crianças contando com a gente. um voz, um sorriso solstício. de repente um selo molhado, eu paro. todos dançando juntos como se fosse a última dança de seus corpos, eu não me contenho de céu na boca. sigo dançando a última dança de todas as estações e te encontro no acaso que a vida pede. é tanto riso que chega a brotar flores no estômago. 
o meu lábio não diz, o meu gesto não faz. 

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

sábado, 22 de dezembro de 2012

"amava e compreendia
cada vez mais as pessoas
e cada vez mais, no entanto,
percebia que devia isolar-se delas."

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

no sol de dezembro
eu quero seguir vivendo
por que não, por que não
por que não, por que não
não ter um amor.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

risomamos, ridentes para esrir!


Ride, ridentes!
Derride, derridentes!
Risonhai aos risos, rimente risandai!
Derride sorrimente!
Risos sobrerrisos - risadas de sorrideiros risores!
Hílare esrir, risos de sobrerridores riseiros!
Sorrisonhos, risonhos,
Sorride, ridiculai, risando, risantes,
Hilariando, riando,
Ride, ridentes!
Derride, derridentes!

a encantação pelo riso, Velimir Khlébnikov - 1910.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

aprender novamente a andar
a me mover de um lugar para outro.

Balayés mes amours,
avec leurs trémolos.
Balayés pour toujours
je repars à zéro...



Se todo alguém que ama
Ama pra ser correspondido
Se todo alguém que eu amo
É como amar a lua inacessível
É que eu não amo ninguém
Não amo ninguém
Eu não amo ninguém, parece incrível
Não amo ninguém
E é só amor que eu respiro
“todo mundo, em todos os instantes da vida, tem de sentir alguma coisa.”  nesse instante quero não sentir.

quando a maré encher

vou criar uma farsa essa noite:
eu sou a cássia eller
vou tomar um banho de sal
quando a maré encher.

eu nasci de perna bamba e minha escrita escorre suor

porra, o word me boicotando. eu querendo escrever “antes de mais nada”, e ele me sugerindo “antes de qualquer coisa”. porra, eu querendo escrever tudo minúsculo, e o word insiste em colocar a primeira palavra em letra maiúsculo. antes de mais nada, vou pegar meu caderno e escrever tudo de letra bem miudinha, bem do jeito que eu gosto. e que tudo mais vá para o inferno. 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

pra ser subversivo queria eu não ser ser humano. queria eu não ter interesse sobre o outro. pra ser subversivo queria ver neguinho sambando em cima de si mesmo, queria ver não ser. pra ser subversivo queria eu ter nascido flor de sol que dar no inverno mais frio que dar no pé do ouvido de gente que tem fome de vida. pra ser subversivo queria eu ter bebido todos os vinhos do porto e ter ficado tão bêbada que diria tudo sem camadas. pra ser subversivo queria eu não ter nascido humana lascada, queria eu não estar aqui. pra ser subversivo eu bebo uma taça de vinho e vejo o mundo sem película, eu vejo o cu do mundo sem farsa, eu vejo a carne seca por cima do asfalto quente que somos, um bando de excremento que dar flor de sol por cima do abismo. pra ser subversiva queria eu não escrever nada e não ser entendida aqui nesse instante único entre eu a tecla do meu computador barulhento. queria eu ser subversiva ao extremo e mandar o mundo para a puta que o pariu na manjedoura de luz. pra ser subversivo só não sendo gente, ai, ai, ai, aiiiiiiiiiiiiii to sendo subversiva agora? pro cu do mundo eu também... 

maria geniosa

eu quero viajar a pé
eu quero andar a pé
eu quero voar a pé
eu quero amar a pé
eu quero comer a pé
eu quero cantar a pé
eu quero partir a pé
eu quero beijar a pé
eu quero ser sincera a pé
eu quero dormir a pé
eu quero criar essa farsa em pé sob a sombra do sol.

so I'm just gonna...


domingo, 9 de dezembro de 2012

choque anafiláctico


antes  doía não ter um amor. ai vem o tempo que tudo pode e é, e dilui o desejo. meu corpo abandonou o amor no passado, naquele passado em que o primeiro amor partiu pelo trilho da vida.
desde então, sou uma puta antiromântica social. uma mulher que no seu útero esconde amores platônicos. guarda amores que nunca existiram, senão na sessão intima projeção. 

