sexta-feira, 3 de setembro de 2010

...

Eu espero... Espero Miguel chegar. Ele vai chegar com o próximo trem, mais precisamente daqui a cinco minutos se não acontecer nenhum imprevisto com sua chegada. Você me permite falar um pouco de Miguel? Por favor, prometo ser breve. Mas, aviso que o farei com palavras as quais não me são familiares. Por isso serão precárias.

Amo tanto Miguel que não posso ser uma simples espectadora de sua vida, mas parte dela. Por isso, talvez exagere o que há de positivo em sua personalidade singular, tentando minimizar o que possa magoá-lo, ainda que remotamente.

Miguel é um menino grande, imenso, de rosto bondoso e olhar meio tristonho, cabelos quase que castanhos escuros puxando para um caramelo queimado, tão finos e delicados que parecem flutuar no ar. Seus olhos saltados, escuros, grandes e muito inteligentes, são como um mar profundo. Parecem olhos de sapo, mais separados entre si do que outros... Só muito raramente um sorriso irônico e doce, floração de sua imagem, desaparece de sua boca de lábios grossos. Sua pele é clara como algodão doce. Apenas seus pés e mãos são mais escuros, porque dourados pelo sol.

Seus ombros largos, arredondados, transformam-se em braços femininos, sem angulações, por fim chegando a mãos maravilhosas, pequenas e desenhadas. Elas são sensíveis e sutis.

Quanto a seu peito, eu diria que, é fortaleza de um guerreiro, mas ainda assim, possui uma delicadeza em seu busto. Sua virilidade estranha e peculiar também o torna desejável, para meu desgosto, confesso.

Sua barriga, macia e suave, é como uma esfera apoiada sobre suas pernas fortes e belas, semelhantes a pilastras. Estas terminam em pés grandes, que se abrem para fora num ângulo obtuso.

Ele dorme em posição fetal e, durante o dia, desloca-se com lentidão elegante, como se vivesse num meio líquido. Para a sensibilidade que se expressa em seus movimentos, é como se o ar fosse mais denso do que a água.

A forma de Miguel é de um monstro amado. Eu gostaria de tê-lo sempre em meus braços, como um bebê recém-nascido: eu, a sua substancia necessária.

Não descreverei a personalidade fantástica de Miguel, a quem respeito profundamente, dizendo tolices sobre sua vida. Ao contrario, gostaria de expressar o que ele realmente é. A personalidade singular de Miguel é tão vasta e complexa, que minhas observações talvez não sejam suficientes. Porém, há três direções ou linhas que considero básicas em seu perfil primeiro, ele é inabalável, dinâmico, extraordinariamente sensível e vital, com um conhecimento equiparável ao de poucos homens; é um fantástico entusiasta da vida e, ao mesmo tempo, esta sempre infeliz por não ter podido aprender mais. Segundo, ele é curioso. E terceiro, tem uma absoluta falta de preconceito.

Miguel é eternamente curioso e, ao mesmo tempo, um eterno conversador. Fala e discute tudo, absolutamente tudo. Sua conversa é sempre interessante. Ele diz frases que surpreendem- ás vezes magoam, outras, comovem. Suas palavras podem me deixar tremendamente embaraçada, porque são vivas e verdadeiras.

De minha atitude neste retrato de Miguel podem-se inferir muitas coisas, dependendo de quem as infira; mas minha verdade, a única que posso dar a respeito de Miguel, foram ditas nestas breves palavras... Cabe-me ainda, dizer que Euteamo Miguel como nunca amei. Euteamo quantas vezes for sentido e só nesse motivo é que te amarei. Mas, isso vou dizer a ele assim que ele cruzar o meu olhar, precisamente daqui cinco a minutos de acordo com meus cálculos, claro, contando com os possíveis atrasos do trem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário