sábado, 11 de agosto de 2012

o corpo (habitação estranha):


apesar de viver no meu corpo,
tenho como hábito não o habitar
estranho este corpo, evito-o
(na verdade, maltrato-o como tudo que amo)
(por isso e por si só o poema
toma corpo e incorpora o medo de si mesmo)
confesso, constrangido,
que, às vezes, habito este corpo sim
mas moro num apartamento
(quatro paredes sem pele)
às vezes nos encontramos – eu e meu corpo –
e nos estranhamos
corpo – este objeto móvel, falante, tubo digestivo –
que me acompanha e que não ouço
a quem interessar possa, informo que
a partir da semana que vem
não morarei mais em mim
me mudarei para taguatinga

BEHR, Peregrino do estranho, p. 74.

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