Até parece máscara, ópera, víbora. Mas é só você.

sábado, 8 de dezembro de 2012

post quatrocentos de dezembro de dois mil e doze
vinte quatro é metade de quarenta e oito do futuro
trinta e dois, e já é nove de janeiro de dois mil e treze
ai, os vinte e quatro se aproximam rapidamente 
ai, é um passo para os vinte cinco 
que é metade de cinquenta 
que é metade de uma vida futura. 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012


O meu lábio não diz
O meu gesto não faz
Eu me sinto vazio
E ainda assim farto

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

bem vinda seja.


vida que cai em mim
bem vinda seja
nessa tarde que passa mansa
e despreocupada comigo

morte que cai bem
vinde em mim agora que sou
despreocupada comigo

essa tarde dourada que traz
felicidade pras pessoas normais
não me mente mais
essa tarde que esquenta minha barriga
por baixo da blusa preta
e meu umbigo envolvido nesse calor
se faz de morto
não sente nada
só vazio.
M: como é o não movimento?
C: a morte
   da carne
M: não dá pra ser 
     a morte da carne 
     também se movimenta 
     vira pó, terra, flores...
     me parece que o não movimento não existe.
C: é
     aaaaaaaaaaai
     que movimento: clausura.

minha irresponsabilidade é exercitar a irresponsabilidade.

em tempo de desistir de tudo
de não correr mais.



quarta-feira, 21 de novembro de 2012

durmo tarde
acordo cedo
lascada sou.

com todo amor aos olhares de instante-súbito.

era seis e pouco da tarde. eu no ônibus de volta pra casa comendo biscoito de água e sal. olhava pela janela como quem procura algo que não se sabe, não se pensa. alguém solicitou o ônibus, ele para. eu paro meu olhar num menino na parada de ônibus esperando seu ônibus. como quem não quer nada ele me manda beijos tão sinceros e gratuitos, que retribuo com um sorriso. ele ri volta e me pede um biscoito de água e sal. e antes do ônibus partir, pela janela no ônibus lhe dou meu biscoito de água e sal e muito amor.  ele diz obrigado e parto pelo meu itinerário. 

ter um pé de bananeira em casa é um luxo.

CLOROFEELINGS

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Saturday 17th in Brasilia. Strong sun, the clouds, rain, crazy rain, lightning, thunder, and rainbow, sky gave us a lot of emotion and gift of nature...


domingo, 18 de novembro de 2012

corpos que fluem água para todos os lados


bem leve que é pra chamar a chuva. uma dança-chuva que toca todas as minhas memórias, tudo que sou e não sou. a minha dança é beira. é um sereno no céu, é um fogo na terra, é um vento velozzzz, um sol no mar, um rio no meu corpo. é um tanto e nada. é uma última dança, é muita gota de suor. é um toque de nuvem. é amor. minha dança é amor, eu sinto amor. 
obrigada aos deuses do infinito que trouxeram a chuva mais convidativa do dia de hoje, em que morremos 26 milhões de vezes. obrigada sol pelo fio que nos conectou. obrigada Carol pelo olhar mais beira e transbordo que já vi dançar. obrigada Atsushu por mostrar um caminho de flores, cerejeiras, magma, estações. obrigada Hiroko por cada som que irradiava nossa dança. obrigada Sabrina por ser o que é, e me inspirar. obrigada em especial a chuva que me fez tão feliz e solta, sorriso e pulos, abraços, beijos, cambalhotas, entrega, árvore...vento. tudo dez mil vezes por segundo. 



sexta-feira, 16 de novembro de 2012

um corpo de raízes profundas que sempre dança sua última dança.




dançar nas estações do ano sem pensar, ser uma flor na primavera que não pensa, e já é o bastante. receber e apreciar as flores no útero. flores. amarelas, vermelhas, roxas, brancas... dançar suas cores e morrer, ainda que a morte não exista por ser uma passagem tão fluida que se conecta intimamente com a vida. dançar, dançar, dançar, dançar, não é preciso dança quando se é. um corpo-água-flor-magma-árvore-de-cerejeira-folhas-vermelhas que caem no outono. no verão, a fase poderosa de todo ser de luz e escuridão que dança com larvas no seu útero. dança dos deuses: dor, morte, vida,  qualquer deus... ser um olhar de cristal que não foca e percebe o infinito a frente, dos lados, atrás das costas tem um infinito. eu me transformo num deus que dança, seja qual for o sentimento que irradia dentro de mim.  chega o outono, a beleza da morte. as flores vermelhas enrugadas pedem vida e morrem. morrer sendo abraçado pelo vento-água, lentamente até o encobrimento da terra que irradia vida. flor que envelhece, uma beleza oculta, e mesmo envelhecendo e morrendo ela continua abrindo-se para vida. dever ser por isso que a morte não existe. e esse é o presente da vida: a morte. somos um presente que alimenta a vida, um presente que sente tristeza e felicidade. ser, ser, ser, ser, ser, serestar... antes de começar a cair no chão, qual será meu último esforço? um animal sempre é 100% até não conseguir mais, e morre. quando se dança o tempo não existe, e isso não tem importância alguma. logo vem o inverno e a última dança se aproxima. 26 milhões de mortes para transformação. aprender a vida olhando a alma do outro. viver, envelhecer, e morrer até o último segundo olhando... cada morte é diferente e possui um olhar de cor e trilha única. a última dança é minha experiência, são minhas memórias tristes e felizes na transparência de um rio. e não pensando faço a minha melhor e ultima dança. qual seria a minha última forma? talvez nem seja essa. 

