quinta-feira, 20 de setembro de 2012


Quando eu era criança eu pensava muito na morte, principalmente, na morte da minha mãe. Tenho alguns fleches dessa memória, eu no banho escovando os dentes, a água caindo na pia e do nada eu pensava: “quero que minha mãe morra”!

Na época eu achava que era coisa do demônio... me sentia tão mal por desejar algo tão fora do normal. Eu queria morrer por pensar assim... com o tempo fui amenizando a culpabilidade de tal sensação, pois mesmo rejeitando com todas as minhas forças o pensamento de morte, ela aparecia silenciosamente, subitamente por mais que eu lutasse contra.  E quanto mais eu a rejeitava, ela aparecia não importava a onde. No banheiro, no ônibus na volta para casa, lendo um livro, rezando... comendo, antes de dormir... eu rezava muito, pedia pra que deus tirasse aquilo de mim. Ele nunca fez isso...

Eu penso muito na morte. Muitas vezes não penso no como, não crio cenários, só penso na afirmação da morte de alguém. Tal pessoa irá morrer... e como um Deus todo poderoso eu lanço o dilúvio...
Mas com o tempo comecei a imaginar situações de morte. Um ônibus passando na ponte, ele cai. Eu tento salvar as pessoas inutilmente e morro afogada. Eu andando pela rua, um carro passa por cima de qualquer objeto, e esse objeto me atinge na cabeça.  Sangro até a morte.

De uns tempos pra cá comecei a aceitar de vez isso. Assumi com menos peso. Hoje penso que quando afirmo a morte é porque quero é afirmar a vida. Penso no contrário pra enganar a morte. Ai ela desvia seu percurso e desiste. Desiste de passar a mão em mim, desiste de passar as mãos na minha mãe quando ela tentar se matar com os seus remédios. Penso que dessa forma salvo minha mãe das suas tentativas afirmativas de morte... e afinal a gente morre um tanto de vez por dia sem saber... não tenho mais medo da morte, não tenho mais culpa. 

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