domingo, 11 de novembro de 2012

Sadness


"Sadness gives depth. Happiness gives height. Sadness gives roots. Happiness gives branches. Happiness is like a tree going into the sky, and sadness is like the roots going down into the womb of the earth. Both are needed, and the higher a tree goes, the deeper it goes, simultaneously. The bigger the tree, the bigger will be its roots. In fact, it is always in proportion. That's its balance."

"Tristeza dá profundidade. Felicidade dá altura. A tristeza são as raízes. A felicidade são os ramos. A felicidade é como os galhos da árvore que crescem em direção ao céu, e a tristeza é como as raízes descendo no ventre da terra. Ambos são necessários, e quanto maior a árvore é, mais fundo as raízes vão, simultaneamente. Quanto mais alta a árvore, mais profundas serão suas raízes. Na verdade, é sempre proporcional. Esse é o seu equilíbrio."

sábado, 10 de novembro de 2012

transparência de água

certos momentos me visto de um olhar de vidro,
capto um tempo louco dentro do tempo.
ou seria fora dele?

eu (in)vento
vejo um cabelo dançando com o vento. 
"uma chuva fina
em forma de confissão".

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

"ainda sou bem moça pra tanta tristeza..."
ele: pelo amor do pai, olhe essa lua!
ela: fui lá fora e não a vi, faz algum tempo que ela foge de mim.

mania  qu’eu tenho
que escorre pela sonbracelha
toca a boca seca
se estende aos olhos
ao corpo inteiro
das pontas dos pés ao céu-além
mania  qu’eu tenho
de amor, de abraço
mania  qu’eu tenho
de fugir e nunca mais voltar
mania  qu’eu tenho
de ficar triste
mania  qu’eu tenho
de ser repetitiva e monótona
mania  qu’eu tenho
de escrever em pausas
falar em pausas, pensar em pausas
amar em pausas
amar nos silêncios
mania  qu’eu tenho
de colecionar silêncios na irritabilidade dos músculos
mania  qu’eu tenho
de contração muscular e tônus exagerado
mania  qu’eu tenho
e não quero deixar de amar
mania  qu’eu tenho
mas hoje não vou replicar
mania  qu’eu tenho
de crises que se conectam as outras crises
um acumulado de sensações uma atrás da outra
uma atrás da outra, dos lados
em múltiplas dimensões
mania  qu’eu tenho
que eu disse que eu tinha
e que agora não sei se eu tenho
ou disse apenas para sanar uma lacuna
existente no ponto nevrálgico do não sei o que
que estou sentindo nesse instante que a lua
se encontra vermelha e escondida por entre nuvens
mania  qu’eu tenho
de sentir saudade, de acumular saudade
de esquecer que eu tenho saudade
até das mais tenras memórias perdidas
nos confins dos meu inconsciente
mania  qu’eu tenho
mania  qu’eu tenho
mania  qu’eu tenho
que não me deixa parar
e mesmo se eu quisesse agora
eu não poderia, eu ainda não sei de nada
mania  qu’eu tenho
e que se alastra pela fáscia
mania  qu’eu tenho
e eu sou assim, assim, assim
corpos que vou deixando pelos caminhos
pele morta, sangue...
como se eu fosse soltando excrementos a fora
como se eu fosse me acabando
e me salvando ao mesmo tempo
mania  qu’eu tenho
do tempo
agora do processo
dos meus processos
e como são inúmeros
mania  qu’eu tenho
e volto sempre para o mesmo lugar
mania  qu’eu tenho
do espaço
parece que o ponto nevrálgico seja o tempo-espaço.

sábado, 20 de outubro de 2012

"Adivinha-se uma alma através dessa forma indecisa"

entronização

[...]
CINCO
bailando no espaço,
vestido de nuvens,
engolindo o Sol e segurando a Lua,
as estrelas formam o meu cortejo.
SEIS
a criança nua é bela e nobre.
a flor vermelha floresce no céu.
que ironia ver o dançarino sem forma
bailar ao som da trombeta sem trombeteiro.
SETE
no palácio de rubis vermelhos
escutando o proferir da sílaba-semente,
é exultante assistir a dança da ilusão,
as sedutoras virgens dos fenômenos.
OITO
o guerreiro sem uma espada,
cavalgando um arco-íris,
ouve o riso inesgotável da alegria transcendental.
a serpente venenosa torna-se “amrita”.
NOVE
bebendo fogo, vestindo-se de água,
empunhando a clava do vento,
respirando terra,
sou o senhor dos três mundos.

estou de fora
estou entre
estou na beira
do rio
do sol
da noite
da lua.

um sopro d’água que flui ao semblante.


segunda-feira, 15 de outubro de 2012



eu tenho saudade de dançar. eu necessito dançar a cada instante que me chega. eu sinto tanto que faria uma dança para cada batimento do meu coração. ele bate bem calmo agora, deve ser por conta do chá verde. 
eu sinto que estou dançando agora escrevendo, vou até repetir a música. “…to meet him one day. maybe tuesday. will be my good news day…”.
tudo bem estar chovendo lá fora, eu estou aqui preparando um presente para a lua. estou costurando cada pedacinho de memória de nossa dança em marte, mardi. naquele espaço-tempo fora do tempo nossa terra foi vermelha. minha roupa ainda guarda uns poucos grãos desse tempo. 
nossa pele foi tocada pela chuva mais fina e doce de uma terça. dia de marte, nosso segredo. temos um segredo que dança. é tão precioso quanto a chuva que cai agora. 
agora é muito. já é. se não fosse noite agora seria um sol dentro de mim. eu gosto da noite que trás mistério, estrelas, você lá no alto. 
quase não estou conseguindo escrever. eu não paro de sorrir. essa música me deixa toda derretida. lembra aquela manteiga que comemos juntas. lembra? acabamos com o pote de manteiga.
eu vou ter que repetir de novo essa canção. queria que você conhecesse essa música. eu queria que você tivesse aqui nesse agora. eu dançaria com você.
como é difícil costurar memórias que não são só minhas. é uma missão quase impossível. mas estou aqui somente de brincadeira e sem compromisso. do jeito que sempre deveria ser, e agora é. 
o tempo se encarrega de tecer o que não posso costurar sozinha. 
a última coisa que quero escrever antes da música acabar, é que pensei muito em você nesses últimos três dias. pensei muito na sua vivacidade felina. eu fiquei feliz por pensar em você.
vou ter que ir agora. a chuva me chama lá fora. “someday he'll come along… maybe. I shall meet him sunday. maybe monday, maybe not. still I'm sure. to meet him one day. maybe tuesday.”.

às 18h e alguns minutos do dia de hoje, que foi
tanto dentro de mim. 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

sintomas

apaixonar-se três vezes por semana, outras semanas mais que outras. presságio, morrer de amor. recorda, desse tempo que rir. “recorda, também, estes dias bons, de amor fácil. recorda-os, sem amanhã. recorda-os, especialmente, nos teus dias de tristeza sem causa.”

segunda-feira, 8 de outubro de 2012


e o que fica no meio? e parte do que é todo? e sobre a fala cortada antes de ser toda dita para onde é que vai parar? onde mesmo foi parar aquela memória que eu tinha de quando... onde mesmo é fio? o fio não da navalha, mas o fio de vida que te conecta a outras vidas? de onde se percebe a beira com toda clareza da infância, quando o se jogar é sem medida e sem medo. que ponto é esse da coragem que a gente perde com o passar do tempo que se passa a todo tempo que é tempo? que palavra é mesmo aquela difícil que aprendi e não decorei, e anotei no caderno? onde foi parar meu caderno do ano de 1998? que tipo de traço eu tinha se hoje a freqüência é outra? quais eram as perguntas daquele tempo em que eu não imaginava que o mundo era tão grande? e o que é hoje? e o que é hoje que precisou de ontem? que terra foi aquela que eu pisei ontem e enchi a sola do meu tênis de história? que noite foi aquela de ontem que a noite era mais clara do que ela costuma ser? quem era você no domingo se terça  feira você parece ser outra? e o silêncio? ele que é inicio para algo. que coisas são essas que carregamos todos os dias? um amontoado de coisas. posso partir agora? posso colocar em prática aquele plano de fugir e nunca mais voltar? lembra que sempre eu digo que dessa vez e não da outra vez eu vou cortar o meu cabelo? pois, então, cheguei na nunca. me convenci nunca parar, e aqui estou, um pouco mais velha nos meus vintessauros anos. o que foi mesmo o inìcio se toda hora pode ser outro início? devo colocar uma pausa agora pra desafogar o pensamento? e se e eu não der crédito pra o “e se”? e se à meia-noite o sol raiar? e se uma chuva amarela de flores cair? e se eu convindá-la para dançar? e se ela ficar assim, assim como sempre fica comigo? e se eu mandar aquela carta escondida? lembrei. já lhe enviei a muito tempo. e o fim de um caminho? e os vários fins que teremos ao longo da vida? e se eu abrir a janela agora? e se eu recuperar a ossatura dos quinzessauros anos? e se eu parar agora? apenas será uma escrita sem fim que não teve um inicio lógico dentro de mim. 

domingo, 7 de outubro de 2012

o que já é

é isso
eu nasci pra isso
eu amo fazer isso
cada segundo
cada instante
cada improviso
cada tudo e tanto
assim sem saber
a próxima palavra
posso inventar
uma palavra agora
se eu quiser
posso inventar
um motivo que é
improviso
eu sou assim
você é assim
a vida é curta
pra gente não ser.


quero dizer que sim
se eu me permitir sem pestanejar
o mergulho vai ser profundo
mas quero uma profundeza leve
um rio, um instante, um além
quero me entregar
se eu me permitir sem pestanejar
você vai saber.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012


"quando o corpo falha forte, isso nos afasta tanto da infância. onde cair e levantar eram quase ao mesmo tempo."

Hoje tentei dar impulso pela lateral do pé esquerdo na impossibilidade da completude, não funcionou muito o impulso. A dor era grande, não tive equilíbrio. Somaram-se desequilíbrios, ainda bem que a arte de andar é cair – e se anda.

Da liberdade de errar, cair e levantar-me.


"Antes de me organizar, tenho que me desorganizar internamente. Para experimentar o primeiro e passageiro estado primário de liberdade. Da liberdade de errar, cair e levantar-me. 
Mas se eu esperar compreender para aceitar as coisas – nunca o ato de entrega se fará. Tenho que dar o mergulho de uma só vez, mergulho que abrange a compreensão e sobretudo a incompreensão. E quem sou eu para ousar pensar? Devo é entregar-me. Como se faz? Sei porém que só andando é que se sabe andar e – milagre – se anda. 
Eu, que fabrico o futuro como uma aranha diligente. E o melhor de mim é quando nada sei e fabrico não sei o quê.
Eis que de repente vejo que não sei nada." 


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

quase que por um triz
um fio de cabelo
um centímetro a mais
quase que por um triz
por um quase-nada
por um triz escapo
parece trava-línguas.

de vez em quando eu gosto de passar o tempo com você. você no meu colo, e eu vendo  o tempo que passou entre a gente. esse tempo que existe e aumenta o amor, eu gosto. eu gosto de ver seus espasmos musculares, eu gosto. é engraçado. eu gosto de ver seu sono. eu gosto quando você me chama pra dormir na sua casa. eu sempre faço planos pra ir, mas nunca vou. eu gosto de passar o tempo com você e nada fazer além de estar. lembrei disso quando eu cuidava do seu sono. olhei pro céu azul, senti o vento que batia no meu rosto e caiu uma lágrima de alegria. que coisa boba né? é amor!

sábado, 29 de setembro de 2012

"A vida inventa!
A gente principia as coisas, no não saber por que,
e desde aí perde o poder de continuação
- porque a vida é mutirão de todos
- por todos remexida e temperada."

(Grande sertão: veredas, Guimarães Rosa)

errata: trata-se do menino "plantando bananeira" e não do "menino com diabolô", que sequer aparece na publicação. 
fazia tempo
fazia tempo
fazia muito tempo
subiu numa árvore e
roubou uma manga verde
extra verde com leite quente
pra comer em casa
com sal e pimenta do reino
que mal tem?


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Quando a gente não quer a vida rodopia o nosso não-querer, e faz um querer-aparecer.  Danada que ela é, ontem me mostrou sobre o que é voltar para placenta viva de um espaço-tempo. Bem aqui dentro eu sou e me lanço no abismo. Consegue ver a imensidão que eu posso ser? Eu sou o tempo. Eu te escrevo com o corpo todo essa caligrafia improvisada no tempo. É porque ando harmônica com o instante-já-agora-aqui. Viu? Rio. Tudo isso agora parece um instante dançando enquanto relembro o passado. Eu fico toda apaixonada. É sério, ontem foi tanto, que morri dez mil vezes por segundo. Você viu? É isso! O tempo sou eu, e também é você. Sutil. Meu tempo é lento mesmo, é assim que eu sei ser, menos burocrática. Ai, você já sabe da história, me abro toda. Eu sou um espaço aberto. Nem sempre, mas estou praticando semanalmente essa possibilidade de abertura. Bem, quem sabe daqui pra frente vire uma rotina. Rotina das boas, não é? 

às vezes eu vou pra casa cheia de vida e não consigo dormir.





quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Sei o que estou fazendo aqui:estou improvisando.


[...] “Estou tão ampla. Sou coerente: meu cântico é profundo. Devagar. Mas crescendo. Está crescendo mais ainda. Se crescer muito vira lua cheia e silêncio, e fantasmagórico chão lunar. À espreita do tempo que para. O que te escrevo é sério. Vai virar duro objeto imperecível. O que vem é imprevisto. Para ser inutilmente sincera devo dizer que agora são” dez e trinta e três da noite improvisamento  (pág. 44).
[...] “Como reproduzir em palavras o gosto? O gosto é uno e as palavras são muitas. Quanto à música, depois de tocada para onde ela vai? Música só tem de concreto o instrumento. Bem atrás do pensamento tenho um fundo musical. Mas ainda mais atrás há o coração batendo. Assim o mais profundo pensamento é o coração batendo” (pág. 46).

Água Viva, Clarice Lispector. 


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Essa agudeza de viver faz a gente querer dançar, não é Elena?
E hoje eu nem quis mais estar por aqui, por alguns instantes antes de abrir meus olhos... 60 insinght por segundos, eu dancei por cima do muro da vida, dancei por cima do abismo. E você estava lá com seu vestido amarelo longo quase transparente... ainda ouço o piano que tocou, que acelerou e diminuiu a tristeza que sempre fui.
Ontem conheci a sensibilidade que se dança. "Elena se dança, leve, leve, suave, encanto de ave”, um pássaro que dançou com a lua antes de mim. E eu que sempre quis ter em minhas mãos a lua pra rodopiar com ela. Dançar com ela, tocar ela, beijá-la... abraçar ela...
Lembra quando eu subia no muro e queria me jogar de lá como se fosse um pássaro? Pois é, acho que fui além de mim na tentativa de me perder de mim.
Eu fecho os olhos e agora sinto a água que sempre fui.

domingo, 23 de setembro de 2012


tudo é sorriso
distraindo o tempo
posto na janela
a menina pula
a menina é o vento
tá em movimento
o olho na estrada
a menina vaga
o pensamento corre
pela saia
a boca molha
a pele lambe.

sábado, 22 de setembro de 2012

passarinho, um carinho.


Eu sinto que algo diferente... Não é só a chuva, não é só a primavera que se descortina lá fora... Percebo uma pele mais fina que se transforma a cada encontro. Ah, os encontros. Todos os encontros, todos os afetos que tateiam o espírito. 
Eu tenho sono, mas não vou dormir sem antes dizer que a pele dela é um convite, é um encontro, é um acontecimento tecido no instante... Instante pelo instante é abraçar o espaço-tempo, é lamber o céu que habita o corpo da gente.
Meu corpo tem fome de pele. Eu descobri que ele quer tatear o instante da pele, quer varrer, escorrer, imbricar, liquefazer, deslizar, contra-pesar, ceder, fluir... meu corpo quer lamber os instante-já! Esse burburinho que comove os músculos, os sentidos, o útero, os seios. Meus seios querem encontrar outros instantes, quer sentir os batimentos... a disritmia. 
Eu tenho sono, mas quero dizer que existe uma pele. Existe uma pele, uma pele... pele... a pele dela é um convite. É um encontro. É um acontecimento. Já disse isso né? Provavelmente sim, considerando que a essa altura do sono não tenho mais tônus consciente... eu tou me perdendo e acho um bom caminho para me entender. E é bem fácil se expor, ainda bem que isso só me cumpre. Tudo bem. Eu estou deixando os meus segredos se perderem no vento...
O que está diferente é a pele! É a terra, é a água. 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012


É de imaginar bobagem
Quando a gente liga na televisão
Toda dor repousa na vontade
Todo amor encontra sempre a solidão

Todos os encontros todos os poemas
Manda me avisar
Manda me avisar

Todos os embates todos os dilemas
Manda me avisar
Manda me avisar
Eu sei
Todo ser humano
Pode ser um anjo

girinos, vestígios no rio.

eu quero tatear, imbricar na pele. eu quero serestar o instante. eu quero instante-ar cada afeto. ventar, ventar, ventar. transbordar amor, abraços. eu quero a leveza de um rio. a sutileza de uma barriga d'água.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012


Quando eu era criança eu pensava muito na morte, principalmente, na morte da minha mãe. Tenho alguns fleches dessa memória, eu no banho escovando os dentes, a água caindo na pia e do nada eu pensava: “quero que minha mãe morra”!

Na época eu achava que era coisa do demônio... me sentia tão mal por desejar algo tão fora do normal. Eu queria morrer por pensar assim... com o tempo fui amenizando a culpabilidade de tal sensação, pois mesmo rejeitando com todas as minhas forças o pensamento de morte, ela aparecia silenciosamente, subitamente por mais que eu lutasse contra.  E quanto mais eu a rejeitava, ela aparecia não importava a onde. No banheiro, no ônibus na volta para casa, lendo um livro, rezando... comendo, antes de dormir... eu rezava muito, pedia pra que deus tirasse aquilo de mim. Ele nunca fez isso...

Eu penso muito na morte. Muitas vezes não penso no como, não crio cenários, só penso na afirmação da morte de alguém. Tal pessoa irá morrer... e como um Deus todo poderoso eu lanço o dilúvio...
Mas com o tempo comecei a imaginar situações de morte. Um ônibus passando na ponte, ele cai. Eu tento salvar as pessoas inutilmente e morro afogada. Eu andando pela rua, um carro passa por cima de qualquer objeto, e esse objeto me atinge na cabeça.  Sangro até a morte.

De uns tempos pra cá comecei a aceitar de vez isso. Assumi com menos peso. Hoje penso que quando afirmo a morte é porque quero é afirmar a vida. Penso no contrário pra enganar a morte. Ai ela desvia seu percurso e desiste. Desiste de passar a mão em mim, desiste de passar as mãos na minha mãe quando ela tentar se matar com os seus remédios. Penso que dessa forma salvo minha mãe das suas tentativas afirmativas de morte... e afinal a gente morre um tanto de vez por dia sem saber... não tenho mais medo da morte, não tenho mais culpa. 

domingo, 16 de setembro de 2012

nessa vida eu quero transitar, mas também quero permanecer. nem que seja só por instantes. porque senão ás informações se dissolvem com o tempo e o corpo perde a experiência. eu preciso permanecer no instante, e assim quem sabe ventar. é assim que sei viver. é um permanecimento diluído  fragmentário soluto. não sei só transitar sem nada levar. nem que seja a dislexia que me assombra o esqueleto axial. tem que se estar para ir. senão não é verdadeiro, mesmo que verdadeiro seja um ponto de vista. e pontes de vista existem a cada curva de gente. e gente é mundo de gente todo dia.  
papéis, papéis, papéis... muitos deles jogando no chão. bonecas dilaceradas, encerradas, sem pernas, sem cabeças, sem um corpo por inteiro. ou já seria aquela desordem a inteireza de anne sexton? eu olhava pra aquele emaranhado de  falas rabiscadas, marcadas, cuspidas e senti uma euforia de súbito... o desconhecido me rondava como felino que é. 
quem seria anne sexton no palco? quem foi sexton? quem foi essa mulher e quem seria a outra a revivê-la nos palcos? não foi jessica cardoso que se encontrava sozinha em performance, lá e cá estavam duas mulheres completamente nuas de si. carne exposta em completo transparência de ossos, órgãos, seios, boca, músculos... pronta para chupar os pecíolo das flores. 
conheci duas mulheres no palco uma no passado, outra no passado presente instante-já  ser e estando. serestando. gozando por todos os buracos-poros do seu corpo negro e denso, voluptuoso. fragmentária, subversiva, lasciva, dionisíaca, mulher que beira, transborda... 
imagina se fossem mais que seis encontros. a transa seria outra, não é?. que venham mais transas e transbordamentos para você minha menina sexton! se é isso o que te toca! 


"Como se a água ficasse a um dedo da minha boca e todo o deserto à volta me segurasse..."

Hilda Hilst, 'Cantares de Perda e de Predileção' [1983]

sexta-feira, 14 de setembro de 2012


eu no rio flutuo
escorro por entre algas
eu no rio danço
a água me abraça.


de baixo das flores amarelas
tinha uma terra seca, vermelha
que cegou a gente numa dança torta
o cerrado me encerrou

calma, calma, calma
deixa molhar, deixar chegar
deixa cair, deixa chover
deixa nascer o percurso
deixa escorrer no chão os nossos vestígios
que nosso tempo está por vir

prepare a terra pra semear
jorre toda a água  pra brotar
que nosso tempo está por vir
segure nas minhas mãos
deixe brotar nosso vento...


Calma,
Deixa cair
Ara,
Tempo por vir
Prepara a terra
Dissolve a mágoa
Passeia sem pensar
Ouvindo a água
Calma,
Deixa cair
Ara,
Tempo por vir
Prepara a terra
Deixa molhar
Deixa abater
Deixa derramar
Pra que sofrer?
Pra chorar?
Pra semear:
Caindo do céu
Atravessa o ar
Escorre no chão
Pra brotar.
Manu Santos

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

que coisa doida que chega na gente na altura do estômago. faz a gente perder a noção de tempo. faz a gente perder o medo de ser e estar. ai a vida é danada de safada, vive passando sua mão mais que boba em mim. vive me jogando na cara uns contos tortos e sinuosos. semana passada ela chegou lá em casa dizendo pra eu desenca(r)nar. e olha que sem mais nem menos abri os bicos e segui suas ordens. ela é toda toda, vive me comendo toda. fazer o que se ela nasceu com a bunda virada pra lua. 

da menina que passou lá em casa e deixou um canto.


tudo é muito quando se é criança
ir embora é uma partida de seis meses
o choro é um rio que se transforma em mar
a voz embarga, fica pianinho
e quando se esquece tudo não passou de nada
a dor passou num segundo.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

quero uma caixa de lápis de cor de infinitas cores
para desenhar a menina que dança no rio
para descortinar o sorriso novo que quer chegar.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012




Trata-se do conflito entre duas necessidades: por um lado, a liberdade absoluta na abordagem, o reconhecimento do fato de que “tudo é possível”, e, por outro lado, o rigor e a disciplina que fazem com que “tudo” não seja “não importa o quê”. Como situar-se entre o “tudo é possível” e o “não importa o quê”? A disciplina, em si, pode ser quer negativa, quer positiva. Ela pode fechar todas as portas, negar a liberdade, ou ao contrário constituir o rigor indispensável para sair da lama do “não importa o quê”.
É por isto que não há receitas. Permanecer demasiado tempo na profundidade pode ser enfadonho. Permanecer demasiado tempo no superficial, torna-se banal. Devemos estar permanentemente em movimento.



BROOK, Peter. Le Diable cést lénnui, 1991, p.70. Tradução: Suzi Frankl Sperber.

COLLA, Anna Cristina . DA MINHA JANELA VEJO... relato de uma trajetória pessoas de pesquisa no Lume, 2003, p.39. 

eu nunca sei de nada, eu tô na estrada

é um caso solto. é um caso de deixar a pele livre e desimpedida, costas largas e peito aberto. um balancê que solta a partir do quadril. reverbera. transborda.  um sorriso desnudo. descompromissado. sincopado. é um pra lá e outra pra cá. dois pra lá e três-quatro-cinco-seis-sete-oito-vinte-e-três... pra cá. eu não ligo mais. agora eu sigo meu nariz. toda bamba.  

sobre aquele processo de desencanar-se
e aprender a navegar. 

terça-feira, 28 de agosto de 2012


Não quero que você me coma
Não quero que você me engula
Não quero que você me acorde
Não quero que você me durma
Não quero que você me assista
Não quero que você me assuma
Não quero que você me corte
Não quero que você me inclua

Eu só quero um segundo teu
E um segundo meu
Um instante de dois
Sem mais, nem pra depois eu te dizer
Que eu te amo não
Te amo demais para ser prisão
De dois
Amor

domingo, 26 de agosto de 2012

“Esta noite tudo pode acontecer... inclusive nada.”

(Pichação em muro de São José do Rio Preto (SP), 2002)
(Trecho retirado da tese de doutorado de Jardel Sander da Silva "Camelos também dançam. Movimento corporal e processos de subjetivação contemporâneos: um olhar através da dança").

sábado, 25 de agosto de 2012


um lenço verde sobre a grama
uma menina passou correndo com um ratinho na mão
outra passa toda colorida com um cachecol vermelho
do meu lado o lago e o por do sol laranja
e o silêncio da tarde cinza que é Brasília
na ponte de concreto passos largos de pessoas distantes
sábado sisudo varreu meu entardecer
cultivei alguns silêncios cinzas
até aparecer balões e um sapo
uma menina sem nome passou e plantou o mesmo sapo numa árvore
que parecia chegar nas nuvens dos seus olhos
outra moça morena fotografava e escondia o tempo no seu bolso
seu nome era Júlia
ela não disse, mas eu suspeitei
e tão delicada que era me emprestou sua máquina captadora de tempo
no lenço verde sobre a grama
enquadrei uma moça rosa que esperava sorridente
a moça que havia corrido com seu ratinho
o sol cansou-se da tarde e foi embora para outro pais
não deixou remetente, não disse adeus
mas deixou um amor flutuando no lago
era um balão amarelo que flutuava sobre água serena
depois apareceu outro balão rosa claro
e outros de outras tantas cores
que cabiam dentro dos meus olhos
e enfim a noite me acolheu